Em fevereiro de 2016, a revista Época fez uma excelente matéria com o escritor e filósofo Umberto Eco, destacando suas falas a respeito da internet. Estudioso de estética e semiótica, intelectual mundialmente respeitado, Eco tornou-se popular com o sucesso do livro O nome da rosa, de 1980, e do filme que o livro inspirou, em 1986. A história trata do poder e do perigo que vem com a capacidade de dominar, armazenar e transmitir conhecimento – o que valia para a Idade Média, vale para a atualidade. Confira algumas delas:
“As mídias sociais deram o direito à fala a legiões de imbecis que, anteriormente, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel” (Após uma cerimônia na Universidade de Turim, 2015)
Sobre o que se lê na internet:
“Atribuem-me muitas frases célebres de outros. Ou mesmo situações erradas, como a que me atribuíram há uns anos, de que eu dissera que um escritor famoso tinha morrido e até o jornal The New York Times me ligou para confirmar”: (Diário de Notícias, 2015)
“O problema da internet é que produz muito ruído, pois há muita gente a falar ao mesmo tempo. Faz-me lembrar quando na ópera italiana é necessário imitar o ruído da multidão e o que todos pronunciam é a palavra ‘rabarbaro’. Porque imita esse som quando todos repetem ‘rabarbaro rabarbaro rabarbaro’, e o ruído crescente da informação faz correr o risco de se fazer ‘rabarbaro’ sobre os acontecimentos no mundo.” (Diário de Notícias, 2015)
“Populismo midiático significa apelar diretamente à população por meio da mídia. Um político que domina bem o uso da mídia pode moldar os temas políticos fora do parlamento e até eliminar a mediação do parlamento” (The New York Times, 2007)
” O livro ainda é o meio ideal para aprender. Não precisa de eletricidade, e você pode riscar à vontade.(…) Os tablets e e-books servem como auxiliares de leitura. São mais para entretenimento que para estudo. Gosto de riscar, anotar e interferir nas páginas de um livro. Isso ainda não é possível fazer num tablet.” (Em entrevista a ÉPOCA em 2011)
“A internet não seleciona a informação. Há de tudo por lá. A Wikipédia presta um desserviço ao internauta. Outro dia publicaram fofocas a meu respeito, e tive de intervir e corrigir os erros e absurdos. A internet ainda é um mundo selvagem e perigoso. Tudo surge lá sem hierarquia. A imensa quantidade de coisas que circula é pior que a falta de informação. O excesso de informação provoca a amnésia. Informação demais faz mal. Quando não lembramos o que aprendemos, ficamos parecidos com animais. Conhecer é cortar, é selecionar. Vamos tomar como exemplo o ditador e líder romano Júlio César e como os historiadores antigos trataram dele. Todos dizem que foi importante porque alterou a história. Os cronistas romanos só citam sua mulher, Calpúrnia, porque esteve ao lado de César. Nada se sabe sobre a viuvez de Calpúrnia. Se costurou, dedicou-se à educação ou seja lá o que for. Hoje, na internet, Júlio César e Calpúrnia têm a mesma importância. Ora, isso não é conhecimento.”
Bom, se ao chegar até aqui, você observou uma enorme semelhança a muitas coisas que se vê do Fluminense nas redes sociais, não se trata de mera coincidência. Caso contrário, esteja convidado(a) a uma nova reflexão. Refletir nunca é demais.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Imagem: pan
Perfeito, concordo com você em gênero, número e grau.