Zanzibar à solta (por Alva Benigno)

QUEER IN RIO

Indignado com a proibição da exposição do banco Santandré em Porto Alegre, Francisco da Zanzibar não perdoa nem os moleques que, reacionários como ele mesmo, comemoraram a censura: “São bichinhas poc-poc que, na hora do vamos ver, saem correndo com frescurite”. Vá entender…

Vai à casa de Justiça e encontra respeitáveis magistrados, de bem, pessoas de Deus, para celebrar um acordo que vise trazer a pribida para o Rio de Janeiro. Na reunião com um deles, vaticina: “Precisamos resgatar nosso glamour, esta cidade está uma cafonice só!”. Por ironia, carrega em sua pochete um frasco de loção colônia Lancaster…

Recebendo a bênção do Joodiciarium, Chiquinho fica imponente em frente ao prédio do tribunal e vibra com mais uma de suas façanhas: além de ser reconhecido como um incentivador das artes, ele sonha com delírios homoeróticos com um segurança em frente a uma das obras expostas, tão logo a exposição encerre um dia qualquer de expediente. Pelo visto, a fase hetero foi embora para longe… “pau que nasce torto, nunca se endireita” (Compadre Washington, 1997).
O PAI CARECA

Correm rumores nas redes sociais sobre um possível filho do lutador careca. Ao saber do tititi, Chiquinho parece um tanto desconfortável com as informações, mas suspira e comenta: “Se eu aprendesse a engravidar, o filho nasceria careca, igual ao professor e pai”.

E diz que pagará o enxoval e o parto.

Já que não pode ser sua esposa – a do lutador! -, ele se contenta em ser o segundo pai de seu filho.

Havia um quê de vingança no ar, como se pode entender. Mas remorso também.

Na semana passada, houve a divulgação de uma antiga matéria de jornal, onde AGonzalezzz era o principal crítico da gestão do clube, ao contrário do sempre repetido por excêntricos efeminados da torcida, dentre eles uma subcelebridade (sempre elas!).

Na época dessa notícia, Chiquinho Zanzibar foi convocado pelo presidente da champanhe para vetar os planos de AGonzalezzz, perseguindo e difamando o ex-presidente da Força Flu e então dirigente há alguns dias. Tudo teria sido motivado simplesmente porque o lutador careca, à época dotado de vasta cabeleira, se recusou a ensinar Chiquinho a… engravidar.

Ao mesmo tempo, Chiquinho Zanzibar conseguiu inundar o clube de pernas de pau de todos os tipos, e queimar o então presidente com a genial ideia do estouro público da champanhe. Queria devastar geral.

Chiquinho Zanzibar combinou com as redes de TV, comprou a maldita garrafa, e convenceu alguns dos jogadores mais imbecis politicamente de que era fundamental participar da cena, por amor ao clube de tantas tradições. Alguns dos figurantes hoje pagam de “oposição”. Mas também havia interesse num levadinho: para Chiquinho era preciso recuperar a grana perdida com o fim do overnight, e com apostas equivocadas na bolsa de valores. Para ele, AGonzalezzzz era um romântico moralista de merda, o único a atrapalhar seus planos de poder em O Club.

Desde então, ao longo dos anos Chiquinho Zanzibar tem ameaçado os homens brancos ricos, meritocráticos, de bem, do clube com dossiês multieróticos pesados, feitos por arapongas desempregados do SNI e do CENIMAR. Deveriam, eternamente, pelo bem de seus filhos e esposas, da sustentação de sua imagem de machos alfa tradicionais, e, agora, pelos seus netos, afirmar em seus círculos de que Antônio Gonzalez era, sim, o dirigente da terceira divisão, pouco importando se aquilo era uma farsa grosseira.

