Filme repetido sob nova direção no Flu (por Marcelo Savioli)

Talvez fosse suficiente deixar os leitores refletindo sobre o título de hoje, que, no meu entendimento, se basta na tarefa de descrever o atual momento.

Dentro e fora de campo, o Fluminense de hoje é um interminável Fluminense de 2015. A cada ano nos reinventamos, sinalizamos um ano diferente e o sonho vai se desfazendo a cada mal negócio, como a venda de Pedro.

A cada atualização dos valores envolvidos no  negócio nos damos conta de mais uma vendeta, mais um engodo, mais uma facada nas costas do Fluminense.

O jogo de ontem mostrou que temos um substituto à altura para Pedro, que é João Pedro, que também já está vendido, em um dos piores negócios já feitos em toda a história da espécie humana.

Em outras palavras, filme repetido sob nova direção. Foram-se Ibañez, Everaldo, Luciano, Bruno Silva e, como a cereja do bolo, o craque do time. Por 36 milhões mais 10% de uma futura transação.

E vão dizer para a gente que não tem outro jeito. E não vai ter nunca se o Fluminense continuar com essa política de enxugar gelo. Corremos, sim, o risco dessa política inviabilizar o clube no momento em que formos rebaixados para a Série B.

A perda em receitas de televisão para 2020 será, ao que parece, na faixa de R$ 85 milhões, somando TV aberta e PPV. Tomando como base de cálculo o faturamento do clube em 2018, dá aproximadamente 30% da receita.

Em outras palavras, perderemos mais de 2 vezes o que ganhamos com a venda de Pedro. Aliás, perderemos o equivalente, e mais um pouco, a todas as vendas de jogadores somadas em 2019.

Incluam nessa conta o que perdemos com bilheteria, sócio torcedor e patrocínios, teremos uma noção clara do quanto essa política é nefasta.

Apesar disso tudo, o jogo de ontem serviu para embaralhar nossas atormentadas mentes. Os primeiros dez minutos deram a impressão de que o futebol do Fluminense acabara de vez sob o comando de Osvaldo de Oliveira. O Fluminense errava passes em profusão e o Avaí praticamente dominava o jogo.

O pesadelo inicial durou pouco e veio a grande surpresa. De repente, não mais que de repente, o Fluminense tornou-se o Fluminense do Diniz. Passou a tocar bem a bola, amassar o Avaí em seu campo, envolvê-lo e criar um caminhão de oportunidades, todas devidamente desperdiçadas.

Veio o segundo tempo e o Fluminense já não era tão prenhe de imaginação. Na medida em que o tempo passava, as pernas pesavam e a construção das jogadas já não era mais a mesma.

Foi então que a nossa própria torcida decidiu dar início ao processo que nos levaria à derrota. A vaia sistemática a Paulo Henrique Ganso era tudo que o destino precisava para nos pregar mais uma peça.

Ganso atuava bem, distribuía o jogo e fazia o papel de sempre, dando liberdade a Nenê para atuar mais próximo ao ataque. Funcionara até ali, enquanto o time tinha paciência e movimentação. Só que a movimentação diminuía a cada minuto e a impaciência da arquibancada foi para o campo.

Sem ter as opções de passe à frente, Ganso passou a tentar esticar as bolas, pressionado pela torcida, começou a errar e dar contragolpes para o Avaí.

Osvaldo poderia ter substituído Ganso por Daniel, que o problema permaneceria o mesmo, já que o que nos atrapalhava era a perda de intensidade na movimentação ofensiva. Pelo menos, no entanto, não nos tornaríamos, ao mesmo tempo incapazes de articular o jogo no meio de campo e vulneráveis defensivamente.

A entrada de Caio trouxe-nos problemas novos, porque o Avaí percebeu o erro de Osvaldo e começou a se tornar mais agressivo. Aquela altura já estava nítido que o final do filme se repetiria.

Aliás, Osvaldo ainda tirou Wellington Nem, que era dos que mais buscava jogo, para colocar Marcos Paulo, que foi jogar do outro lado do campo, deixando o Fluminense ainda mais fácil de marcar.

E para completar o desastre, Osvaldo tirou João Pedro para colocar Lucão, que, em sua única intervenção, deu um peteleco para o goleiro adversário defender.

Como o castigo vem a cavalo, coube a Caio bater o martelo no último prego do caixão, cometendo um pênalti besta. Gol do Avaí e primeira vitória no Brasileiro.

