Tricolores de sangue grená, nosso time atualmente é a epítome da instabilidade, capaz de jogos maravilhosos, como a goleada em cima da Universidad de Quito e de partidas terríveis, como a derrota para o Botafogo; consegue feitos impressionantes como a vitória sobre o Coritiba fora de casa, com um time completamente remendado e cheio de desfalques, e proezas como ceder o empate ao Bahia no final da segunda etapa após jogar o tempo inteiro na defesa para não sofrer gols. O mesmo time voluntarioso e capaz de aplicação e garra durante todo o jogo também é aquele que às vezes passa um tempo de jogo inteiro com posse de bola pífia por passes errados, sem conseguir finalizar direito. Afinal, qual é a nossa cara?
Hoje estamos na primeira página da tabela, numa posição que, se não é a ideal, está longe de ser irrazoável se pensarmos que o Palmeiras, quinto colocado, só possui dois pontos a mais do que nós, que estamos em décimo lugar. E quinto colocado pega Libertadores. Os números frios da classificação dizem que estamos no páreo. E aí acabamos por olhar outros números e descobrimos que temos uma defesa extremamente vazada, que só perde nesse quesito para a do Vasco (24), que está à nossa frente, para a do Vitória e do Atlético-GO (também 24), que são os dois últimos colocados, e para a da Chapecoense 26 gols sofridos). Sofremos 22 gols.
Após 14 jogos, temos 47,6% de aproveitamento, perto de 50% de aproveitamento que, ao final dos 38 jogos disputados, se mantido, nos renderia 57 pontos e, provavelmente, uma vaga na Libertadores (embora não seja garantida). O ideal seria que conseguíssemos a média de 2 pontos por partida (66,6% de aproveitamento), mas isso é utopia, pois é média de campeão. Então, penso que precisamos mirar entre esses dois extremos. Conseguir 58% de aproveitamento e, com isso, 67 a 68 pontos, que garantiria a Libertadores e, se não houvesse a arrebatadora campanha do Corinthians, talvez até título.
Mas para sonharmos até mesmo com os 57 pontos e um pouco além, precisamos melhorar muito nosso sistema defensivo. E com sistema defensivo eu não digo “zaga”, porque entendo que Henrique e Reginaldo até vinham fazendo um bom trabalho. O problema está no restante, seja na cobertura dos laterais, e em maior escala, na volância. E aí, não dá para não falar de Orejuela. O equatoriano chegou no início do ano badaladíssimo, fazendo jogos em que não errava um passe e dava uma consistência absurda ao sistema defensivo, que sofria mais com a zaga. Hoje os papéis se inverteram. Após a contusão de Sornoza, Orejuela caiu absurdamente de produção.
Wendel não é um volante com características defensivas, então não poderia mesmo fazer essa função do “cincão porrador”. Se o equatoriano também não puder mais produzir nesse setor, cabe a Abel mexer no time e colocar alguém que possa. Pierre, quem diria, pode ser a solução, já que contratar, aparentemente, está fora de cogitação. Nem o lateral esquerdo do Criciúma conseguimos trazer sem nos desfazermos do nosso titular. Que fase! De todo modo, Lucas também vem produzindo pouco, mas não tem concorrência. Renato está na profissão errada. Eu deixaria Orejuela no banco até a volta do Sornoza, e faria um treinamento exaustivo com ele para se adaptar à função de primeiro volante e recuperar a precisão e a confiança de antes.
Do meio para a frente, por mais que tenhamos perdido Wellington Silva (o que acredito já ser certo), se mantivermos os demais ainda podemos ter alguma esperança de mantermos a eficiência. Temos o terceiro melhor ataque da competição, o artilheiro, e bons valores como Richalison e Calazans em um bom momento. Infelizmente Scarpa ainda não voltou a ser o jogador que era, embora esteja voltando aos poucos à forma. Ainda erra muitos passes e às vezes até nos coloca em situações complicadas. Pedro, que poderia ser o reserva ideal para Dourado (até o defendi aqui várias vezes), não está rendendo absolutamente nada. Não faz o pivô, não marca, não tem tempo de bola, não ganha dos zagueiros no alto, não finaliza…
E é essa gangorra tricolor que me preocupa. Como uma equipe pode ter a terceira pior defesa da competição e o terceiro melhor ataque? Como equilibrar isso de modo a continuar competitivos, com tantas lesões acontecendo, nenhuma previsão de reposição por reforços e o uso apenas da base e do Samorín para tal? Precisaremos nos reinventar nos próximos meses, recuperarmos quem pudermos, usarmos jogadores até no ostracismo como Gum e Renato Chaves e tentar extrair o melhor deles, como foi feito com Dourado. Jogador não desaprende a jogar bola, e eu tenho certeza que eles ainda podem dar samba. Que Abel conduza com maestria o processo e nos leve eventualmente a uma calmaria.
Curtas
– Maranhão foi para a Ponte Preta. Marquinho está lesionado. Osvaldo hoje joga no Sport. Dudu também já foi embora. Eu ouvi um amém?
– Abad deu a entender, no Boa Noite Fox desta segunda-feira, que a prática de usar principalmente jogadores da base e do Samorín continuará nos próximos anos. Na mesma entrevista, também disse que não há problema em ceder nossas pratas da casa aos rivais, dependendo dos valores envolvidos. É isso mesmo, presidente, agora só vamos abastecer os rivais e formar jogadores pra vender? De uma hora para outra vamos virar o Madureira? Não me anima nem um pouco pensar em ver um 2017 se repetir por anos a fio.
– Amanhã teremos pela frente o Cruzeiro no Giulite Coutinho. A equipe mineira vem bem no campeonato, mas também não é essa sumidade toda. Dependendo de quem tenhamos à disposição, acredito na vitória.
– Desafio será vencer o invicto Corinthians no domingo. Esse seria um jogo para a torcida lotar o Maracanã se o time não apresentasse tanta instabilidade defensiva. É difícil até para o tricolor mais fanático acreditar numa vitória, mas eu nunca aposto contra o Fluminense. Vou de 2 a 1.
– E quarta-feira que vem temos a altitude para derrotar. Por sorte, um mero empate nos basta. Que tragamos a vaga do Equador sem sustos.
Panorama Tricolor
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