A eleição que não termina (por Felipe Fleury)

Qualquer discussão política que não é tratada no campo das ideias, propostas e argumentos válidos é perniciosa. É perniciosa para o país e, também, embora num âmbito muito mais restrito, para o Fluminense.

Está bastante claro para o torcedor – e a atual diretoria jamais escondeu isso desde que assumiu o poder – que a penúria financeira legada pelo presidente Peter Siemsen foi um entrave para que o Fluminense pudesse formar um time com a magnitude que merece. A preocupação da atual gestão parece ser estancar a sangria financeira e sobreviver, como puder, até 2018. E rezar para que um time parcamente reforçado e basicamente formado por jogadores de Xerém consiga amadurecer ao ponto de evitar um terrível e impensável rebaixamento.

Não se deve sonhar em dar passos mais largos, como se sonhou em face da boa campanha e dos bons jogos que o Tricolor fez no campeonato carioca, o que deu a falsa impressão de que o Flu poderia ter tido um desempenho melhor nas competições que disputou e ainda disputa. Mas a frequência e a gravidade das lesões de seus mais importantes jogadores, aliadas à carência de um elenco minimamente qualificado para suprir essas ausências, transformou o que era sonho em, até aqui, uma enorme decepção.

O torcedor não entende e quer mais, mesmo que não haja dinheiro para qualificar o grupo. E tem razão. Esse é o papel do torcedor: querer sempre mais de seu clube. O presidente, por sua vez, age com a razão e não com o coração, e para ser presidente é preciso ser menos torcedor do que gestor.

O problema é que entre o torcedor que exige um Fluminense forte e um presidente que faz o que o dinheiro – que não tem – dá, há grupos que, a pretexto de criticar ou defender a atual gestão, esquecem-se de que o Fluminense é maior do que qualquer interesse particular, sobretudo quando esse interesse tem um forte viés politiqueiro.

E aí, ao invés de encontrarem conjuntamente alternativas à crise, transformam o Fluminense num verdadeiro caldeirão, onde egos e a politicagem rasteira não o deixam seguir adiante, amarrando-o, ainda, à disputa eleitoral de 2016 que, ao que parece, não teve fim.

Quando a oposição aceitar que perdeu as eleições e a situação entender que precisa trabalhar exclusiva e exaustivamente para tirar o Flu do atoleiro e cumprir as promessas de campanha, talvez o Tricolor pare de patinar na mesmice da mediocridade.

Cabeças pensantes há dos dois lados, mas é preciso que todas convirjam suas melhores ideias para o bem do Fluminense, em vez de desperdiçarem-se em agressões mútuas, perda de tempo e de talento que nada contribui para o engrandecimento do Tricolor.

O presidente Abad pode e deve ser cobrado, mas antes e sobretudo é necessário que tenha tranquilidade para cuidar dos interesses do clube. Sob intenso bombardeio, como está, dificilmente terá condições de dar o melhor de si na administração dos interesses do Fluminense.

Além disso, ninguém sai de um caos financeiro do tamanho em que está mergulhado o Flu da noite para o dia. Para colher os frutos de um trabalho sério, o torcedor precisará de paciência e as correntes políticas, de tolerância. Assim, ao fim, ganharemos todos. E se não ganharmos, que depois se cobre a conta do presidente e de quem o apoia politicamente, únicos a quem se poderá imputar a responsabilidade pelo insucesso ao fim da temporada.

Sorte a nossa termos uma torcida tão qualificada. Azar o nosso se não soubermos usufruir dessa virtude.

Panorama Tricolor

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