Aos jovens torcedores do Fluminense (por Paulo Tibúrcio)

Meus caros,

No dia 21 de Julho de 1902 nascia o Fluminense Football Club. São 115 anos de história, que acompanho há mais de 40 anos. São muitos momentos vividos, desde a primeira camisa que ganhei, tecido grosso, marca… não lembro. Na época, isto não importava, nos bastava o escudo estampado no lado esquerdo do peito. Para tanto, comprava-se a tricolor ou branca em diferentes lojas. O escudo vinha na camisa ou poderia ser adquirido à parte e costurado posteriormente.

Escudo e cores que me acompanharam por toda a infância. No jogo de botão, no álbum de figurinhas com Rivelino, Felix, Paulo Cesar Caju. Era o ano de 1975. Um tempo muito ao mesmo tempo presente é distante. Do interior do Estado do Rio de Janeiro, se ouvia o jogo pelo rádio, raramente na televisão. O grande momento esperado era a partida entre Flu e Voltaço pelo Campeonato Carioca no Raulino de Oliveira, até então um estádio “raiz”. Faltavam tecnologia e as modernidades atuais. Sobravam magia, tradição e glórias.

Mas não se enganem, jovens torcedores, não se constrói uma história de glórias e tradição sem o devido protagonismo. Nós ainda não existíamos e o Fluminense, desde a sua fundação pelo aristocrata Ocar Cox, já acumulava um legado digno de qualquer grande clube de futebol do mundo. Uma história épica, marcada por pioneirismo e conquistas. Sediou o primeiro jogo da Seleção Brasileira de Futebol, cujo primeiro gol foi marcado pelo jogador tricolor Oswaldo Gomes; Afrânio Antônio da Costa ganhou a primeira medalha olímpica brasileira no tiro; O clube promoveu e patrocinou os Jogos Olímpicos Latino-Americanos, precursor dos Jogos Pan-Americanos; conquistou a Taça Olímpica, o Campeonato Mundial de Futebol de 1952 e a taça de Prata de 1970; ganhou dezenas de Campeonatos Estaduais quando este tinha status de grande torneio. Não é pouco.

O Fluminense faz parte da minha vida, assim como faz parte da de vocês. Gostaria de poder compartilhar os sentimentos de períodos não tão distantes, mas que talvez alguns não tenham não tenham vivido. Com o Fluminense tive muitas felicidades. A Máquina me fez tricolor. Edinho preencheu meu orgulho de criança. Era meu representante na seleção. Assis, Washington e cia elevaram minha autoestima de adolescente perante a ameaça dos rivais. O gol de barriga me levou ao êxtase. Não posso me esquecer do super Ézio.

Também sofri. Por um curto período estivemos fora da divisão principal. Pensaram que seríamos extintos. Pode se derrubar um gigante. Destruí-lo é outra história. Com o apoio fundamental da torcida e o resgate da alma tricolor promovida por Parreira, voltamos ao topo. E voltamos fortes. Na Libertadores de 2008, vivi umas das campanhas mais lindas de um time em um campeonato. Infelizmente, os deuses do futebol decidiram adiar nossa conquista que espero ainda comemorar juntos em futuro próximo.

Torcer para o Fluminense é um privilégio, uma honra, um ato de fé. Celebrar as a vitórias enão se deixar abater pelas derrotas, pois elas virão, faz parte da vida. Não somos mero clientes, somos torcedores, “guerreiros”, desafiamos o imponderável.

Torcer para o Fluminense é ampliar sua visão para além do futebol. Reconhecer ídolos em outras instâncias. Santos Dumont, Nelson Rodrigues, Chico Buarque, Cartola, Arthur Moreira Lima e tantos outros.

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O momento atual que compartilhamos é outro. Muita coisa mudou durante este mais de um século de existência do clube. O jogo de botão e os álbuns ainda persistem, mas a hegemonia agora é dos games e redes sociais. O rádio foi substituído pela TV a cabo, o que faz diminuir a presença nos estádios, que se tornaram arenas. O pó de arroz aos poucos vai sendo substituído e pelos sinalizadores dos celulares. O futebol virou um grande negócio e o perfil do torcedor moderno tende para um cliente que consome uma marca. O debate a respeito das novas camisas mostram bem esta nova realidade. O desafio é saber se adaptar ao novo sem perder nossa tradição.

Podemos não ser mais o clube de outrora, mas continuamos fortes. Temos o reconhecimento do trabalho realizado nas divisões de base. Fomos um dos primeiros clubes a dar poder de voto para o sócio torcedor. Iniciamos uma parceria com um clube europeu ampliando a presença de nossa marca.

Também há muito a ser feito. Acertar as finanças, solucionar a questão do estádio, conquistar novas fontes de receita. Voltar a ter um time forte, com ídolos que possam formar torcedores, como aconteceu comigo quando ainda era garoto.

Por isto comemore bastante esta data, ela representa um grande marco para nós. E tenha em mente o aprendizado que recebi e ainda recebo das gerações anteriores. O Fluminense somos nós. Lute por ele, manifeste-se. De forma concreta ou virtual na Internet. Seja sócio, participe. Critique também, mas o faça de maneira correta, sem denegrir nossa história.

Desta forma, que daqui a 115 anos, nossos descendentes possam ter muito mais histórias para contar, pois somos eternos.

Parabéns, Fluminense Football Club!

“O Fluminense nasceu com a vocação da eternidade… tudo pode passar… só o Tricolor não passará jamais”.

Nelson Rodrigues

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @paulotiburciojr

Imagem: tiba