A farsa do futebol (por Felipe Fleury)

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O futebol, dentro de campo, só pode ser manipulado através da subjetividade. Somente a dúvida pode justificar o erro, uma vez que para o lance evidente não há outra solução senão a obviedade.

Talvez seja esse o motivo pelo qual os dirigentes esportivos ainda se sintam pouco à vontade para implementar inovações tecnológicas que tornem o futebol mais objetivo, ou seja, menos dependente das decisões da arbitragem e das vontades dos atletas, sobretudo quando se tratar de situações que possam interferir no resultado das partidas.

A tecnologia poderia, assim, evitar o chamado equívoco crasso, retirando da arbitragem o poder decisório em certos lances capitais do jogo, como ocorre, por exemplo, no voleibol.

Mas isso certamente não agrada a quem o controla.

As cifras milionárias ou bilionárias que envolvem o esporte, sobretudo os interesses financeiros de quem arrecada com patrocínios ou direitos de transmissão impedem a democratização do futebol. Nesse campo de jogo vale o autoritarismo, o determinismo de resultados que promovam às fases finais das competições aqueles clubes que arrastem consigo maior visibilidade e, por via de consequência, mais dinheiro.

Talvez tenha chegado o momento de se deixar de lado a polidez no trato com a arbitragem.

Pressão da torcida, erro, desconhecimento da regra são eufemismos utilizados com alguma frequência para justificar barbaridades praticadas por árbitros nas partidas de futebol.

Enquanto a humanidade do árbitro for justificativa para sua má-fé, não estaremos livres dessa manipulação que assola o nosso futebol e esfacela o amor clubístico.

É preciso dar nomes aos bois: CBF e Globo estão mancomunadas de forma espúria para dirigir os rumos do futebol nacional de acordo com seus interesses financeiros. Nos altos gabinetes das instituições traçam-se os rumos mais convenientes à geração do lucro em detrimento do espírito esportivo que deveria nortear a prática do futebol brasileiro.

Não posso provar, mas tenho convicção, como reza um dos mais recentes dísticos das redes sociais. Creio eu que todos temos essa convicção.

E é preciso dizer que, em lances como os da partida entre Fluminense e Corinthians, quando dois pênaltis cristalinos não foram marcados, houve, sim, má-fé.

Nada mudará, contudo, enquanto não se tocar na ferida. Serão dadas as mesmas desculpas e as punições, quando houver, serão medidas paliativas, engodos, como afastamentos temporários, reciclagens etc, etc e etc…

Para isso ter fim é preciso investigar a fundo essa teia inextricável de interesses escusos, questionar o monopólio da Globo nas transmissões e afastar do comando do futebol dirigentes corruptos que só desejam se locupletar às custas das enormes torrentes de dinheiro que inundam os corredores da CBF e das federações estaduais.

Emissoras alternativas buscaram aproximar-se dos clubes com propostas interessantes e que, de certo modo, mitigariam o monopólio da Vênus Platinada no futebol, mas ao que parece a subserviência aos ditames da Globo, especialmente ao seu poder e capital, relegaram nossos clubes a meros coadjuvantes de um espetáculo, cujos protagonistas foram definidos não por seus méritos, mas pelo que podem fazer faturar os donos do futebol nacional.

E o torcedor, o pobre coitado do torcedor, a pouco e pouco vê esmaecer a sua paixão, vítima que é desse estelionato praticado por dirigentes esportivos e executivos inescrupulosos.

Clubes europeus ocupam o espaço dos times brasileiros no coração de nossas crianças e adolescentes e o resultado disso será, num tempo não tão distante, a morte melancólica do que outrora foi a maior paixão do brasileiro.

O futebol, hoje, é uma grande farsa.

Para reverter isso, nossos dirigentes precisam sair de seus confortáveis gabinetes e lutar pela essência do esporte, pela conservação do espírito futebolístico de que os resultados devem ser construídos dentro de campo e, sobretudo, lutar para que não morra dentro de cada um de nós o amor que um dia aprendemos a cultivar por nossos clubes.

Caso contrário, vivenciaremos o fim.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @FFleury

Imagem: f2

2 Comments

  1. ST**** Felipe

    Cobriste o tema praticamente de fio a pavio.
    Não se tem muito para acrescentar sem ser redundante.
    Falarei, portanto, da minha experiência própria.

    Ainda ontem assisti ao empate do Worcester Warriors com Sale Sharks.
    34 a 34 num jogo de rugby football cujo resultado não nos favoreceu.

    A consulta ao vídeo de lances cruciais e, inclusive, a exibição nos telões, além de contribuir para a justiça no resultado inseriu-nos a todos espectadores na bondade do jogo.

    Apenas…

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