O médico, o monstro e o fuíco (por Alva Benigno)

1) O MÉDICO E O MONSTRO

img_20161109_071619

Um homem que gosta de ser viril, já mandou no clube, deseja ser presidente acima de tudo e de todos. É odiado por Chiquinho Zanzibar, porque era seu proctologista. Adora craques passados em atividade.

Zanzi já foi o seu homem da mala da alegria. A torcida ficava idiotizada como crianças que ainda observam o mundo como magias atualizadas, aventuras incríveis de serem vividas, esperanças renovadas a cada dia. Acreditava piamente nas grandes atuações do time do coração porque era isso que enxergava, o que suas emoções pouco elaboradas deixavam ver. Algumas eram ótimas, claro, de alto nível. Mas sempre que o time adversário, ou alguns de seus jogadores, pudesse dar uma aliviada estratégica, Chiquinho ria mais do que todos.

Conta bancária? Dinheiro vivo. Visitas passando por barreiras policiais? Só no jatinho particular, sem essa história de raio-X. Arrancadas que só dependeram dos esforços e da coragem de técnicos e seus comissionados, além de destemidos jogadores em seu auto sacrifício? Cada um acredita naquilo que seu desejo permite.

mala-grana

Chiquinho só quer os potrinhos, e não alazões cansados em atividade. Não quer mais, também, ser o garoto de recados “Bye, bye, Brasil”, levando a maleta de norte a sul para garantir a festa das memoráveis campanhas salvadoras inacreditáveis. Repudia sua campanha e seu desprezo por Xerém. Sabe que o Dr. Tonoclêncio se acha uma espécie de semideus por achar que recupera a potência de ex-craques em atividade. Ele é uma espécie de Rei Taumaturgo, ao exercer a cura, como os reis de França, impondo suas mãos. Mas não abre mão do levadinho, como um curandeiro lemgrubiano.

Foi posto para fora da igreja de cura que administrava, estava meio sumido, mas viu no Fluminense o lugar perfeito para montar uma seleção de seniores das melhores do mundo! Seu time entraria em campo como os zumbis do clipe Thriller, de Michael Jackson. E ele, Dr. Tonoclêncio, chegaria com seu Rolls Royce estilo John Kennedy, imporia as mãos e todos ficariam eretos e em perfeita forma. Isso até o primeiro pique, até a primeira dividida. Fortes e viris por fora, mas frágeis por dentro. Uma verdadeira seleção FIFA madame Tissot.

Jogadores minotauros, metade homem, metade touro cansado. Espíritos que não querem desencarnar do mundo do futebol, e que Dr. Tonoclêncio consegue fazer baixar no Fluminense.

minotauro

O Zanzifone não parou de tocar nos últimos dias, principalmente depois do debate promovido pelo site do jornalista bem apanhado da cor do pecado (segundo nosso escrotíssimo personagem principal, “um moreno jambo de fazer sonhar”), e seu parceiro do cavagnhac de garoto safado que manja as empregadas dos vizinhos. Lá estava ele, em tese incólume, como se fosse 100% uma obra de ficção ambulante. Sabia que o número desconhecido era uma das senhas manjadas de Tonoclêncio querer voltar a lhe oferecer coisas que supostamente estaria interessado. Afinal, era um homem cheio de capachos, como Happybath, com as manhas do discurso sedutor, desses que faz até o mais viril acabar numa banheira com bofes de todas as etnias.

Chiquinho não quer mais saber do avançadíssimo exame que seu ex-médico retal lhe aplicava, o das duas mãos nos ombros. Via-o aplicando noutros pacientes/parceiros incautos, com outras malas da alegria correndo pra lá e pra cá. Assim como Happybath, mostrou sua energia máscula de ótimo homem branco do bem, rico meritocrático empresarial, líder carismático poderoso de fala firme heterossexual experiente em todo o debate. Chiquinho já viu muito galo cantar fino ao amanhecer, e esse tipo fanfarrão de “eu posso tudo, eu sou o caminho do novo” não lhe impressionava mais. E pensava: afinal, por que, depois de alguns meses de desprezo, ambos os doutores tanto lhe procuravam nos últimos dias? Suas campanhas não estavam fortes, bem armadas e com garantia de sucesso?

