O Fluminense foi eliminado.
Estou triste.
Acho que tem muita, mas muita coisa errada e não tenho esperanças de viver para mudar isso. E, no que pude, fiz minha contribuição pelo meu time. Pequenina, talvez insignificante, mas com todo carinho e dedicação.
Não falo pelo imediatismo do resultado, mas por outras coisas. Muitas. Elas têm a ver com hipocrisia, ganância, escrotidão, desapreço, desumanidade.
De toda forma continuo torcendo. É o que faço semanalmente desde criança. Desde muito tempo atrás, quando Horta era o rei. Quando meu pai estava aqui. Desde quando o mundo era ruim, mas bem menos pior do que agora.
Estou triste e cansado demais. Nunca estive tão cansado. Mas continuo torcendo. Desde o dia em que vi a foto de Félix no álbum de figurinhas eu era Fluminense.
Tenho vivido alguns dos piores dias da minha vida, mas continuo respirando. O Fluminense é o oxigênio, é o que me resta. É meu único bem.
Desde que atravessei as décadas, perdi todas as pessoas que me amavam, perdi meu bairro, meus poucos amigos sinceros, perdi minha alegria. Mas o Fluminense continuou.
Ele está aí, vivo. Maltratado, explorado, subvertido por infidelidades, mas continua vivo. E vai continuar.
Se eu ainda rezasse, meu Fluminense seria uma prece. Abdiquei disso, não creio nos homens nem no futuro, mas continuo torcendo.
Meu time é minha única chance. Por favor, compreendam.
Agora que a noite é turva e as horas serão longas, eu penso no Fluminense.
Minha mulher está dormindo e a vejo num escudo. Minha família, nunca mais.
Eu gosto do Fluminense. Ele é a chance de ser garoto por uma hora e meia, navegar por todos os abraços mortos, sonhar com cada pedaço de um estádio morto, ter a mão na mão de um pai que há muito não existe. É a única chance de não ser órfão.
Continuo torcendo.
Não tenho alternativas, nem gostaria.
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Num clube devastado, é claro que tudo é mais difícil de ser feito. Mas é bom que se diga: não houve surpresa para ninguém que está lá, até porque na verdade sempre estiveram.
É claro que ser eliminado na primeira fase de uma competição cata-cata, em que qualquer um joga, dói no peito. Mas também é o problema de lavagem cerebral que atingiu muitos torcedores, conselheiros e dirigentes: como fazem pouco caso de tudo que não seja Sudamericana e Libertadores, o resto fica insignificante e aí a pancada é maior.
O problema do Fluminense vai muito além da eliminação. Muito. É um problema de identidade, de empatia, de quem estar na situação achar que quem não lambe suas botas é inimigo, é o amadorismo trajado de personalité. É a arrogância, o pedantismo e, às vezes, a certeza da própria mediocridade.
Um problema longo, agravado nos últimos anos, mas que não começou agora nem ano passado. Afinal, lutar cinco vezes contra o rebaixamento em sete anos é a realidade tricolor.
Em vez de trocar ideias, trocam ofensas pela internet, o que jamais teriam coragem de fazer cara a cara. Quanta gente eu não vi nestes últimos anos se matando por causa de fanatismo para defender dirigentes? Por convicção e promessa de boquinha, muitas vezes não cumprida e que explica muita boquirrotagem por aí.
Para atender aos interesses políticos, a torcida da arquibancada foi pulverizada. Afinal, é de lá que saiam as manifestações em momentos ruins. Por isso, hoje, tem até gente que é contra o pó de arroz, acreditem.
Falsas promessas que ano após ano saem de bocas diferentes mas com o mesmo texto.
O Fluminense, que fez o futebol brasileiro ganhar o tamanho de pentacampeão mundial, é o mesmo clube onde ex-dirigentes (sem conhecimento da lei) sonham em destruir o estádio das Laranjeiras, não satisfeitos em terem destruído as contas do clube.
Em campo, somos uma soma de imediatismos, improvisações e empirismos. Não é por ontem não, gente: é o pacote. Se nada for feito, daqui a pouco o Fluminense completa dez anos sem ganhar nada relevante. E o discurso oficial continua arrotando um caviar que não existe.
Bom, Fred vem aí, com seus prós e contras. Mas que ninguém se iluda: ele terá o maior – e último – desafio de sua carreira: não destruir a própria idolatria construída com seus gols. E, por mais que sua qualidade de artilheiro prevaleça, isso não é garantia de boa campanha, vide 2015.
Por fim, minha consciência é tranquila: declarei meus votos, errei com eles, aprendi, mas nunca fui puxa-saco de dirigente ou candidato, nem aluguei minhas opiniões por promessa$. Durmo com a consciência tranquila. Nem todxs podem dizer isso.
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Fred vem aí. A qualquer momento.
É uma maneira de reparar sua saída equivocada em 2016. Ou de ter o canto do cisne do maior artilheiro tricolor dos últimos 60 anos, um fato inegável assim como também foi o camisa 9 que mais temporadas jogou pelo clube nos mesmos 60 anos, e que mais bateu pênaltis também.
É preciso ter lucidez no momento. E quem analisa não pode se dar a boquirrotagem barata.
Talvez Fred consiga fazer gols e alegrar a torcida. Tem qualidade técnica para isso, mas perdeu parte da mobilidade que já não era seu forte. Não estamos contratando o jogador de 2009 nem o de 2012, mas sim o de 2020.
Há quem o louve pelos vinte gols feitos ano passado. Exceto, talvez, os cruzeirenses que sentem na pele o rebaixamento. Fred foi o único culpado? É claro que não, mas estava lá e era a grande estrela da equipe celeste.
Para o marketing, será excelente. Resta saber o que virá do pacote completo. E hoje, ninguém pode prever o futuro, apenas praticar o achismo. Mas o tempo não poupa ninguém.
Estão rolando os dados.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
#credibilidade
O ocaso do Fluminense, um gigante que não resistiu a maldade da sua própria gente. A maior parte dos torcedores ainda não sabe, mas viramos um américa, sim, com letra minúscula. O nosso canto do cisne foi em 2012, não temos como ganhar mais alguma coisa, nem o carioquinha temos competência. De algum tempo para cá, ver os jogos do Flu, tornou-se um martírio, algo desagradável, entremeado de pequenos momentos, que dão esperança aos mais ingênuos. Restaram as lembranças de dias gloriosos. ST