As linhas abaixo nada têm a ver com empáfia ou excesso de confiança.
Elas apenas recordam um momento que precedeu uma grandiosa conquista.
Em 2010, não tínhamos qualquer vantagem na tabela.
Foi uma grande noite no Engenhão, de forma que recordá-la é acender mais ânimo para a grande batalha de amanhã.
O adversário é muito mais forte agora. Nós também.
FLUMINENSE 5 X 1 ATLÉTICO MG
O demolidor de centenários (24/09/2010)
“Há um longo caminho à frente, mas, se prevalecer no resto de nossa campanha a garra do segundo tempo de ontem, não temo afirmar: o Fluminense passará como um trem-bala por cima de quem lhe enfrente. Não é um devaneio de um mitômano, mas sim a desconfiança de quem já viu e viveu uma longa história de superações.”
Meus caros amigos, com as linhas acima encerrei a crônica do Fla-Flu de domingo passado. Elas podiam parecer puro otimismo barato num momento em que a má fase já batia à porta de Álvaro Chaves, reforçada pelas manchetes sensacionalistas e falácias flácidas, sem trocadilho. “O Fluminense não é candidato ao título”, “O Fluminense perdeu a força”; amigos, quanta bobagem! O campeonato não se decide agora. De toda forma, no jogo de ontem, mesmo ainda com problemas em nosso time, vencemos com absoluta autoridade o Atlético Mineiro numa goleada de cinco a um que foi até pequena, a julgarmos os fatos, tanto os evidentes quanto os curiosos.
Goleamos e mostramos grande força, principalmente na segunda etapa, que era o momento onde o time vinha caindo de produção nas últimas partidas, com exceção do Fla-Flu. Fizemos cinco gols, um grande resultado, mas nenhum atacante marcou. O time cresceu de produção, mas inegavelmente o destaque ficou nas laterais, com o merecidamente selecionado Mariano e Carlinhos – este teve uma atuação fantástica, mas somente a partir de um ponto crucial na partida: o seu primeiro gol. Antes disso, era um dos jogadores mais apagados em campo. Rafael pulou atrasado em mais uma falta, levamos mais um gol; no mais, não comprometeu. Alguns dos nossos se irritam com a “cera” que ele faz ao repor qualquer bola; eu também. Acho graça quando alguém o chama de “frangueiro” e grita pelo Perseguido: não queriam um goleiro? Washington foi mais Washington do que nunca. Conca foi Conca, mas visivelmente sentindo agruras da contusão. Os zagueiros foram bem, principalmente Gum, que vinha de dias muito irregulares. E tive preocupação quando não vi atacantes para o banco de reservas: pelo visto, Muricy confiava muito no poder ofensivo de nossos beques.
Falemos do que realmente importa: o jogo em si. Foi uma partida que começou fácil para nós, sem desrespeito ao Atlético que, por sinal, no papel tem um time digno de lutar pelo título. Às vezes, no futebol uma equipe não dá liga, mesmo com jogadores de reconhecido talento. É o caso do time mineiro. E então o jogo foi do ataque do Fluminense, não tão fulminante como de habitual, mas marcando presença. E então a quinta-feira regrediu ao domingo: Conca na cobrança de escanteio, Leandro Euzébio fuzilando Fábio Costa na cabeçada e abrindo o marcador. A partir de então, o natural recuo do time esperando que o Atlético oferecesse espaços de contra-ataque ao ter que sair desesperadamente atrás no placar. E mais uma vez um velho problema se repetiu: quando menos se esperava, uma falta na frente da área cometida por Bob e o ótimo Daniel Carvalho no lance, exímio cobrador. Não era tão perto e o chute não foi forte, embora bem colocado; Rafael pulou atrasado e o empate foi decretado, o que poderia ser uma ducha de água fria em nossos planos. Sim, Rafael falhou? Não temos dúvida. Uma pergunta é inevitável: o Perseguido saltaria em uma falta cobrada em seu canto direito? Cartas para esta redação.