Zanzibar foi dormir sabendo de que mentiras sinceras não mais lhe tocavam o coração, e que também nenhum galo que cantasse como Beyoncé, querendo se fazer de Barry White, conseguiria lhe tirar debaixo de seus lençóis de cetim.

beyonce

2) DÁ ESSE FUÍCO PRA ELE, PORRA!

Duas da manhã, o smartphone apita loucamente e Chiquinho acorda putérrimo da vida, enquanto Esmeralda ronca divinamente em pleno sonho do prazer cumprido.

Do outro lado da linha, Filhão choramingava e urrava feito uma histérica fã de bandas teen ao ver seus cantores prediletos no aeroporto:

“Zanzi, eu não aguento mais. Temos que expulsar aquele blogueiro comunista de merda da internet. Ele me tira do sério. Você não vê que Happybath sai fortalecido com isso?”

“Filhão, vá tomar no meio do seu cu sujo, ou vá tocar cunheta com essa sua mão pastosa, porra! Duas da manhã e você vem com essa viadagem? Deixa de ser burro: o cara não é comunista porra nenhuma. E é um bofão. Deixa de ser otário. Senta logo com o Happybath e conversa, é conversando que a gente se entende. Desde que vocês ficaram com essa babaquice no Whatsapp, tudo piorou para nós. Dá esse fuíco sujo e flácido pra ele, porra!”

“Numa hora você quer a destruição do Happy, na outra quer conversar. Eu não te entendo. Eu tenho ódio do blogueiro.”

“Claro. Você não entende por um simples motivo: É BURRO PRA CARALHO. Entendeu ou quer que repita? VOCÊ É BURRO PRA CARALHO. Se tiver que negociar qualquer coisa com você ou o criado-mudo do quarto, ele é muito mais inteligente. Outra coisa: vê se resolve melhor tua vida. Ficou putinha porque achou que o cara ia te botar de rainha de bateria na escola, seu débil mental? Faça-me um favor: TE ENXERGA, SEU MERRRRRRRRRRRRDAAAAAAA.”

(Segundos de silêncio, pequeno choro de Filhão, carente na noite)

“Você é muito grosso, Zanzibar! (Snif)”

“Grosso é a puta que te pariu, seu debiloide. Duas da manhã e você fica enchendo meu saco. Quer saber? Vá pegar no piru do Happybath, vá pagar boquete pro blogueiro, vá lamber a rola mole do outro blogayro, vá pra casa do caralho e não fode! BABACA! BURRO! JUMENTO DE INTERNET! Eu quero saber é do meu levadinho e da minha sauna, porra. Amanhã ou depois, se a gente precisar do HB, como é que fica? BURRO, BURRO, MIL VEZES BURRO!”

BLOAFT!

zanzibar-eu-decido-tudo

(Ligação encerrada)

(Trinta segundos de silêncio, Esmeralda ronca como se gozasse com o amante, toca o smartphone de novo. Chiquinho pensa em jogar o aparelho na parede, mas desiste e atende)

“Quando a gente conversa/Contando casos, besteiras/Tanta coisa em comum/Deixando escapar segredos/E eu não sei em que hora dizer/Me dá um medo, que medo/É que eu preciso dizer que eu te amo/Te ganhar ou perder sem engano/Eu preciso dizer que eu te amo tanto/E até o tempo passa arrastado/Só pra eu ficar do teu lado/Você me chora dores de outro amor/Se abre e acaba comigo/E nessa novela eu não quero/Ser teu amigo/É que eu preciso dizer que eu te amo
Te ganhar ou perder sem engano/Eu preciso dizer que eu te amo tanto”

Ouvindo a canção de Cazuza, Dé e Bebel Gilberto, Chiquinho Zanzibar fica comovido e responde a Filhão:

“Desculpe, meu bem. Não era hora dessas coisas. Durma com Deus (sic)”.

A mona velha do cabelo acaju desafia definições. Ela sabe dos lances.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: alva

george-michael-tricolor