O Campeonato Carioca ficou para trás e junto com ele a fase inicial da jornada dos times brasileiros, pelo menos aqueles que figuram nas principais competições nacionais. Alguns torneios continuarão a ser disputados e o Fluminense participa da maioria deles até este momento.
Na minha opinião, o time tem ido bem. Apesar da perda do Campeonato Carioca e algumas falhas visíveis, principalmente na defesa, temos conseguido bons resultados. O time adquire um padrão e vem conseguido um maior entrosamento a cada jogo. Não é para ficarmos empolgados, mas também não vejo motivo para desespero, pelo menos até o momento.
Conforme dito acima, as opções de torneios são muitas e cada qual tem a sua importância. A Primeira Liga perdeu um pouco seu apelo, mas temos outras duas importantes competições, Copa do Brasil e Sul-Americana. A torcida tricolor tem dado uma importância a estas disputas, pois são atalhos para se chegar à Libertadores e, no caso de conquista da Sul-Americana, oferece, posteriormente, uma série de partidas que possibilitam ganho de imagem internacional e retorno financeiro. Não estão errados, devemos estar atentos a estas competições. Contudo, gostaria de dar uma ênfase maior naquele que eu considero o desafio mais crítico dos times de primeira linha do futebol brasileiro: O campeonato Brasileiro.
Há um pensamento reinante de que, por ser o Campeonato Brasileiro mais difícil, os times devem, de alguma forma, buscar refúgio nas competições de ciclo mais curto. São menos jogos e existe a possibilidade de se enfrentar equipes mais fortes com algum problema, se aproveitando desta situação para conseguir a classificação para a próxima fase. Isto é verdade, mas existe um risco embutido neste processo. O revés pode vir para o nosso lado e a recuperação ser mais difícil. Considerem, por exemplo, nosso último jogo contra o grêmio. Um resultado deste em um campeonato de longo como o Brasileiro teria um impacto menor, dentro de uma situação controlada e planejada. No “mata-mata”, um resultado ruim pode por tudo a perder. A saída prematura gera uma decepção na torcida e cria um vácuo no calendário.
O Campeonato Brasileiro é um torneio crítico. O mais difícil do ano. Também tem seus riscos, mas de outra natureza. O temor ao campeonato brasileiro é maior por um motivo muito simples. Exige um maior planejamento. E a maioria dos clubes brasileiros não sabem planejar (ou não se preocupam com isto). Planejamento a curto, médio e longo prazo. Isto está além da questão financeira. Os valores recebidos por cada clube têm um peso muito grande, mas este não é o fator preponderante, vide a Chapecoense, um case de sucesso, infelizmente afetado pelo trágico acontecimento que os acometeu.
Talvez por isto, o Fluminense tenha sofrido tanto nos últimos Campeonatos Brasileiros e, talvez por isto, a torcida do Fluminense passe a dar uma Ênfase maior para os outros torneios, na vã esperança de que num lampejo de sorte e oportunidade, consiga uma conquista que seria negada pelo torneio nacional. Não podemos contar com a sorte, sempre.
O ideal é estabelecer o planejamento do ano em torno do campeonato brasileiro e utilizar estes outros torneios como complementares. Obviamente, não podemos tratar o futebol como ciência exata, mas é sempre bom combinar o imponderável com a real capacidade do time no ano (curto prazo) e pensar o que fazer para melhorar para os próximos ano (médio e longo prazo).
Aproveitando o início do Brasileiro, farei uma análise, a título de ensaio, das possibilidades do Fluminense a curto prazo, analisando suas fraquezas forças, oportunidades e ameaças:
Fraquezas – Acredito que o maior problema do Fluminense para este ano é o elenco. O campeonato brasileiro é longo, jogadores importantes podem não estar disponíveis, seja por contusões, suspensões ou convocações para as seleções nacionais. Além disso, estamos com problemas financeiros sérios. Embora não seja o fim do mundo alardeado pela imprensa, esta situação nos impede de reforçar a equipe para os compromissos do ano.
Forças – Não sei se foi sorte ou intencional, mas a presença de Abel no comando do time qualificou muito a comissão técnica. Não é infalível, tem cometido equívocos em alguns jogos. De qualquer forma, tem sido fundamental para manter a confiança do time. Outro ponto importante é a qualidade de alguns jogadores, que tem compensado a inexperiência e a falta de entrosamento. O time está subindo de produção e caso não seja totalmente desfigurado, tem condições de nos deixar em uma situação segura no campeonato.
