Sim, porque morto ele já está. E faz tempo.
É com muita tristeza que percebo isso. Vivi os grandes momentos do Campeonato Carioca dos anos 1980 que, dizem ainda, não era o Carioca dos anos 1970 e 1960, levando mais de cem mil pessoas ao Maracanã quase sempre. Mas, era um grande campeonato. Grandes times, grandes craques, fórmulas de disputa simples, de fácil entendimento para todos e normalmente justas, embora em futebol não haja justiça. E não tinha televisão. Em tempo real só no estádio ou pelo rádio.
Mas, nos anos 80, apesar de ainda ser um grande campeonato, já iniciava o declínio. O Campeonato Brasileiro começava a ser mais importante que o estadual e duas figuras repugnantes começaram a dar as cartas no futebol do Rio de Janeiro: Eduardo Viana que assumiu a FERJ em 1984 e ficou até sua morte em 2016, e Eurico Miranda que, apesar de atuar desde a década de 1970, ganhou projeção e poder no clube cruzmaltino em 1980 ao trazer Roberto Dinamite de volta para o Vasco, oriundo do Barcelona, quando o Flamengo tentava levar o ídolo vascaíno para a Gávea. Eurico era assessor especial do presidente vascaíno à época.
Essa dupla atuou em dobradinha e foi responsável pelo começo do declínio do campeonato, com regulamentos estapafúrdios, favorecimentos de todas as formas, falcatruas e tal. Depois, Rubens Lopes assumiu no lugar de Eduardo Viana, o vulgo Caixa D´Água e aí degringolou de vez. Só quem ganha com o campeonato é a FERJ.
Claro que o declínio vem junto como o declínio econômico da cidade e do estado, embora na pujança recente dos royalties de petróleo o campeonato seguiria sua morte lenta e dolorosa. E também, o assalto que se foi feito ao Maracanã e sua ausência mataram o campeonato de vez. Hoje em dia é um arremedo de campeonato que só se sustenta pela grana alta da TV Globo (para ela é rentável, já que ninguém se anima a ir ao estádio) e por nossa lei que ainda mantém confederações e federações comandando o nosso futebol.
Este final de semana tivemos um “Flamengo e Botafogo” com uma roubalheira desenfreada para o “o mais querido da arbitragem”, tivemos um jogo do Vasco no Espírito Santo e o do Fluminense em Los Larios, cujo gramado não é um gramado e sim um charco enfurnado no meio do mato na Baixada Fluminense. Para completar, nesta semana teremos um clássico às 19:15, horário de volta do trabalhador para casa. Bizarro.
E o regulamento? Uma estupidez só. Um time pode ser campeão do primeiro turno e do segundo e não ser campeão no final. Que acham? Juízes horrorosos, campos terríveis e regulamento ridículo.
O que move a gente a acompanhar o campeonato é nossa paixão pelo clube de coração. Mas, de boa, tem horas que nem a paixão é suficiente para ver o tamanho da desgraça.
O Campeonato Carioca morreu.
Dá para ressuscitar? Até dá. Mas, para isso tem que cair Rubinho, clubes deixarem de picuinhas e se entenderem em prol do campeonato, o Maracanã voltar, o poder público fazer algo de concreto contra a violência em dias de clássicos, criar um Liga Carioca que organize o campeonato… Que dia é o enterro mesmo?
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @mvinicaldeira
#JuntosPeloFlu
Imagem: mvc