Sabichona! Sabichonaaaaaaa! (por Alva Benigno)

alva japonês tricolor

CUIDADO: CONTÉM LINGUAGEM FORTE

I

ZANZIWORLD AROUND THE CLUB

Chiquinho Zanzibar tem muito medo de que Agnaldo Happybath o deixe na mão, porque sabe que a fidelidade não é um de seus atributos. Já deixou até com o michê sem ser pago, depois de uma longa noite de orgias, sendo salvo inúmeras vezes pelo prestígio de Zanzibar no universo da sacanagem underground carioca. Assim, um churrasco boca livre poderia ser a última cartada para que continuasse dando as caras com a leveza de uma libélula na próxima gestão.

Nunca negava uma linguiça de graça.

Muitos bofes maduros e bem apessoados, nem se fala. Era de arrepiar seu veterano ânus decrépito e carequinha de tanto uso.

O careca almodovariano havia lhe dado um fora, mas só de estar perto e sentir o seu cheiro de amor proibido o deixava com o saco escrotal arrepiado até o último pelo velho.

O Uber não falhou. Pagou uma caixinha generosa para que o motorista não encrencasse com seu becão 180 mg digestivo.

Chegou ao club para sentir o clima, e o cheiro de carne já era o presságio de sucesso nos convescotes para se proteger do pseudo malandro de porta de cadeia.

Viu alguns conhecidos de lugares proibidos, mas a presença das famílias brancas, heterossexuais, ricas e do bem proibiam comentários apimentados. Seu Chiquinho sabia muito bem a etiqueta de cada lugar. Entendia que estava ali para evitar que se desse mal e fosse posto para fora do governo, depois de anos de boa penetração e trânsito.

Abraços e brincadeiras de homem com H foram dando a ele o tempero da comilança. Sabia de todos ali algum podre, tinha informações para destruir possíveis desafetos: um áudio, um e-mail, uma cópia de contrato. Assim, foi se chegando para perto do churrasco, da carne apetitosa e pulsante no vigoroso espeto. A linguiça pingava de tão deliciosa.

Pratinho de cu é rola! Pegou uma das grossas, não aguentou, e, diante de todos, chupou a graúda como nunca. O fez com a delicadeza e a felicidade de quem acredita que pode enganar a qualquer um. Estava todo lambuzado, com a gordura descendo pelo lábio, escorrendo pelo queixo, entre as aponevroses do prazer sórdido.

Crianças olhavam estupefatas.

Chiquinho Zanzibar quer acreditar que pode se dar bem com todos. Não entende mais o que está ocorrendo na política do club.

Como assim pessoas se unindo, sem problemas de fazer fortuna pessoal?

Como assim querer ganhar títulos? Por que exercitar a tolerância?

Que diabos era aquilo?

Está doente, observa a cerveja à espera de um bicão como ele. Bebe no gargalo uma, duas, três, e chupa numa garganta profunda a quarta.

O álcool o faz delirar, mistura as bolas, navega em mimimis psicodélicos. Era um purista das escroquerias, e não havia santo que o fizesse acreditar em pessoas do bem ou do mal. Somos anjos e demônios misturados no pior dos mundos possíveis.

Inebriado, Chiquinho Zanzibar, o velho Zanzi, a tia velha de acaju, vai ao banheiro. Toma seu Xanax, depois uma carreira barata da boa. Sai da cabine com o nariz sujo.  O que fazer? União de diferentes sem nenhum levadinho? Seria esse o caminho para se proteger das articulações de Agnaldo Happybath?

Quando volta, todos já haviam ido para o jogo.

Como boa rapina que é, Chiquinho Zanzibar está só, comendo as carnes mornas que ninguém quis mais.

Sorve as últimas cervejas quentes e cai em prantos.

Ao longe, Agnaldo Happybath assiste a tudo com olhar atônito, enquanto dá uma risada de canto de olho.

Chiquinho Zanzibar subitamente ronca como um porco com sinusite, e nem sente o beijo da morte que Happybath lhe tasca em sua boca enrugada e decadente. Num estrondo, explode um grito:

– SABICHONA! SABICHONA! SABICHONAAAAAAAA!

E então a mona velha acorda da mistura entre sonho, pesadelo e realidade fantástica.

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II

FILHÃO TÁ PUTA

O telefone toca na sala depois do empate insosso com o Atlético-PR, em cima da mesa, bem ao lado de uma embalagem de pizza gigante de rúcula.

A tia atende e vem uma saraivada de gritos:

“Esse filha da puta me paga, escroto do caralho, viado do inferno que fica assediando mulher pra fingir de machão. Pensa que engana quem? Foi ele que tramou essa putaria toda contra mim. Corno do caralho, vou vazar todos os e-mails dele para todo mundo saber quem é.”

“Filhão, deixa de ser otária. Para que todo esse ódio. No fim somos todas bibas, mona. O que importa é o poder, tanto faz ganhar ou perder.”

“Eu não vou deixar isso barato, esse viadinho vai ter que me pagar. Sei que ele é teu afilhado, mas não vale nada. Bem que me avisaram.”

“O que foi que ele fez?”

“Leia as manchetes, bicha velha. Leia as manchetes. Tá no UOL, tá no Globoesporte.”

“Não fode, Mulher Filhão. Vá arrumar bonde de travestis para atacar aquele careca maldito e não encha o meu saco”.

“Nossaaaaa, que grossoooo”.

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III

A FÚRIA DO PRÍNCIPE CHARLES QUE QUERIA SER LADY DI

Indignado por ter sido barrado no churrasco e cada vez mais amargo, Charles de Lausanne resolve botar fogo no puteiro virtual e faz um textão indignado na rede social Facebook. Ganha likes, elogios de picaretas e se sente o máximo, mas a desilusão chega segundos depois por meio de uma mensagem via inbox:

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Desesperado, corre para o quarto do grande apartamento e grita “MAMÃE, MAMÃE, MAMÃE, TÃO MANGANDO DE MIM”.

A velha senhora responde: “Charlinho, não liga, eles têm inveja porque você é o melhor homem do mundo: rico, fino, másculo, inteligente, bonito, estudado, poliglota,  entendido”.

O elegante – e escroque – Charly ficou sem palavras. Silêncio.

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