A questão do tempo:
Existem relações estreitas entre a música e o futebol. O clarinetista Paulo Sergio Santos comentava que o futebol, assim como a música, ocorre no tempo presente. Desta forma, muitas decisões são tomadas na hora.
Na música, naquele momento resolvemos tocar determinado ritmo, ou aquele acorde, ou mudamos a dinâmica e estas resoluções estão orientadas por condições que se dão naquele instante: podem ser por influência dos músicos, da acústica do lugar, pelas audições recentes enfim.
No futebol um centroavante decide chutar, fazer uma tabela, driblar ou deixar passar a bola de acordo a situações pontuais também.
Em outras artes, como por exemplo na literatura ou nas artes plásticas, podemos voltar e refazer trechos antes do produto final. Nas ações ao vivo, o feito feito está.
Funções:
Na música existe a função de base, normalmente ela é desenvolvida numa Big Band pelo que o que se chama de “cozinha”, formada pelo contrabaixo, a percussão, a bateria, o piano e a guitarra. Na realidade todos os instrumentos podem desenvolver este comportamento.
No futebol teria um correlato com o sistema defensivo, o goleiro, os zagueiros, os laterais e os cabeças de área. Também aqui a função de marcação pode ser assumida por qualquer outro jogador.
Depois, numa formação de quinteto ou sexteto, o piano a guitarra e até o contrabaixo se movimentam na função da harmonia, que teria um paralelo com os meias de ligação.
Por último teríamos os solistas (saxofones, trompete ou os cantores) que assumem a função de definir a melodia, no futebol de fazer o gol.
Nos dois casos quem exerce esta função acaba sendo o protagonista que tem mais notoriedade no elenco. O Coltrane, o Miles Davis da bola.
O script:
Um grupo de música toca um tema e esse tema tem uma forma e define um comportamento de acordo com o estilo, com o tipo de músicos ou com a interpretação.
No futebol, por sua vez, temos o sistema tático que seria um roteiro, um plano. Este percurso muda para cada time, para cada jogo, dependendo do resultado e também de acordo as peças que temos em campo.
A direção:
Está representada pelo diretor musical, o arranjador, o regente ou o líder de uma banda. No esporte, esta função de orientador pode ser definida pelo diretor de futebol, pelo técnico ou pelo líder, normalmente, o capitão do time.
O público:
Ė a sua torcida. O jogador número 12 não ganha jogo, mas empurra o time, vibra, cobra ou ignora; nos dois casos, tanto o artista como o time usufruem de sua fidelidade ou lamentam com sua indiferença.
Final:
O paralelo entre os dois mundos abre a possibilidade de uma metáfora para olhar nosso time por ora.
O Fluminense teria hoje um sistema defensivo regular, um meio campo também mediano e estaria carente no ataque. Temos, na ponta do lápis, um goleiro, alguma força real pelo lado esquerdo e uma boa disposição de luta que torna o time competitivo; se fosse um grupo de música, seria uma banda com um baterista e um baixista razoáveis, um pianista que dá para o gasto, uma performance ao vivo quente e um público maravilhoso.
Panorama Tricolor
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