Fluminense: entre o ano perdido e a tragédia (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, uma questão que vinha desafiando o meu raciocínio nos últimos dias é o comportamento recente da nossa torcida.

Não falo, especificamente, dos quase 60 mil torcedores presentes no Maracanã na última quinta-feira para ver aquela patacoada. Se ali estiveram todas aquelas pessoas, isso se deve à expectativa e à esperança de vermos o Fluminense chegar à semifinal da Sul-Americana, ficando a três partidas do título.

Falo, efetivamente, da surpreendente presença de público nos jogos do Campeonato Brasileiro. Mais de 24 mil torcedores contra o CSA, com o Fluminense caindo pelas tabelas na classificação (trocadilho besta, né?), foi de cair a dentadura da boca.

Foi quando fui capturado por uma tese que pareceu-me quase irrefutável. Esse comportamento da torcida, que tem como irmã gêmea a corrida de torcedores aos planos de sócio (4 mil novos sócios, segundo o nosso presidente), é um traço do pós Copa América, que também é o pós eleição, o que nos leva à conclusão de que o apoio da torcida ao clube é uma consequência do expurgo de Pedro Abad e da Flusócio das posições de poder no clube.

O torcedor reconhece a difícil situação financeira do clube e sabe que não vamos sair dela num passe de mágica. Afinal, ele tem toda a mídia a lembrá-lo dessa situação quase que diariamente. É quase impossível que alguém mencione o nome Fluminense sem falar em crise financeira, dívidas, atrasos de salário e outras mazelas.

Porém, apesar de reconhecer o problema, o torcedor foi educado para acreditar que a solução para o Fluminense era tirar Abad e a Flusócio de cena. Com a eleição e a dissolução da Flusócio, entendeu o torcedor que parte do problema estava resolvida. Com um novo governo, chegava a hora de fazer sua parte. Daí esse grande abraço coletivo ao Fluminense.

É uma constatação grave sob vários aspectos. Um deles é que o torcedor permaneceu de braços cruzados o ano todo, com um grande trabalho sendo feito no futebol, achando que assim estaria dando as costas aos “saqueadores” do clube, quando estava dando as costas ao Fluminense, que tinha tudo nas mãos para viver o melhor dos últimos sete anos, inclusive financeiramente.

É grave, também, porque eu não quero nem imaginar qual será a reação desse torcedor quando descobrir que foi vítima de uma fraude, um engodo. Porque trocar presidente não muda a situação caótica do clube. Os problemas continuam intactos.

Mas a situação fica mais grave quando a gente olha o histórico de declarações do Mário e conclui que seu único projeto é trazer de volta o Fred com 50 anos de idade. Eu pergunto aos eleitores do Mário quais são as propostas, qual o projeto para o Fluminense e a única resposta que eu recebo é que tinha que tirar a Flusócio.

Reduziram-nos a isso. É o famoso “efeito Tiririca”. O argumento para uma decisão política é que  “pior do que está, não fica”. Pois eu digo que já ficou pior, e muito. A começar pela escatológica demissão de Fernando Diniz. As pessoas não tem a menor ideia do quanto ficou pior.

Ficou pior, primeiro, porque a saída do Diniz encobriu o verdadeiro problema, que é o projeto do establishment  de jogar o Fluminense na privada do futebol brasileiro, instrumentalizado pela manipulação dos resultados das nossas partidas pela arbitragem, com VAR e tudo.

Segundo, porque destruiu um produto de alto valor para a torcida, que era o futebol praticado pelo Fluminense. E, por fim, fomos colocados em uma situação em que, mesmo que as arbitragens parem de nos assaltar, corremos o risco de não escaparmos do rebaixamento, que seria o fim do Fluminense.

Porque o fim do Fluminense foi decretado na década de 90, mas nós não tínhamos a dívida monstruosa que temos hoje e, ao mesmo tempo, não tínhamos as receitas de televisão para lastrear mais despesas. Se nós formos rebaixados para a Série B, anotem o que eu estou falando, o Fluminense quebra.

Mas já que é para avacalhar o produto, nada melhor do que vender o craque do time. Não adianta a turma do gargarejo ficar nas redes sociais dizendo que o Pedro tá bichado, que é um jogador comum e outras falácias dessas que a gente lê por aí.

Que nem é uma questão de justificar o injustificável. A venda de Pedro é justificável. Foi isso que nos foi, implicitamente, prometido na campanha eleitoral. Porque se ninguém disse o que ia fazer quando assumisse o poder, isso queria dizer que nada de novo seria feito. Sendo assim, a venda de Pedro nada mais é que a continuação do modelo imposto pela gestão desastrosa de Peter Siemsen em seu segundo mandato. O Fluminense foi formatado para sobreviver da venda dos talentos produzidos em Xerém, porque na mente desse pessoal Xerém não é um projeto esportivo. Para eles, Xerém é um projeto comercial.

É por isso que o Abad ficou dois anos e meio à frente do Fluminense e travou o projeto de governança elaborado pela Ernst & Young, perdendo seus apoios mais preciosos e sendo jogado aos leões.

