Presença de Anitta (por Paulo-Roberto Andel)

paulo-desenho-2017-green

Daqui a pouco começa o ano de 2017 de vez, e é natural que o torcedor do Fluminense cobre da direção um time à altura das tradições do clube, capaz de conquistar títulos. Naturalíssimo, aliás. Todos de saco cheio das últimas temporadas.

Algumas considerações são fundamentais.

A primeira: não há dinheiro nem para loucuras, nem para apostas erradas que sirvam de paliativo das cobranças, nem para medalhões com supersalários. De barbaridades, já basta o passado recente e um pouco mais distante. A conta não está fácil.

A segunda: pelo menos nos últimos 50 ou 60 anos – ou 67 anos se considerarmos a Era Maracanã (aquele, inesquecível e este, destroçado), raras foram as vezes em que o Tricolor começou temporadas como favorito supremo de conquistas. Pode-se falar de 1975, 1976, 1985 e 2013 (esta, desastrosa ao seu final). A história vitoriosa do Flu foi construída na maioria das vezes com nomes sem alarde, sem manchetes e com muito trabalho.

A terceira: quando contratamos jogadores consagrados, definitivos, capazes de realmente mudar paradigmas de desconfiança? Ademir Menezes no distante ano de 1946, Roberto Rivellino em 1975, Romerito em 1984. É possível falar de duas ou três dúzias de nomes relevantes que obtiveram sucesso posteriormente, mas nenhum deles chegou às Laranjeiras estando no auge da carreira ou gozando de absoluto prestígio midiático, dentre eles Assis, Washington, Renato Gaúcho, Fred, Deco e outrem.

A quarta: em anos como os de 1980, 1983, 1995, 2002, 2005, 2010 e 2012, o Fluminense sempre teve em campo jogadores que vinham de temporadas opacas ou mesmo de fracassos, alguns deles retumbantes. E também o aproveitamento de jogadores da base, nenhum destes apontado como um superdotado da bola. A tradição de aproveitar gente da casa se deu até no mais emblemático time da história do clube, a Máquina Tricolor. Não, não vão aparecer num mesmo time um Edinho, um Pintinho, um Cleber e a aplicação de um Rubens Galaxe, mas os mais desatentos podem lembrar que o hoje cultuado Wellington Nem esteve a dois passos de ser chutado no fim de 2011 – e que jovens como Alan e Maicon só foram efetivados em 2009 quando tudo parecia irremediavelmente perdido.

A quinta: as cobranças devem ser feitas pelos torcedores, pois esta é a rotina de um clube grande como o Fluminense. E vale a pena a direção se aproximar da torcida, escutando-a de verdade. Agora, parece intelectualmente razoável deixar que os caras trabalhem ao menos algum tempo para então haver uma avaliação que, inclusive, ajude a determinar a intensidade desta mesma cobrança. Não confundir o justo desejo por um Fluminense melhor com a esquizofrenia politiqueira que tomou conta de uma ou outra minúscula parcela, auto-declarada mais importante do que realmente é. Política é outra coisa, ou ao menos deveria ser.

Resumindo: 2017 não tem a menor pinta de que será moleza, mas quando foi mole para o Flu? Vou torcer muito pelo sucesso, acreditar, elogiar o que for certo e criticar erros. E nada além disso. Não sou conchavado com a gestão eleita – que apoio – e nem com os grupos eleitorais derrotados ano passado – os que têm consideração por mim a demonstram exclusivamente por conta de meus esforços literários.

Meu partido é o PFFC.

xxxxxxxxxx

Falando em importância pessoal, essa estranha sensação oca que mal se sustenta quando você está diante de um prédio de 30 andares, ou do querido e maltratado Maracanã, ou do Pão de Açúcar, ou dentro de um avião sob turbulência, desde que se tenha algum bom senso. Somos todos tão formiguinhas quanto aquelas que matamos na pia da cozinha perto de algum farelo de bolo. Um enfartozinho, uma bala perdida e ploft: apodrecemos para sempre em 24 horas.

O que mais se vê por aí nas redes antissociais são as caricatas subsubsubsubcelebridades tricolores, grupo ao qual supostamente também pertenço (absolutamente contra a vontade e caricatura apenas nesta coluna) com uma diferença fundamental: eu faço uso permanente do medicamento Simancol.

Aos “artistas exclusivos”, personagens risíveis, gente com as respostas prontas para tudo mas nenhuma linha de realizações em currículo pessoal, salvo minguadíssimos casos, e “formadores de opinião” que não formam tanta opinião assim, tenho uma péssima notícia.

Há tempos, tenho brincado com alguns amigos dessa dita imprensa segmentada tricolor (composta por subsubsubcelebridades, ressalte-se) que, diante de uma foto de Anitta, a jovem e bela cantora funk-pop, não somos absolutamente nada. Uma piadinha jocosa, de auto-ridicularização típica dos descendentes de judeus, como eu sou.

Nestas férias, resolvi comprovar minha tese de botequim e fui à página de Anitta na rede antissocial Facebook.

Treze milhões de seguidores, mais do que Vasco, Botafogo e Fluminense juntos.

A primeira postagem, uma foto da bela de biquíni em algum cenário marinho que talvez seja europeu, da America Central ou mesmo de algum dos paraísos escondidos do Brasil. Cento e dez mil láiques, mil compartilhamentos.

E, afinal, o que quer dizer tudo isso? Nada de absolutamente relevante e também de menos ainda, o que aí sim quer dizer muita coisa.

Basta apenas ter bom senso.

xxxxxxxxxx

Pessoal, “O Fluminense na Estrada” e “Gol de Barriga 2” estão esgotados. Vai ter reimpressão, provavelmente em março.

Não me canso de repetir: agradeço sempre às centenas de tricolores que prestigiam o meu trabalho literário.

Abraçaço.

Tou de férias, volto ainda neste mês se o patrão me pagar.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: dan

temporada 2017 nomes datilografados