Por que decidi apoiar Ricardo Tenório publicamente (por Marcelo Savioli)

Amigos, amigas, tenho passado os últimos dias tendo que decidir entre a omissão e a renúncia a um princípio que tem norteado minha vida desde que iniciei minha trajetória como jornalista, editor e articulista da mídia tricolor.

A saber, nunca me pronunciei favoravelmente a esse ou aquele candidato. Desde 2010, quando cheguei a apresentar um debate presidencial, mantive-me neutro, embora, em alguns embates, tivesse minha preferência.

Separar minha imagem de preferências políticas no Fluminense foi uma escolha e um compromisso que assumi em nome da credibilidade. Até hoje, não tive razões para arrependimento.

Espero estar tomando a decisão certa, porque é uma escolha difícil e irreversível abrir mão de um princípio enraizado. Por outro lado, diante do grave momento que vive o Fluminense e das candidaturas a nós oferecidas, é difícil não confundir neutralidade com omissão.

Pesou na minha decisão o amor ao Fluminense, uma das coisas mais importantes em minha existência. Não por outra razão, tenho dedicado os últimos dez anos a tentar levar informação à torcida tricolor, tentando lançar luz sobre temas diversos, buscando qualificar as pessoas para tomarem decisões importantes como a de hoje.

Não declarar meu apoio a Ricardo Tenório seria, no meu entendimento, prestar um enorme desserviço ao Fluminense. Penso, mesmo, que seria colocar o clube em risco.

Em 2016, elogiei o programa de Mário e Tenório, que é, mais ou menos, o que ambos os candidatos propõem. Apesar disso, é possível pontuar diferenças sensíveis entre os candidatos.

Preocupa-me deveras ver uma candidatura que fala em contratar Fred, Thiago Silva, Thiago Neves e Buffon, mas não só porque a ideia é completamente dissociada da atual realidade econômica do Fluminense. É porque não tem qualquer nexo do ponto de vista futebolístico, não bastasse a ameaça que isso representaria às nossas combalidas finanças.

Alguns podem perceber nisso um discurso meramente demagógico e eleitoreiro. Eu preferia que fosse isso, mas eu lembro bem da gestão de Mário Bittencourt por dois anos à frente do departamento de futebol. Lembro-me bem da prorrogação do contrato de Fred, que ainda tinha um ano de vínculo com o clube, com o Fluminense assumindo, em 2015, um compromisso totalmente fora da realidade, que era da Unimed até então.

Lembro-me, também, do entra e sai de atletas no ano de 2015, quando fomos salvos do rebaixamento por Enderson Moreira, no dia em que pediu a permanência de Marcos Júnior e Gustavo Scarpa, que seriam emprestados. Chegamos a ter, no início do Campeonato Brasileiro, um bom time, com Jean, Wagner, Keneky, Gerson, Vinícius e Fred, que foi se desfazendo aos poucos. Chegamos a disputar a liderança e acabamos brigando contra o rebaixamento.

Tivemos, na ocasião, a contratação de Ronaldinho Gaúcho, que já nem ligava mais para futebol. Uma bela jogada de Marketing, não há dúvida, que encheu o Maracanã em algumas partidas e impulsionou o sócio futebol. Algumas rodadas depois, todavia, o Maracanã estava vazio e, ao longo dos últimos anos o sócio torcedor veio se desintegrando.

Eu tenho muito medo dessa visão, pois foi o que arruinou as finanças de todos os grandes clubes cariocas, que é lastrear gastos em abstrações. É esse o pensamento que está na origem da crise financeira que vivemos hoje.

Tenho muita gratidão e reverência à pessoa do doutor Celso Barros. Ainda que a figura do mecenas salvador seja imprópria, não se pode negar a imensa contribuição de Celso Barros na condição de presidente da Unimed. O problema é que a gestão da parceria sempre foi oscilante. Só entre 2008 e 2011, nossa dívida teve um crescimento na casa dos R$ 120 milhões. Foram várias as vezes que lutamos contra o rebaixamento nos 16 anos de parceria. Não consigo enxergar nenhum benefício em ter Celso Barros comandando nosso futebol sem o dinheiro da Unimed. Sai o dinheiro, fica, a julgar pelo histórico, a má gestão.

