Há cerca de dois anos o Botafogo estava “falido”, detentor de um passivo impagável e de uma receita líquida mensal incapaz de cobrir minimamente as despesas correntes do clube. Cogitava-se, inclusive, entre torcedores formadores de opinião botafoguenses, que a melhor medida seria a hipótese absurda de criar um novo Botafogo, sob um novo CNPJ, para que as dívidas se concentrassem no antigo, preservando-se ao menos o nome da instituição.
É certo que essa enorme dívida não foi paga, mas hoje o clube alvinegro administra suas contas com os pés no chão, não havendo notícias de salários atrasados ou de outros problemas financeiros que interfiram no bom ambiente do futebol. E o time avança com rara obstinação na Libertadores da América.
Se o passivo não foi coberto, qual foi a solução mágica que encontraram para fazer um clube à bancarrota reinventar-se, classificando-se para a Libertadores e avançando, na competição internacional, com desempenho de quem não passa por qualquer problema financeiro.
A resposta está no trinômio responsabilidade, austeridade e inteligência. Responsabilidade com o patrimônio alheio, austeridade nos gastos e inteligência na gestão e contratação de jogdores. O Botafogo expurgou o perdulário Maurício Assumpção e pôs no lugar um presidente comprometido exclusivamente em salvar o clube da extinção.
Não havia projetos mirabolantes nem promessas, apenas a tentativa de salvar o Botafogo de um triste e aparentemente inevitável fim. Rediscutiram dívidas, dispensaram os medalhões, apostaram na base e em contratações de jogadores desconhecidos, mas escolhidos criteriosamente por quem entende de futebol. Fizeram contratos mais curtos e limitaram o teto salarial. Perderam alguns jogadores que se valorizaram por isso, mas logo os repuseram sem perda de qualidade.
Hoje o Botafogo sobrevive e ainda aufere os dividendos de uma boa campanha na Libertadores.
E o que o Fluminense tem a ver com isso? Hoje, dois anos depois, é o Tricolor que vive situação semelhante, de penúria extrema decorrente de uma administração que enganou o torcedor com a falsa percepção de que se o futebol estava mal, financeiramente o clube caminhava equacionando suas dívidas.
Ao contrário do Botafogo, porém, o nosso presidente inepto encerrou seu mandato, mas elegeu seu sucessor, Pedro Abad. Assim, enquanto o alvinegro rompia com um passado de malfeitos e iniciava uma nova era, o Fluminense aparentemente dava continuidade a um projeto que chafurdou o clube em dívidas, elegendo um representante do grupo político que elegeu Peter Siemsen e o bancou até o fim de sua gestão.
Não houve, assim, como em General Severiano, uma ruptura abrupta, completa, irreversível com o passado, o que, certamente, no sentir da oposição, por interesse, e do torcedor pouco afeito às coisas da política, por desconhecimento, transforma Pedro Abad num títere da Flusócio e mera continuidade da desastrosa administração anterior.
É preciso, contudo, dar um voto de confiança ao novo presidente que, nesses primeiros meses de gestão tem procurado tirar o Fluminense das alturas e colocá-lo com os pés no chão, reduzindo despesas, pagando dívidas deixadas pelo antecessor e administrando um passivo sem fundo, sem prejuízo do olhar atento para a pedra de torque do Fluminense, que é o futebol.
Não dá para esperar muito de um clube com a situação financeira caótica do Fluminense. Flamengo, e o já citado Botafogo, mudaram radicalmente a forma de administrar o futebol e o resultado tem aparecido, mas nada é de uma hora para outra. Abad tenta reverter um quadro praticamente irreversível e ainda manter um time minimamente competitivo sem ter feito quase nenhum investimento. Se conseguir arrumar a casa, poderemos pensar, quem sabe daqui a um ou dois anos, em dar voos mais altos. Mas Abad precisa ser Abad e gerir de forma transparente e participativa o clube, sempre trazendo para junto de si os melhores quadros.
Para esta temporada mais um ou dois jogadores escolhidos com critério poderão nos dar a tranquilidade da permanência na série A e, quem sabe, com um pouco de sorte, uma chance de brigar por uma vaga na Libertadores. O Botafogo, vale de novo a comparação, conseguiu com muito menos.
A impaciência aflige o torcedor, mas a imprudência poderá atirar o Fluminense num buraco ainda mais profundo, de onde dificilmente sairá.
Panorama Tricolor
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Imagem: f2
Comparar a situação financeira atual do Fluminense com a do Botafogo, logo após a saída de Maurício Assunção, é absurdo.
Peter deixou dívidas, mas também ativos de alto valor. Os maiores destaques desse time foram, ou aquisições feitas na sua gestão, ou jogadores formados numa Xerém que ele revitalizou.