A festa da Espanholização (por Marcelo Savioli)

Ainda que o momento do Fluminense seja de encontrar um caminho para sobreviver, primeiro, como instituição esportiva, segundo, como força competitiva, é impossível não olhar para fora dos muros das Laranjeiras e da Barra da Tijuca e analisar o que está acontecendo no futebol brasileiro.

Fechar os olhos seria o mesmo que nos omitirmos ante a grave situação que vem se desenhando, produto dos bem sucedidos esforços das Organizações Globo para espanholizar o futebol brasileiro, tendo como principal beneficiado o time do coração dos Marinho, que utilizam bem o império de comunicação para fazer valer seus interesses, que nem sempre são, como muitos acreditam, comerciais.

As primeiras denúncias de que a espanholização estava em curso datam de 2011, época em que as Organizações Globo comandaram o processo de implosão do Clube dos Treze, potencializando a lógica do cada um por si no futebol brasileiro.

Precisamos enfatizar aqui duas variáveis importantes nesse processo, que ajudaram a maquiar o êxito do projeto e até a comprometê-lo, no caso do Palmeiras.

O Santos, por razões aleatórias, embora não tenha conquistado um único título importante desde 2011, conseguiu fazer campanhas interessantes e, não fosse o Palmeiras, poderia ter disputado o título do Campeonato Brasileiro de 2016 com o Flamengo.

O que nós temos em vista, no entanto, é uma espanholização estendida, em que o Palmeiras aparece como indesejado terceiro protagonista, ao lado de Flamengo e Corinthians.

Vale lembrar que ninguém podia imaginar que o Palmeiras fosse dar o salto que deu, embalado pelo dinheiro da Crefisa e, principalmente, pelo grande projeto que incluiu a construção, sem custos para o clube, de sua arena e a estruturação de um ótimo projeto de sócio futebol.

Não fosse o Palmeiras, talvez tivéssemos há mais tempo a visão do sucesso, mesmo que parcial, do projeto das Organizações Globo. Tanto é assim que, não fosse o Palmeiras a ganhar os títulos de 2016 e 2018, o mais provável é que o campeão houvesse sido o Flamengo.

Teríamos, então, desde 2015, a seguinte sequência de campeões:

  • Corinthians em 2015
  • Flamengo ou Santos em 2016
  • Corinthians em 2017
  • Flamengo em 2018
  • Flamengo em 2019

Em outras palavras, o mundo encantado das Organizações Globo, mas, com a intromissão do Palmeiras, teremos:

  • Corinthians em 2015
  • Palmeiras em 2016
  • Corinthians em 2017
  • Palmeiras em 2018
  • Flamengo em 2019

Não é a espanholização nos moldes que as Organizações Globo queriam, mas não deixa de estar claro o êxito do projeto de espanholização do futebol brasileiro, só que com um protagonista a mais que o planejado.

É possível que o São Paulo, em algum momento, crie algum incômodo à nova hierarquização do futebol brasileiro, produzida artificialmente pelas Organizações Globo, às custas do financiamento dos clubes eleitos para serem os novos Barcelona e Real Madrid tupiniquins.

Nem vou entrar no mérito de que Flamengo e Corinthians nunca foram forças nacionais ou internacionais comparáveis ao que são Real e Barça, mas o fato é que ascenderão, para a eternidade, da condição de grifes secundárias do futebol brasileiro para grandes protagonistas, tudo isso com o silêncio cúmplice de dirigentes dos demais clubes, que precisam explicar tal conduta.

Não é meu propósito, pelo menos não por enquanto, apresentar uma solução para o grave problema que flagela o futebol brasileiro. O meu propósito é mostrar claramente que ele existe. Não é mais possível negar, e ainda que tentem atribuir tudo que está acontecendo a mirabolantes e mágicas gestões financeiras, sabemos bem que tudo que está acontecendo nada mais é que consequência da assistência financeira e econômica a um clube falido, de modo a fazê-lo se tornar potência econômica e esportiva em apenas quatro anos.

O que posso adiantar é que nada vai mudar se a reação não vier das arquibancadas e das ruas de todo o Brasil, daqueles que estão vendo seus clubes sendo assaltados por um sistema construído em cima de um jogo de cartas marcadas e nenhuma boa intenção.

***

Quanto ao Fluminense, não há muito o que dizer além do que já foi dito. O ingresso já está reservado para sábado. Espero que Marcão não incorra em novos erros na escalação.

O nosso time é aquele que enfrentou Vasco e São Paulo, agora sem Caio Henrique, que vai servir à Seleção Brasileira Sub-23. Para que serve isso? Para desfalcar o Fluminense em um jogo decisivo.

Por que desfalcar o Fluminense em um jogo decisivo? Naturalmente, pela mesma razão pela qual a arbitragem nos tirou mais de oito pontos no começo do campeonato. Pela mesma razão que fez o árbitro anular um gol ilegal do Inter no último domingo e depois, com interferência indevida do VAR, validá-lo, facilitando a vitória colorada sobre o nosso Fluminense.

Para um bom entendedor, pingo é letra.

Vamos ter que nos desdobrar para ajudar o Fluminense a escapar da tragédia que seria o rebaixamento. Por isso, todos ao Maracanã no sábado, inclusive os tricolores de Pequim, Seul, Cairo e Adis Abeba.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#credibilidade

8 Comments

  1. Outra alternativa seria ver o quanto a Globo aguenta em termos de pagamento de quotas. Este modelo dela, sem o apoio de propagandas do governo, não se segura por muito mais tempo.

    Além do mais, continuando as coisas como estão, há uma forte tendência de queda na audiência do futebol, de forma generalizada. Eu por exemplo cortei meu Ppv há tempos. A TV aberta já não assistia mesmo.

    Outro aspecto que a globo não contava era o Corinthians se encalacrar para efetuar os pagamentos da Arena…

    1. Logo logo aparece dinheiro na conta do Corinthians.

      Só não sei se o melhor caminho é cancelar o PPV, pois a Globo está se utilizando disso para justificar a maracutaia.

      ST

  2. Bom dia, Savioli !
    Eu tenho um assunto importante pra falar com você. Estou ligando da Paraíba (083). Talvez por não conhecer o número do meu celular, você não atendeu a ligação.
    Um abraço.

  3. Como sempre Cirúrgico: É preciso reagir a este verdadeiro estupro do futebol brasileiro.

    1. Rapaz, você usou o termo mais adequado. É um estupro, uma violação. As Organizações Globo criaram uma hierarquia forçada, contra a vontade da maioria.

      St

  4. Marcelo, concordo que existe uma interferência da mídia em favor de uma “espanholização” de nosso futebol. Considero inevitável, pois todo o combustível necessário para que isso aconteça, é fornecido pelos próprios clubes. Administrações caóticas dos rivais cariocas do Fla, desembolso perdulário dos rivais do Corinthians em SP, a derrocada financeira dos clubes mineiros e a administração corrupta do Inter no sul, são exemplos maiores do que ajuda esse processo. ST

    1. Pois é… ainda tem isso. Se falar no nosso Fluminense então…

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