Ser heterossexual para o público e boa sociedade custa muito caro: mentiras e difamações para proteger o prazer anal com que os homens da Grécia antiga aprendiam lições de vida, no ofício da homossexualidade, traduzida muitos séculos depois pelo genial poeta Oscar Wilde como “o amor que não ousa dizer seu nome”.
UM ESTRANHO TELEFONEMA

Depois da reunião com o jurista, para trazer a Queer Exposition para o Rio de Janeiro, Zanzibar recebeu um telefonema inesperado. Do outro lado, a voz medrosa disse:

“Francisco, não posso mais sustentar nosso acordo. O diretor da terceira divisão me humilhou. Não tenho o carisma dele. Sou medroso mesmo. Vou parar de difamar e provocar o sujeito.”

Chiquinho Zanzibar ficou vermelho de raiva, puto pra caralho nas calças frouxas e replicou: “Você vai me encontrar agora, na sua garsoniere no prédio da Fritz Gallery. Caso contrário, Contracheque vai receber o dossiê em minutos das mãos de Madame Sascha.”

Nosso admirável velho safado da porra saiu do TJ e seguiu para a loja Harlem Queen do Paço Imperial. Lá, comprou edições excelentes das óperas Don Giovanni e A Flauta Mágica.

Em seguida, pegou o Uber para ir ao encontro do Apóstolo Erudito, um sócio excêntrico que um dia tentou ser presidente do clube, passou Chiquinho para trás e nunca mais foi eleito nem diretor de segurança de puteiro da Vila Mimosa. Mas ainda gostava de tirar onda de homem branco, casado, do bem, vovô tricolor meritocrático tradicional, bem relacionado. Na verdade, era um cadáver podre circulando por O Club, com a placa de cambalacheiro pendurada no seu pescoço.

No Uber, Chiquinho ganha um mimo: o motorista lhe entrega um presente de um homem da lei havia lhe presenteado, um poderoso becão direto do futuro novo dono da parte alta da Roça de Saint Conrad. Pediu que o condutor abrisse as janelas do automóvel, acendeu o superbaseado e mandou ver.

O Aterro nunca foi tão lindo, maravilhoso e colorido. Liberdade pra dentro da cabeça! Mas a viagem foi breve como sempre e, poucos minutos depois, já estava nos aposentos da Fritz Gallery, onde o porteiro não lhe cumprimenta e sim faz reverência. Afinal, Chiquinho da Zanzibar era um habitué da casa.

Toca a campainha do apartamento e Apóstolo atende logo ao primeiro toque.

Chiquinho estava muito machão, mais do que na altitude. Desta vez, sem a pistola. E pensa: “Só saio daqui quando esse velho vagabundo viado enrustido cantar mais fino do que Maria Callas!” – e aí você entende as compras feitas na respeitável maison de musique do Paço Imperial.

Desembala um CD e coloca em volume baixo. Começa a entrada da ópera. Diante de Chiquinho Zanzibar está um homem que se assemelhava a um rato de esgoto de Laranjeiras. Muito corajoso pra roubar às escondidas, mas covarde pra assumir as consequências em público. Verdadeiro eufemismo de escroque.

Chico então começa a gritar: “Não ouvi direito, mas a moça da frente estava me ameaçando? A Barbie Princesa Isabel está querendo barulho na senzala? É isso? Eu boto pra fuder nessa porra!”

Chiquinho Zanzibar começa a acariciar o próprio pênis ereto, ainda ligadão do super baurete do TJ tragado no carro. Impiedoso, ameçada Apóstolo:

“Sua família vai adorar a foto do seu cu sendo arrombado em close, e você soltando uma gargalhada de tesão pro zagueiro dos juniores que eu lhe agenciei. Vai achar muito engraçado ver sua cara cheia de merda do centroavante do time de Campos, cortador de cana, tripé profissional, que você prometeu arrumar um teste no clube. E terá muito orgulho de você chupando o saco desse menino, enquanto ele pintava sua cara de bicha de merda de porra grossa.”

Chiquinho Zanzibar aumenta gradualmente o som e da voz:

“Eu sou o Don Giovanni dessa porra, por todos os meus orifícios! Gozo e faço gozar! Foda se o Plano Real, a Constituição Cidadã, o fim do overnight! Eu sou meu cu!”

Neste momento, coloca tudo no volume máximo.

Grita à vontade, porque nenhum vizinho ouviria nada além das árias de Maria Callas.

