Minha grande agonia na quarta-feira foi saber que estava escalado para o podcast. Depois de um jogo horrível é preciso ter muita calma para que a emoção não domine a fala, trazendo consigo todos os merecidos palavrões.
Alguém me perguntou se eu estava feliz com a classificação. Respondi que a sensação exata era de alívio. É de se imaginar a Terceira Guerra Mundial nas Laranjeiras se acontecesse um desastre em São Luís. Mas não aconteceria por um simples motivo: o Moto Club, que merece todo o respeito mesmo, possui um time sofrível.
Fazer quatro gols e jogar pessimamente faz parte do futebol. Lembro de muitos anos atrás, nas Laranjeiras: não pude ir ao jogo e meu amigo Jorge Coroas me ligou. Perguntei da goleada, um 5 a 2 sobre o Santos. Disse-me “Não se iluda, o jogo foi uma merda”. Aprendi a lição. É claro que se classificar é melhor do que ser eliminado, mas a partida diante do Moto chegou em certos momentos a assustar os torcedores que ainda primam pela lucidez. Nenê se salva, mas sabemos que tem 38 anos e não vai conseguir manter seu ritmo alucinante por toda a temporada.
O problema do Fluminense vai muito, muito além de (muitas) más atuações nos últimos anos, pouco importando as classificações ou não nas competições. É uma conjuntura devastadora do ponto de vista administrativo-econômico somada a doses de empirismo, contratações para lá de duvidosas ou carnavalescas, uma panelinha para lá de escrota e um carnaval de palavras frouxas arremessadas ao vento, que levam do nada ao lugar nenhum. Em vez de se encarar a realidade para evitar uma catástrofe à frente, empurra-se com a barriga, joga-se frases de efeito para a torcida e a claque aplaude até cocô na própria cara. As pessoas com mínima exigência sobre a tradição do Fluminense já se encheram de vez da mesma ladainha que encarde o clube há quase uma década, disfarçada de “novo” Tricolor…
Não há dúvidas de que Odair está completamente perdido nas escalações. Entretanto, alguém já se perguntou se um treinador que levou o Internacional da série B a uma vaga na Libertadores é apenas um profissional perdido? Faz sentido? Não. Tem algo errado, né?
Futebol é momento e, se a coisa for ver organizada, é possível mudar de perspectiva em um mês. Muitos grandes times do Flu surgiram em momentos até inesperados. O problema é que hoje, olhando as coisas como estão, somente num delírio psicodélico alguém pode ser capaz de dizer que ganharemos grandes títulos nesta temporada (e ainda que eu sempre defenda jogar o Carioca a sério, a importância que resta está na Copa do Brasil e no Brasileirão).
Sem cometer covardias contra a atual direção, não vai dar mais para as velhas desculpas de sempre. Até este momento, o que conseguiram até aqui em quase nove meses foi fugir de (mais) um rebaixamento, uma figuração no Carioca e uma eliminação na primeira fase da Sudamericana. Comemorar classificação contra o Moto Club é mais patético do que a cena do abraço do Wellington Paulista, ainda mais do jeito que foi. Também não vale a eterna carochinha dos anos terríveis da década de 1990; afinal, o que vivemos hoje é caminhar para a oitava temporada consecutiva de limbo, com cinco lutas contra o rebaixamento nas costas, duas delas até a última rodada. E ninguém vai ter saco de encarar a sexta luta. Chega!
Terceirizar culpas tem sido a tônica das administrações tricolores nos últimos dez anos. É curioso ler entrevistas de todos os presidentes deste período: são todas muito parecidas. E se repetem. Acho graça quando em algumas delas, surge a sentença genérica de que “sites e blogs chutam informações, não conhecem a realidade e jogam a torcida contra o clube”. No que toca este PANORAMA, conclui-se que nenhum deles se deu ao trabalho sequer de ler a Wikipedia do próprio Fluminense, onde muitos dos articulistas desta casa lá figuram como titulares da bibliografia tricolor, sem um único centavo ou apoio qualquer do clube, ressalte-se. E, por mais que eu tenha merecidas restrições pessoais ao caráter de alguns integrantes da blogosfera tricolor, acredito que, se alguns deles tivessem sido agraciados com os cargos que tanto sonhavam nas Laranjeiras quando bajulavam candidatos à presidência, talvez o Fluminense estivesse numa situação menos pior do que a atual. Pelo menos desconfio de que muitos cabeças de bagre não teriam sido contratados. E qual foi o(a) blogueiro(a) que arruinou as finanças do Fluminense, alguém sabe dizer?
Outra conversa para boi dormir: “Quem quer ajudar o Fluminense que chegue às oito da manhã para trabalhar aqui”. Ora, nem funcionários muitíssimo bem remunerados (sem o devido retorno profissional) fazem isso, por que amadores fariam? Populismo oco que não agrega nada. Não adianta chegar às oito da manhã e montar um elenco cata-cata destrambelhado para a alegria da claque e de terceiros, vendido como se fosse a oitava maravilha do mundo.
É isso. Agora é torcer pelo returno (que parte da torcida ignora porque foi adestrada para só se importar com Libertadores e Sudamericana…), torcer por uma partida digna e vitoriosa no meio de semana pela Copa do Brasil, torcer para que em um mês tenhamos um time em condições de jogar o Brasileiro sem vexame, torcer que a minha coluna número 1.000 tenha pelo menos um motivo bom. Tudo pode mudar? Pode. Basta que se trabalhe para isso em vez de semear verborragia barata na internet.
Querem o apoio do torcedor? Ajam.
Me perdoem alguma falta de paciência, mas depois de 40 anos de Fluminense, 15 livros sobre o clube e quase mil colunas por aqui, o meu saco está pelo limite. Obrigado pela atenção.
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A passagem de Valdir Espinosa me entristeceu muito. Um dos caras mais bacanas do mundo do futebol, simpático, ético, humilde, vencedor de ponta a ponta. Merece todas as homenagens.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
#credibilidade
Perfeito Paulo, o quadro está se desenhando trágico. Precisamos de um Alcides Antunes, deixar as picuinhas políticas de lado. Futebol longe das Laranjeiras perdeu o DNA de bicho papão. Hj apenas disputados as últimas posições. S tc