Marcar um gol logo no início de uma partida, na teoria, representa uma vantagem, porque além da vitória parcial via de regra desmonta a estratégia do adversário, que terá de repensar dentro de campo uma nova forma de atuar, diferentemente daquela transmitida pelo seu treinador na sua preparação para o jogo. Certamente é um fator complicador que pode dar à equipe que saiu na frente no marcador a oportunidade de impor seu ritmo e seu jogo, aproveitando a confusão imposta ao adversário que só terá a oportunidade de recompor-se plenamente após alguma orientação de seu técnico no intervalo da partida, e mesmo assim precariamente, porque deverá mudar toda a sua estratégia de jogo e repassa-la a seus jogadores em quinze minutos.
Por outro lado, se essa vantagem não for bem aproveitada pela equipe que marcou seu tento logo nos minutos iniciais da partida, ela poderá ser um fator determinante até mesmo para a derrota. É que, normalmente, times que logo saem na frente do marcador, por orientação técnica ou inconscientemente, recuam para atrair o adversário e utilizar o contra-ataque para ampliar o placar. Isso é o que ocorre na prática. Porém, esse recuo, não raras vezes, é realizado de forma inconsequente e a estratégia, ao invés de proporcionar facilidades de contragolpe, atrai de forma tão incisiva o adversário para cima, que uma equipe com um sistema de defesa frágil e sem saída para o contra-ataque acaba sendo sufocada até ver a sua vantagem esvair-se pouco a pouco.
É o que podemos chamar de “acomodar-se com a vantagem”. E foi o que aconteceu com o Fluminense no jogo contra o Grêmio. Aquele gol logo no início, numa competição em que o tento fora de casa vale muito, deu a impressão de que a missão já estava cumprida e que bastava segurar o resultado, ainda que sofressem o empate, resultado que não seria de todo ruim. Dessa forma, o ímpeto inicial Tricolor, que surpreendeu o Grêmio dentro de sua arena e perante sua torcida, não durou mais que dez minutos. A partir daí, o Flu cedeu espaços demais e abandonou a marcação alta, apostando numa estratégia que não deu certo, sobretudo com a equipe desfalcada de três importantes jogadores. Dessa forma, o Tricolor chamou para cima de si um time que tem por principal virtude a força dentro de casa, mas que, surpresa, estava sendo dominada em seus domínios.
A derrota Tricolor decorreu exatamente dessa mudança de postura, dessa acomodação com um resultado incerto mesmo com uma equipe que se reconhece frágil na defesa. Não sei se partiu de Abel Braga a orientação, mas certamente ele teve sua parcela de culpa, porque ao retornar para o segundo tempo, o time tornou-se ainda mais recuado e, nem a pressão incessante do Grêmio, que nos fazia a todos temermos o empate, o motivou a mexer rapidamente na equipe, aliás, o que já deveria ter sido feito na intervalo, se fosse seu real desejo vencer o jogo.
Essa satisfação com o empate tolheu Abelão, que só resolveu tentar alguma coisa quando a vaca já tinha ido para o brejo, e foi assim que o Flu praticamente deu adeus à Copa do Brasil, uma vez que, embora possível, terá que se desdobrar, como ainda não fez nesta competição, para reverter o resultado e conseguir a classificação, sobretudo contra um adversário com a força do Grêmio.
Tudo isso eu digo para que sirva de alerta. O Fluminense, com esse time que tem, com essa defesa que tem, não pode abdicar de marcar intensamente todo o tempo, de correr e se entregar de corpo e alma, sob pena de, em sendo covarde, inevitavelmente perder jogos em que poderia obter melhor resultado.
Contra o Atlético, logo mais, a história será mais ou menos parecida, devendo-se considerar, porém, que me parece um adversário ainda mais forte que a equipe gaúcha. Assim, ou o Fluminense muda a sua postura, ou deixará nas Alterosas três pontos.
Panorama Tricolor
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