“Escuta bem, seu cretino, moralista ignóbil que vai morrer de ressentimento do que fez no passado, posando de bom moço de respeito diante dos sócios e da torcida: pega na geladeira o óleo de cozinha e o saco de pó de serragem que o travesti que te sodomiza me disse que você ainda guarda no criado mudo do quarto. Canta afinado nessa porra”.

A masturbação de Chiquinho Zanzibar começa. Arranca das mãos do Apóstolo Erudito o material, besuntando seu membro rijo com metade do pacote de óleo de cozinha.

“Canta e arria as calças lentamente, lembrando de cada centavo de trambique que você ganhou às custas do clube. E de quanto você usou desse dinheiro pra pagar recheio de carne nova pro seu cu! Depois, tira a cueca, muito devagar, e canta nessa porra como a diva soprano poderosa.”

Chorando, prestes a ser sodomizado, de quatro, babando alucinante, o respeitável dono do imóvel é uma criatura indefesa diante do mito da putaria. Observa por debaixo das pernas, a serragem caindo ao chão. E escuta:

“Vou abrir sua bunda como uma tangerina murcha e estragada. Quando você sentir a agulhada, cante o mais alto que puder, e fino, como se fosse Maria Callas. Mas com sinceridade! CANTE NESTA MERDA!”

Caído ao chão, ficou mais um vovô supostamente machão do Conselho O Supremo. Chiquinho Zanzibar colocou todos os CDs pra tocar na sequência do aparelho, e deixou o volume bem alto. Depois do prazer cumprido, veste as calças e se despede como se nada tivesse feito com Apóstolo. Na portaria, disse com cheiro de sacanagem, todo cuspido, peruca bagunçada, ao porteiro, um velho admirador seu: “E não é que a tia velha ainda gozou pacas?!”

MISSÃO CUMPRIDA E DIVERSÃO

Às quatro da tarde, Francisco da Zanzibar sai andando pela Avenida Nossa Senhora de Copacabana, rumo ao Lido. Resolve parar no boteco da Rua Paula Freitas e bater o PF da larica do becão de ouro, e do pós cu vetusto.

No balcão pediu cachaça, o PF, mandou ver e a larica não passou. Um sorvete era a solução. Nem percebeu restos de óleo, porra e serragem nas suas calças. Pensou: “Foda-se!”

Minutos depois, CZ chegou em casa chupando uma big casquinha da tradicional sorveteria situada debaixo de seu imponente edifício.

Ainda doidão do superbaseado, não teve dúvidas: mijou um Garrastazu às gargalhadas. Perto do toalete, Moreira, o gatinho angorá traíra da casa, olhava estupefacto a tempo de meter o pé.

Chiquinho Zanzibar, satisfação pura, cai num sono de criança, dorme como um anjo descobrindo que Apóstolo Erudito tinha um botão escondido no reto, que fez dele o perfeito candidato a imitador de Maria Callas.

E não é que o botão só precisava de um óleo lubrificante para funcionar?
A PRELEÇÃO

Os riscos na tabela do campeonato e o futuro confronto com o principal adversário do universo, na verdade um freguês do caralho em decisões, fazem Contracheque ficar muito aflito. Em seu entendimento, Chiquinho Zanzibar pode acalmar os ânimos e dar uma injeção de garra ao ambiente.

Ainda tocadão, Chiquinho atende o telefone. Do outro lado, CC vaticina:

“Chico do meu coração, você tem que fazer a tua parte nesta história. Nosso momento é delicado, você é uma legenda de O Club e preciso te pedir um favor: você aceita fazer uma preleção para o team no Fla x Flu?”

“Claro que sim, CC. Será uma honra, mas preciso de duas coisas. Ah, você tem como marcar uma pré-preleção com alguns beninos aqui perto, no Corujinha? Não vem com carne velha não, quero cabrito novo.”

“Posso tentar, mas conto contigo na preleção. E qual era a outra coisa?”

“Tem um levadinho nisso aí? AHAHAHAHAHAHAHA!”

Panorama Tricolor

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Imagem: gugol