Só que tudo isso vai nos cobrar um preço alto, porque o rebaixamento é o fim do Fluminense, simplesmente porque acabou a cota de televisão. Não é só questão de não conseguir voltar para a Série A no ano seguinte, é que o Fluminense se tornará simplesmente inviável.

Não vai ter como pagar as despesas, a correção da dívida vai levá-la facilmente aos R$ 700 milhões e as penhoras paralisarão o clube.

E sabem o que é pior? Pressão total para liquidarmos o que sobrou de ativos de valor, como Marcos Paulo, Miguel Silveira e o que mais vier, todos a preço de banana, como foi o João Pedro, o Spadacio e agora o Pedro, que, apesar das bravatas da turma do gargarejo, é craque e vai arrebentar lá fora.

Então, eu só quero alertar a quem puder ouvir, que não adianta chorar nem fazer beicinho. O Fluminense só tem a nós e o mundo contra si. Então, vamos aproveitar o embalo e colocar 60 mil no Maracanã todos os jogos até o final do ano. Vamos colocar no mínimo 200 mil sócios no clube. Essa é a única salvação que nos resta.

E que fique claro desde já que nada mudou e nada vai mudar. Consciente ou não, essa foi a escolha da maioria. Se quiserem fazer algo mais pelo clube que dar dinheiro, exijam a cabeça do Celso Barros e a volta do Diniz para ontem. Se não fizer, pede a cabeça do presidente e novas eleições em outubro, já que virou moda esse negócio.

Eu não quero desrespeitar aqui o trabalho do Osvaldo, porque eu entendo que todo profissional precisa de tempo. Só que os sinais estão muito claros. É ruptura total. Os rumores que eu vejo sobre a escalação na partida de amanhã com o Avaí causam sofrimento prévio.

E não se trata disso, mas de recuperar o que tivemos de melhor em 2019, que foi o modelo de jogo do Fernando Diniz. Eu não vejo outra solução que não seja resgatar o Diniz para ontem. Para ontem, Mário, vai por mim. Depois você chama a torcida para vir junto, mas antes tem que consertar essa cagada histórica.

No mais, mete o pé na porta da CBF e bota o dedo na cara daquela  escumalha, porque o Fluminense não tem mais gordura para ser roubado.

O ano já está perdido, vamos ver se pelo menos evitamos a tragédia maior, que é o fim da mais valiosa instituição esportiva do continente.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#credibilidade

6 Comments

  1. Concordo com tudo. Filosofia tem disso, né. Na prática a teoria é diferente, e quando acaba, todo mundo fica querendo resgatá-la. É porque o mundo é assim mesmo – vem um cara, postula os ideais a serem seguidos, que muitas vezes são impraticáveis, mas molda a forma como as pessoas agirão no futuro, tentando alcançá-los. O ciclo do Diniz se encerrou, ok, mas era pra terem contratado alguém que o refinasse, e não quem o rompesse. Vai entender. Só não me iludo achando que bater na porta da CBF…

  2. Com todo respeito ao seu texto com teor do apicalipse tricolor, mesmo que ocorra o infortúnio de um rebaixamento(tomara que não) o Fluminense sobreviverá, e se reerguerá como gigante que é. Concordo que a eleição de Mário e Celso foi outro equívoco, mas é o que temos e vamos em frente. Pedro queria ir, estava jogando pouco, e faz parte do futebol. Vamos esquecer o Diniz, que nos deixou com essa pontuação, já deu esse papo.
    No mais, lutar e jamais desistir.
    ST

    1. É isso que eu estou dizendo. Lutar agora, colocar 60 mil pessoas em todos os jogos até o final do ano e 200 mil associados. Só isso salva o Fluminense, mas se for rebaixado, não sei se você sabe, nós perdemos a cota de TV. É uma quada de R$ 100 milhões para menos de R$ 10 milhões. Isso significa perda de entre 30% e 40% das nossas receitas, com base no balanço de 2018 e previsão para 2019. Não dá, o clube quebra. Não é uma questão de acreditar ou não, são os fatos. Infelizmente a situação é…

      1. A situação é essa.

        Mas tenho que reiterar que o Fluminense não está nessa situação no Brasileiro por causa do Diniz e sim graças à manipulação das arbitragens contra nós. Não estou falando de terraplanismo, duendes ou fadas madrinhas. São situações reais. Soma os pontos que as arbitragens nos roubou ao atuais e vamos parar no meio da tabela, ainda sonhando com o título.

        ST

  3. Savioli, se a diretoria do Fluminense aceitar árbitros da Paraíba, Rio Grande do Norte e Alagoas apitar seus jogos, pode se considerar rebaixado.

  4. Comentário sensato, o Fluminense está a Mercês de pessoas que já mostraram a sua total falta de capacidade quando passaram por lá. O futuro é nebuloso e o momento é tenebroso, é triste a situação. Só nos resta esperança de dias melhores.

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