Tive a boa fortuna de nascer Tricolor. Não precisei exercer qualquer direito de escolha, porque meu pai foi autoritário o bastante para me impor o melhor. A democracia, que sempre foi um princípio largamente praticado na família, dessa vez passou distante. Graças a Deus!
Fico a imaginar se me tivesse sido permitido exercer o livre arbítrio na escolha do meu clube de futebol, da paixão que se carrega para sempre e da qual não se desprende nem na hora da morte. Se, por um acaso do destino, por uma noite mal dormida, me afeiçoasse por uma estrela solitária, por uma cruz de malta ou pelos remos de um clube de regatas. Ou, ainda, se algum parente persuasivo me comprasse um uniformezinho infantil sem graça ou um amigo da onça me mostrasse as vantagens de torcer para o seu time.
Sinto calafrios só de pensar em qualquer dessas hipóteses.
Meu pai foi sábio, portanto. Pré concebeu-me com o firme propósito de receber seu legado. Fez-me torcedor do Fluminense Football Club desde a concepção, e, até antes dela, a fim de que não houvesse qualquer risco de que eu vacilasse no futuro. E não vacilei.
Assisti ao primeiro jogo no Maracanã ainda nas arquibancadas do ventre materno, o Fla x Flu que decidiu e nos garantiu o título carioca de 1969. Vesti pela primeira vez o uniforme completo, com bandeira e tudo, na chegada do Papai Noel ao Maracanã, no início da década de 1970.
Vivenciei, daí por diante, o melhor e o pior do Fluminense. Vi títulos históricos nos áureos anos 1980, a penúria administrativa e desportiva que ensejou os rebaixamentos nos anos 1990 e o reerguimento do clube, com as conquistas de uma Copa do Brasil e dois campeonatos brasileiros a partir de 2007.
Fui Tricolor nos bons e nos maus momentos, como num casamento que se inicia bem antes da celebração no altar e não tem data para terminar. Continuarei sendo até o fim dos tempos, porque disso independe a minha vontade, porque ser Fluminense é um sentimento que impregna a alma de forma tão contundente e profunda, que dela não se desvincula, permanecendo como uma marca indelével a identificar o seu verdadeiro torcedor.
Sou do time tantas vezes campeão, do clube detentor da Taça Olímpica, cujas fidalguia, honra e ética são exemplos para o desporto nacional, sou torcedor do pioneiro e virtuoso Tricolor da Laranjeiras.
Obrigado, Fluminense Football Club, por ser, há cento e quinze anos, parte indissociável e relevante da história do esporte nacional, por ter sobrevivido aos detratores de seu imaculado nome, por ser a paixão incondicional de milhões de torcedores.
Obrigado, Fluminense, por ser Fluminense.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @FFleury
Imagem: f2
Não bastassem a poesia e beleza de cada texto dos colunistas dessa casa, ao “confessarem” o seu amor incondicional ao nosso Fluminense Football Club, a emoção transmitida gera ola de arrepios em seus leitores.