Feriadão de 12 de outubro, nossa bicha acaju levanta ajeitando a cabeleira enquanto Esmeralda ronca e ronca. Ajeita o robe grená, vai para o banho, volta, a coroa ronca como se estivesse no primeiro sono e ele se veste. Antes de sair para dar uma voltinha, resolve espiar o computador e aí tem seu planos alterados: diversos recados inbox. Quando pensa em responder, pisca mais um. Do outro lado da tela, seu filho, seu amante, seu Robin: Filhão.
Conversa vai, conversa vem, para se sentirem mais à vontade marcam no Bar Bico, perto da eterna Galeria Alaska, um reduto oficial de Chiquinho, desde que o o renomado-ado-ado (sem rimas mequetrefes) cantor Agnaldo Timóteo consagrou o espaço ao gravar a canção “Galeria do Amor”.
Meia hora depois os dois se encontram e mudam de ambiente, indo para o Eclipse, duas quadras adiante, um ambiente de alegria e diversidade. Sentam-se para pedir um café reforçado.
Ao começar com seu tradicional discurso prolixo, Filhão é interpelado pelo velho escroque, sem muita paciência para discursos longos. A velha história de Robin tomando esporro de Batman.
– Para de viadagem e dá teu papo logo sem historinha, que eu tou com pressa.
Filhão, um suposto machão de internet, agora foi o ameaçado. Recebeu recados e insinuações de que poderia levar muita porrada de tricolores insatisfeitos com suas atitudes. Num deles, foi até ameaçado de penetração anal, sendo logo interrompido pela tia acaju:
– Tá de palhaçada, mona? Tu é guei que eu sei. Já fez até brincadeirinha em grupo e vem com essa?
– Estava escrito que a penetração seria a última da minha vida.
– Xiiiiiiiiiiiiiiii, babado forte, mona! Vai na Polícia.
Depois de trocentos mil prints de suas idiotices espalhados pela comunidade tricolor na internet, não era um bom negócio para Filhão procurar as autoridades. O contragolpe poderia ser caro demais, ainda mais em época de ferveção politiqueira do clube, por conta do ano eleitoral.
– Vocês ficam todos nervosos. Outro dia o Cafunguinha tratou mal aquele bofão da reportagem. Happybath tá a mil, prometendo até estádio do Fluminense na Lua, Jorge Nunes tá soltinho. Vocês têm que gozar mais, viver a vida, mona! Pensa nos beninos de Xerém, prontinhos pra gente rifar. Tem que me botar nessa bocada da Europa, eu preciso de um levadinho. Você fica tão tensa que parece uma lombriga no intestino de um bofe. Fala merda, por isso é que fica tomando esporro em público.
O menino Filhão nervoso, pensando que pela primeira vez poderia ser passivo involuntariamente numa relação sexual, preocupado em entrar na porrada, e Chiquinho Zanzibar como sempre ruminando sexo, negociatas e escrotidão. Dali não sairia uma boa ajuda, mas ao menos algumas piadas para diversão.
Depois, trocaram amenidades aos poucos. Até entrelaçaram as mãos em certo momento, recordando os velhos tempos. Riram, tomaram café, frutas, misto quente. O muquirana não mexeu na carteira: “Quem chamou, paga! Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!”
Deixaram o Eclipse, um bar danadinho, voltaram pela Copacabana, entraram na Francisco Sá, resolveram andar até o calçadão. Perto da areia, Filhão resolve espiar o smartphone. Quase desmaia: AIMEODEUX!
Zanzi pergunta o que é, o menino prodígio da sauna lhe mostra a tela do aparelho e uma mensagem de Whatsapp escrita por “Diabo Comedor”, em caixa alta, desafia até personagens mais ponderados:
– QUEM SABE DOS LANCES SOU EU, PUTÃO. TENHO UM VIDEO TEU MAMANDO CENOURA CASCUDA. CALA ESSA PORRA DESSA BOCA, ANTES QUE TE CHAMEM DE FILHOTA.
Em seguida, uma nova mensagem com a foto de um saco escrotal.
Zanzibar olhou para o lado, seu pupilo estava quase verde, estático, sem reação:
– Você foi mulher desse diabo?
– Houve uma conversa, difícil vai ser explicar…
– Quem é esse diabo, mona? Quem te comeu? O careca? O gordo? O negão?
– O nosso anjinho do verão passado.
Dois homens calados, respeitáveis, papais de família, com suas vidas duplas, contemplando a ensolarada praia de Copacabana, uma casa de mil peripécias, aventuras e sacanagens. Aí chega a vez de Chiquinho olhar o celular e receber uma mensagem: “Oi, Zan, tá por onde? Quer tomar um café comigo?”. Era Charles de Lausanne.
– Acabamos de tomar eu e o Filhote, mas podemos te encontrar. Onde você está?
– Vem pra cá. Eu tou na casa do Mário.
– O QUÊ? QUE MÁRIO?
– Aquele, Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk!
– Palhaça! Quase que o Robin desmaia aqui de novo. Já vamos. Nós é que conhecemos dos lances, porraaa!
Imediatamente pegaram um táxi. O almoço seria ferveção puríssima de bandeja de prata. Uhu, Fla-Flu!
Panorama Tricolor
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Imagem: Alva