Francis versus Francis (por Alva Benigno)

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CHAMPANHE NO GELO

Zanzi acordou cedo, ignorou Esmeralda como sempre, levantou-se para o banho e se dedicou a um de seus passatempos prediletos naquela atividade: a automassagem anal com sabonete. Segundo o relator, esta inusitada prática requer algumas particularidades. Primeiro, o sabonete precisa ser oval e novo, da marca Francis. Segundo, tem que ser aberto durante o banho. Terceiro, só serve se for o de cor laranja. Quarto, geralmente o banho exige trilha sonora, de preferência com hits dançantes dos anos 1970, 1980 e 1990. Uma das canções obrigatórias do Chico Safado é “Marrom Glacê”, do saudoso hitmaker Ronaldo Resedá (“Champanhe no gelo, salgados, doces/Prepare os talheres, os discos e as poses”), além de temas do grupo inglês Culture Club. Às vezes, põe jazz e música clássica, que detesta, mas ouve para que alguma eventual visita da casa o ache “culto”. Da mesma maneira, deixa no banheiro revistas como Paris Match e Time, sem ler um pingo de francês ou inglês, é claro.

O BANHO DO PRAZER

Do chuveiro, a água jorra feito uma cachoeira, batendo na carcaça envelhecida do velho safado, descendo pelas costas até chegar ao veterano popô. Os filetes roçam delicadamente a cloaca e lhe oferecem tesão. Ele vai até a pia, molhando todo o chão – a criada que seque-, pega a caixa virgem de Francis, abre, tira o papel de invólucro como se abrisse o envelope de um preservativo e geme ao pegar o sabonete laranja. Corre de volta para o box e faz sua Pecadópolis particular: volta para debaixo do chuveiro, sente a água lhe alisar como se fosse o homem preferido e o pobre Francis é posto para circular na cloaca do velho, subindo e descendo até que rapidamente Francisco da Zanzibar se enche de tesão e cogita usá-lo como supositório, mas reflete que ainda está muito largo para servir de consolo. Desiste da auto penetração, fica só de roçadinhas, sente a pica flácida subir mas não se masturba. Para, geme e se realiza com o banho.

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CLUB

Passou da roleta, manjou um segurança bonitão, sorriu de lado e saiu com seu jeito adolescente sexagenário. Na direção do bar do pênis ficou horrorizado ao ver Paulo Anderson, um escritor tricolor comunista: “Que diabos este gordo está fazendo aqui?”. E resolveu segui-lo.

No BP, viu o ensaio de uma peça infantil de teatro de marionetes, além de uma reunião de pessoas brancas, de bem, em nome de Deus contra a corrupção, em tributo a Agnaldo Happybath, o eterno amargurado com as eleições, prometendo vingança contra tudo e todos. Zanzi espiou a turma, deu de ombros, saiu rebolativo e continuou a seguir Andel, até descobrir o destino do escritor: a churrasqueira. Happybath não apareceu, mandando apenas seus leõezinhos de chícara. Um fanfarrão.

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Perto da escada, viu o grupo de 50 homens da agremiação política Vinteum. Pensou em subir e participar, mas declinou assim que perdeu Andel de vista e, num súbito deu de cara com seu algoz. La estava o lutador careca da Ibéria, seu eterno antagonista, preparando um churrasco, suado, com sua camiseta verde, exalando cheiros que imediatamente mexeram com os instintos da mona safada de Copacabana. Num segundo depois, o drama.

A FACA

Gonzalão cortava as carnes com uma faca afiadíssima, de cabo branco, potente, muito parecida com a utilizada pelo artista Rogerio Skylab em seus shows. De longe, sério, sóbrio, Chiquinho admirava seu herói e não demonstrava seus desejos homoeróticos, mas não parava de olhar o fio de metal atravessando picanhas e linguicas, como se as deflorasse. Ficou com tesão, mas se reprimiu prontamente. Enquanto isso, regozijava-se ao ver a conjunção carnal numa suruba com o utensílio de corte. E sonhou acordado que estava nu, deitado, enquanto o lutador lhe atirava as carnes e o xingava: “Você é um reacionário de merda”. Ao mesmo tempo, o próprio Chiquinho esfregaria em si mesmo o cabo da faca.

Imediatamente voltou a si e, ao olhar o churrasco, não viu mais seu ídolo. Naquele instante, chegou ao clube um grande jogador do passado, saudado por todos, sucedido por uma subcelebridade em busca de quinze segundos de fama. Chiquinho reconheceu o anônimo e disparou: “Que merda ser puxa saco e ninguém reconhecer…”. Disparou a risada caótica e foi para o bar da piscina.

EPÍLOGO

Tomando uma caipirinha e rindo das peraltices com Francis, Chiquinho ficou admirando o ir e vir de alguns sócios, quando reviu Andel saindo do clube com Leo dos Prazeres, piloto de avião e prócer do blog comunista Panorama Tricolor. Os dois homens caminhavam. Chico gritou sozinho, sem muita força: “Quero ser seu avião”. Um garotinho de uns três anos de idade que estava perto começou a chorar, sendo imediatamente acudido por seu pai, um jovem atlético sem camisa.

“Criança é assim besmo, benino”.

Depois ri e pensa em voltar logo para casa. Francis não teria perdão desta vez. Mas a faca… hummmmmmm…

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Panorama Tricolor

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