Vejo em Tenório uma opção de fuga da mesmice que vem reinando absoluta no Fluminense há décadas. Não vejo no discurso de Tenório nada de revolucionário ou extremamente ousado. Não obstante, percebo o equilíbrio de que o Fluminense precisa para não morrer. Percebo uma visão mais empresarial, mais profissional, que é grande parte do que precisamos, sem ideias megalomaníacas.

Vejo em Tenório uma inclinação honesta para manter e prolongar o trabalho de Fernando Diniz. Nós não precisamos de ideias mirabolantes. Precisamos de uma linha de trabalho a seguir. Conseguimos montar um elenco que pode nos dar muitas alegrias com teto salarial e realismo. Não estou descartando que num futuro, quiçá próximo, o Fluminense invista em grandes contratações, mas não buscando nomes em uma lista em que o mais jovem tem 35 anos, só porque podem vir de graça e geram Marketing.

Alguém quer mais Marketing do que podem gerar João Pedro, Pedro, Miguel Silveira e Marcos Paulo? Alguém quer mais Marketing do que pode oferecer um time que joga o futebol bonito e valente que temos jogado?

O meu apoio a Tenório é o apoio à esperança de ver o Fluminense sobreviver. É a esperança de ver no Fluminense implantada uma visão nova de gestão profissional, pensamento empresarial, com austeridade, transparência e governança. São coisas que não estão na história de Mário e Celso, pelo menos naquela que se relaciona ao Fluminense.

Temos uma trajetória dificílima pela frente. Precisamos redesenhar o perfil da nossa dívida para reduzi-la gradativamente, precisamos de investidores, dinheiro novo. O Flamengo comeu o pão que o diabo amassou durante cinco anos para se salvar da falência. É bem verdade que com a ajuda da Globo, mas nós também temos o nosso próprio caminho, que inclui Xerém e o projeto de revitalização das Laranjeiras.

Não há espaço para devaneios e decisões tomadas com base em achismos e populismos. Precisamos trabalhar com o cérebro, com responsabilidade, austeridade, gestão de processos e muito dia a dia. Por tudo que tenho lido e ouvido, Tenório é o único candidato que pode nos levar a um caminho seguro, trocando a rotina de troca de favores por escolhas baseadas no mérito, no método e no propósito.

Eu apoio e recomendo o voto em Ricardo Tenório sem medo de me arrepender, com a certeza de estar tentando contribuir para a sobrevivência do Fluminense hoje, e amanhã, se Deus nos ajudar, para o reerguimento da mais importante instituição esportiva do continente.

É o que eu posso fazer pelo Fluminense por hoje.

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

#credibilidade

6 Comments

    1. Com base nos critérios, associações e linguagem utilizada, meus temores parecem fazer sentido

  1. obrigado pelo texto, Savioli! Fiquei verdadeiramente agradecido. devo dizer que todos que sigo no twitter estão indo com o Mário e eu também o considerava menos pior, mais pelos precedentes do Tenório. depois desse texto, estou até um pouco convencido a achar que não seria uma tragédia. O que o queimou, pra mim, foi o monte de gente safada que pôs na chapa. Gente com investigação nas costas, relações com partidos imundos, com gestões imundas… E a manobra de apoiar a gestão pra se eleger e…

    1. Mas agora o Mário já está eleito e o nosso papel é somar forças para que o melhor aconteça pelo nosso Fluminense.

      ST

  2. Cheguei a pensar seriamente em votar em Tenório, apesar de considerar a vitória de Mário-Celso líquida e certa. Veja bem, tanto o Tenório quanto a dupla estavam juntas faz pouco tempo e partilha do mesmo plano. Ao se separar, Tenório optou por se cercar de políticos e servidores públicos, enquanto Mário vai usar mais nomes da iniciativa privada. Ademais, resolvi dar um voto de confiança para o Celso, que apesar de não contar mais com o dinheiro da Unimed e ter usado muito mal esse dinheiro em…

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