Abel Braga já vinha reclamando do calendário de jogos neste início de temporada. Sem dizer claramente, podia-se ler nas entrelinhas que a sua irresignação era com a Primeira Liga. Abelão prefere o campeonato carioca. Decisão dele, da qual particularmente discordo, mas respeito.
Todo treinador tem suas manias e teimosias e Abel não foge à regra. Poderia ter poupado o time no campeonato carioca, competição em que o Flu já está classificado para a próxima fase. Não o fez de propósito, porque queria mostrar que o que lhe incomoda é a Primeira Liga.
Não discuto o mérito da sua decisão. Ele é o treinador e é regiamente pago para planejar e executar o que for melhor para o time. Assume os ônus e os bônus de suas decisões e deve ser cobrado ou celebrado por isso.
A derrota para o Internacional não foi boa para o Flu. Nunca é, mas penso que pelo menos uma constatação deve ter tido Abelão: o Fluminense não possui um elenco para disputar as principais competições nacionais. Tanto é que o planejamento tributário, que previa grupo fechado para o primeiro semestre, já está sendo reformulado. Pelo menos um novo reforço deve chegar ao Flu em breve.
Apesar de seu jeito simples e espontâneo, às vezes espontâneo e sincero demais, Abelão é um treinador que fala a linguagem do jogador, agregador e, sobretudo, um vencedor. Chegou ao Flu e apenas na conversa e com três reforços, mudou da água para o vinho uma equipe em que ninguém mais confiava.
É isso o que torcedor tricolor espera: uma equipe competitiva, aguerrida, vencedora. Talvez por isso as primeiras críticas após a derrota para o Internacional. Não pela derrota propriamente dita, mas pelas más lembranças de 2016. Quando o Tricolor já vinha se acostumando a uma nova rotina de vitórias, o malogro foi uma ducha de água fria, principalmente porque o time colorado é muito fraco, dando a sensação, a quem assistiu à partida, de que o nosso time titular poderia vencê-los até com certa facilidade.
Além da quebra da boa sequência de vitórias, perder para o Inter talvez não traga consequências maiores. O Flu deverá se classificar na Primeira Liga, isto é, se Abelão entender que deve jogar de agora em diante com força máxima. Todos já entendemos que ele não aprova a competição que o Flu ajudou a criar, mas já chega. Ou a disputa seriamente ou não disputa mais.
Abelão, a meu ver errou pela primeira vez nessa nova passagem pelo Flu. Errará outras, mas para se avaliar o seu trabalho será preciso sopesar seus erros e acertos, ponderá-los e ao fim constatar o que prepondera.
De qualquer forma, Abel Braga não é homem de fugir das divididas. Se realmente continuar a preterir a Primeira Liga, deverá arcar com as consequências, especialmente se o Flu não conquistar o carioca, competição em que aposta as suas fichas.
Abel é o melhor que podemos ter no momento, é o responsável pela nova “cara” do Flu nesse início de temporada e merece toda a confiança da torcida tricolor, o que não me impede, nem a nenhum tricolor, de criticá-lo quando errar. E aí está, diferentemente de muitos treinadores, uma outra virtude de Abel: a de assumir seus erros e aprender com eles.
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