Final sem sal, sinal dos tempos

Amigos, amigas, a final sem sal de ontem no Maracanã foi um sinal dos tempos. Eu só me lembro de uma decisão de Campeonato Estadual tão desequilibrada nos últimos tempos, que foi a de 2012, quando o Fluminense goleou o Botafogo no primeiro jogo e passeou no segundo.

Curiosamente, naquele momento da história o Fluminense tinha um desequilíbrio econômico ao seu favor, o que acontece, agora, de forma muito mais acentuada, a favor do Flamengo. A diferença é que naquele momento o Fluminense se beneficiava de uma parceria privada. No momento atual, o que temos é a hierarquização artificial do futebol brasileiro.

Produz-se toda sorte de simulacros de análise para tentar convencer as pessoas de que a espanholização não existe no Brasil. Faz-se comparações com outras ligas europeias, sobretudo a francesa e a italiana. Eu não me lembro qual foi a última vez que assisti a uma partida do Campeonato Italiano. Francês? Sei nem o que é isso.

Aliás, o desequilíbrio na distribuição dos direitos de transmissão produziu um passeio de oito anos da Juventus na Itália. Acho que nem os franceses querem saber do futebol francês. Em breve, nem os brasileiros vão querer mais saber do futebol brasileiro, e olhe que isso já está acontecendo.

Aos que dizem que não há espanholização no Brasil, vamos primeiro entender o que significa. Na Espanha, o sistema de distribuição, que chegou a concentrar mais de 40% das receitas com direitos de transmissão nas mãos de Barcelona e Real Madrid, teve o propósito de produzir desequilíbrio econômico entre os clubes, embora o objetivo por trás disso, diferentemente do que acontece no Brasil, não fosse prejudicar determinados clubes. O que eles queriam era ter dois clubes continentalmente competitivos.

O clássico de ontem no Maracanã é o produto em forma de retrato desse processo de hierarquização artificial do futebol brasileiro. O clássico Vasco x Flamengo tem quase 100 anos de equilíbrio. Isso implica dizer que não há um maior que o outro nessa relação. Espanholização é isso. A definição correta é: processo de construção de hierarquia artificial entre clubes de futebol por meio da promoção do desequilíbrio econômico.

Mata-se um povo a partir da destruição de suas tradições. Sugiro a leitura do Idel Halfen, que mostra com riqueza de argumentos técnicos como esse projeto da Globo para favorecer o seu clube do coração vai, com o tempo, e não vai demorar muito, arrasar com o futebol brasileiro.

O que vimos ontem foi uma realidade falsificada, desonestamente produzida. Vão dizer que o campeão do ano passado foi o Botafogo, que o Vasco ganhou em 2016. Eu digo que esse é um processo. O desequilíbrio econômico vai produzindo um abismo financeiro e esportivo, mas não se constrói um abismo do dia para a noite. O desequilíbrio é acumulativo.

Quem acha que vai mudar alguma coisa com a “premierização” fajuta da distribuição de receitas, está completamente equivocado. A Globo desequilibra tudo no pagamento de luvas e no PPV. Não sei se o pessoal já percebeu, mas eles colocam 37% de todo o bolo na mão de Flamengo e Corinthians. Os caras abocanham, juntos, R$ 240 milhões com PPV, enquanto os outros chupam dedo e fazem cara de babacas. Sem contar que a Globo vai dar seu jeito de acentuar ainda mais o desequilíbrio empurrando Flamengo e Corinthians goela abaixo do telespectador toda quarta e domingo na TV aberta. Além disso, a tendência é que esses dois clubes fiquem sempre entre os primeiros. O Flamengo pode ficar o resto da vida no cheirinho, mas dinheiro no cofre não vai faltar.

Ah, mas tem o Palmeiras, que vai arrancar da Globo, na marra,  equiparação aos dois ajudados. Nisso tem uma boa e uma má notícia. A boa é que na marra dá para dinamitar em uma semana o sonho encantado da dindinha. A má é que não há perspectiva de que os clubes se unam ou mesmo de que suas torcidas acordem e promovam um movimento gigantesco para acabar com essa fantasia indecorosa da Globo.

E o Fluminense nisso? O Fluminense somos nós. Por ora, o que podemos fazer é acertar na escolha do próximo presidente, desligar a Globo em dias de jogos da molambada e lotar o Maracanã em todos os nossos jogos. Mais lá para frente, que seja o quanto antes, temos que pressionar os dirigentes a cancelarem o contrato com a Globo com multa e tudo. É igual para todo mundo ou não tem futebol. Fim de papo. Foi o que fez o Palmeiras. O Flamengo e o Corinthians têm mais torcida? Que bom, então transmitam só Flamengo e Corinthians, Corinthians e Flamengo.

Inclusive, os outros clubes podem formar uma outra liga independente e deixar para a Globo um triangular de dez meses. Teremos Palmeiras e Flamengo num domingo, Corinthians e Palmeiras no outro e, num terceiro, Flamengo e Corinthians. Depois repete as rodadas com o mando trocado. Quanto terminar, faz tudo de novo. Se quiser animar um pouquinho, inclui o São Paulo, que eles dizem que é o quarto grande. Assim dá para fazer um quadrangular só de “time grande”.

Voltando ao causo do Palmeiras, eis a comprovação de que esse papo de tamanho de torcida é balela. Sequer é possível comprovar o tamanho das torcidas, porque não há nenhuma pesquisa série nesse sentido. Critério cada um inventa o seu, mas o único critério  verdadeiro é o poder. Os clubes são os donos do espetáculo e podem vendê-lo a quem e por quanto quiserem. Podem, inclusive, se for o caso, não vender para ninguém.

Maraca domingo, galera!

Saudações Tricolores!

Panorama Tricolor

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