Só faltou no jogo de ontem aquela tradicional garfada no Fluminense, embora saibamos que não haveria VAR se o pênalti tivesse sido a favor do Fluminense. E podemos dizer isso com propriedade, porque foi assim no Fluminense e CSA, que mudou a nossa história em 2019.

Então, o fato de ter havido acerto do VAR não muda o fato de que a sua participação apenas comprova que há manipulação dos jogos do Fluminense para nos prejudicar. Contra o CSA foram três lances dignos de análise do VAR, sendo que pelo menos dois pênaltis claros não marcados.

Por causa daquele jogo, Diniz foi demitido, perdemos a vaga nas semifinais da Sul-Americana e demos um passo largo para o rebaixamento.

O que nos deixa mais desorientados, no entanto, é que o Fluminense mudou da água para o vinho no jogo de ontem em relação aos dois jogos contra o Corinthians. Ao ver a escalação, imaginei que teríamos os laterais atuando de forma mais conservadoras, com Nem e Yony ocupando os lados do campo. Ao mesmo tempo, Alan ajudaria a empurrar Ganso e Nenê para o ataque, o que aconteceu, mas a surpresa foi ver os laterais atuando da mesma forma, o que nos deixou com um caminhão de jogadas pelos lados, que enlouquecia a defesa do Avaí.

Eu poderia afirmar que jogando o que jogou ontem o Fluminense não cai, mas o Fluminense joga o que jogou ontem desde o início do campeonato e perde. Eu tenho dito que o fator determinante para as derrotas é a arbitragem. E é, mas tem algo mais nisso tudo que não é visível.

Chegou a hora dos Deuses intervirem para salvar o seu preferido, embora eu tema que andem tão aborrecidos com essa terra sem lei e sem honra, que tenham nos virado as costas pela eternidade, deixando aos nossos olhos aterrorizados o abominável espetáculo do time dos maus costumes levantando duas taças em um único ano.

É como a eterna repetição do espetáculo da inversão de valores que se apoderou do nosso dia a dia e da nossa história recente.

Ide e roubais, que a trapaça seja vosso lema, as papeletas amarelas a vossa moeda, a manipulação e a mentira vosso argumento, que vossa irresponsabilidade e descaso ceife jovens vidas no crematório do cinismo e que todos vos prestem solidariedade pelo mal que causardes, que não deverá ser devidamente reparado para que a injustiça prevaleça entre os homens.

Agora, são mais de 20 dias sem Maracanã. Serão quatro jogos fora de casa, contra Fortaleza, Palmeiras, Corinthians e Goiás. Sim, nós vendemos o nosso mando de campo para o Corinthians, uma decisão para lá de estapafúrdia, porque pode acabar sendo positiva.

A verdade é que o Maracanã não vem sendo bom para o Fluminense. A impaciência, a angústia, o nervosismo e o desespero da torcida estão entrando em campo no segundo tempo. O clima fica pesado e o time se descontrola. O nosso futebol tem que ser o mesmo de sempre e a bola precisa entrar como nunca.

Saudações Tricolores

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#credibilidade

4 Comments

  1. Savioli, por que você não inicia imediatamente uma campanha pela volta do Diniz?
    Terá o apoio da imensa maioria dos tricolores.
    Abraço!

  2. Savioli, suas crônicas são excelentes! Você tem noção exata do que está acontecendo.
    #voltadiniz

    Obrigado

  3. Boa tarde, Savioli. Essa atitude tosca, nefasta, de parte da torcida partir para a vaia é de uma burrice sem tamanho. É a maior munição que se pode dar ao inimigo. Trocar o Ganso por outro de igual nível ou superior é uma coisa. Agora, o que o técnico fez foi de lascar. O gol que o WN perdeu, não existe. O que o Neném fez foi de uma irresponsabilidade sem tamanho. E o Ganso é que é vaiado. O lance do penalty era só cercar. Isso é de pelada. Vai ficar difícil. Senão impossível. Abraços.

  4. Hola Tricolores,
    Não são coisas invisíveis, os jogadores é que, por incompetência absoluta, no que até aqui prefiro crer, ou por uma sacanagem com o FLU e com a torcida, que perdem muitas chances claras de gols. Caso convertessem um quinto das oportunidades não teria VAR que obstruisse algumas vitórias. Em tempo, não se pode atribuir nenhuma crítica a um coletivo que, mesmo após diversas frustrações, dentre às quais uma eliminação com a casa cheia, comparece em bom número. Jogador…

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