Oportunidades – Não acompanho a política do clube, mas darei um voto de confiança à atual gestão. Tem atuado, de certa forma, para buscar maneiras para atenuar o efeito das dívidas e, quiçá, normalizar a situação financeira do clube. Aproveito para falar a respeito da engenharia financeira que foi realizada. O nome é rebuscado e por isto causou tanta celeuma nas redes sociais. Cabe aqui uma tentativa de, humildemente, contribuir com a sua desmistificação. Em primeiro lugar, o uso da palavra engenharia. De forma ampla, é um conjunto de conhecimento, técnicas e métodos para se realizar um intento da forma mais eficiente possível. Aplica-se para construir uma casa, mandar um foguete para o espaço, desenvolver um software ou resolver a situação financeira de uma instituição. Não é nada de outro mundo, mas exige que a equipe que a realize tenha os conhecimentos e habilidades necessários para obter o sucesso. E o mérito do que foi realizado no Fluminense está justamente neste ponto. Ter pessoas qualificadas e com disposição para entender o problema, mapear a situação, estabelecer um plano de ação e executá-lo de forma eficiente. Outra questão: A ênfase acabou sendo dada a esta operação financeira, como se isto resolvesse os problemas do clube. Não vai. É um paliativo de curtíssimo prazo. Na entrevista do Diogo Bueno, não foi a engenharia financeira que mais me tranquilizou, mas sim a visão de que até o segundo semestre de 2018, teremos uma situação que nos permita investir no crescimento do clube. Vai demorar, mas permite planejar em bases reais. Espero apenas que o clube passe a ser mais transparente em relação a estas medidas.
Ameaças – A situação econômica do país e sua instabilidade política impedem que os clubes consigam captar verbas de patrocínios e estabelecer parceiras. Não é um problema exclusivo do Fluminense, mas nos afeta com maior impacto. Para este ano, não vejo outra alternativa senão fechar algum patrocínio com valor abaixo do valor de marca do Fluminense ou parceiras para períodos curtos, como a que foi feita com a Thinkseg nas finais do Carioca. As vendas de jogadores para suprir a carência financeira também serão inevitáveis. De qualquer forma, torcer para que o país entre logo nos eixos.
Outra ameaça é a questão do estádio. O alto custo do Maracanã tem gerado prejuízo ao Fluminense e o estádio Giulite Coutinho ainda apresenta problemas. Esta indecisão afasta a torcida. Esta questão da torcida é interessante e também foi alvo de algumas discussões nas redes sociais, sobre se a torcida do Fluminense não vai aos jogos porque é acomodada ou se falta estímulo por parte do clube. Não sou fiscal de torcedor. A questão é que nem todo torcedor tem disponibilidade para comparecer a todos os jogos, seja por questão financeira, logística, de trabalho, família, etc. Cabe ao clube realizar um estudo do perfil de torcida e maximizar a presença do torcedor no estádio. A saída mais óbvia é investir na fidelização do torcedor através de associação, mas para que isto seja mais efetivo, precisamos urgentemente de um estádio de referência.
Para o bom funcionamento de um clube de futebol, todas as questões levantadas acima são necessárias, mas o que importa, afinal de contas, é o resultado em campo. Para um campeonato complicado como o Brasileiro, fica difícil fazer um prognóstico. Pelo potencial da equipe do Fluminense, podemos estabelecer um patamar de classificação para a Libertadores. Tudo vai depender do crescimento da equipe e das vendas de jogadores, além das eventuais reposições. Só não podemos tomar atitudes intempestivas por conta de resultados ruins inflados por pressões internas e externas. Não podemos repetir os erros dos últimos anos.
Começamos com o pé direito, vencendo a forte equipe do Santos na estreia. Começar bem é muito importante, dá moral à equipe e anima a torcida. O próximo desafio é uma pedreira. Jogo contra o Atlético Mineiro em seus domínios. Podemos surpreender. Começou o Brasileiro e com ele a pressão, ansiedade, desespero, tristeza, alegria, êxtase. A verdadeira razão do futebol.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Imagem: bit