Mais quize minutos de nervosismo e recomeçar do zero. De repente, Carlinhos, que era uma figura nula em campo até ali, arriscou um chute na diagonal esquerda do ataque. A bola morreu no canto direito de Fábio Costa e, embora não soubéssemos, o jogo se decidiu ali. Um novo Carlinhos surgiu, como um dos melhores em campo, atacando com técnica e maestria, defendendo com eficiência. E o Fluminense se acertou em campo, com exceção de Washington, que parecia tratar a bola num ringue; no resto, Deco não embolava com Conca, tal como nos últimos jogos (e ambos tocavam a bola com precisão); Mariano voava. Enfim, a descida tranqüila para o vestiário e a esperança de uma boa vitória na etapa final.
No segundo tempo, o confuso Atlético promoveu a entrada de Diego Souza, nosso ex-jogador que beijou o escudo da Gávea. Nada poderia ser pior para os mineiros: lento, sem inspiração, parecendo pesado, não acertou um lance. Voltamos com a força física intacta: apenas Bob foi substituído por Valencia no terço inicial, por conta do cartão amarelo. E logo depois, para espantar a zica e fazer jus ao apelido de guerreiro, Gum marcou de cabeça no canto esquerdo de Costa, após cruzamento do incansável Mariano. Fim das contas. O Astlético beijava a lona e o Fluminense voltava a ser a sombra no retrovisor corinthiano. Poucos perceberam um detalhe expresso por meu grande amigo Raul Carvalho, rubro-negro que tem a fidalguia das Laranjeiras: depois do terceiro gol, o Fluminense reduziu o ritmo discretamente por respeito à camisa alvinegra, pois se mantivesse toda a força poderia ter chegado a uma goleada inigualável no campeonato. Ainda assim, houve tempo para um gol de placa de Carlinhos, driblando feito craque e fuzilando Costa, além do gol derradeiro, já nos descontos, com Marquinho livre encobrindo levemente o arqueiro. Antes disso tudo, Mariano foi exaltado pelos fanáticos das arquibancadas ao ser substituído por Thiaguinho, que incrivelmente fez um bom papel em campo. O fim do jogo marcou a despedida de Wanderlei Luxemburgo do Atlético, o que me fez inevitavelmente pensar em 1995.
Não jogamos no esplendor da nossa forma e ainda temos o time bastante desfalcado. Porém, uma expressiva vitória contra uma grande equipe, independentemente de ela estar em má situação na tabela, é uma vigorosa dose de ânimo. O Fluminense dos últimos cinco dias não é o dos quinze dias anteriores ao período: é um time com força, com disposição e que mostrou no momento certo poder de recuperação. Não me venham dizer que o Galo teve dois expulsos: os cartões vermelhos foram merecidos e até demorados. Nós já vencemos o maior campeonato de todos os tempos com oito em campo. Gum vinha mal, fez um gol que lhe oferece boa recuperação. Carlinhos estava vacilante, fez um belo gol e jogou o resto da partida como um craque soberano. Deco ainda não nos mostrou o que esperamos, mas é lindo ver seus passes, sua precisão, seu toque de bola que remete aos carpetes da sinuca, onde a bola desliza mansa e precisa.
Temos defeitos. Mas o caminho para corrigi-los começa a ser rascunhado.
Hoje é dia de luto na imprensa esportiva: o Tricolor venceu, goleou, tem o ataque mais positivo do campeonato e mostrou ao líder Corinthians que o campeonato não está tão fácil quanto parecia ser. A grande batalha de domingo no baiano Barradão nos permitirá vislumbrar onde está o Fluminense de hoje. Uma coisa é certa: o fim do certame ainda está longe e, debochadamente, quem duvida do poder de recuperação do Tricolor tende a engolir varejeiras.
Quem espera sempre alcança.
(Publicado em “Do inferno ao céu – a história de um time de guerreiros”, Editora 7Letras, dezembro de 2010)
Paulo-Roberto Andel
Panorama Tricolor/ FluNews
@PanoramaTri
Contato: Vitor Franklin
Boa notícia:
http://blogs.lancenet.com.br/deprima/2012/10/20/nike-mira-nos-clubes-do-rio-de-janeiro/
Esse é o FLUZÃO que queremos em campo domingo!
Andel, como sempre, com seus retratos perfeitos nos faz reviver momentos maravilhosos da nossa história de TRICOLORES! SHOW!
SSTT!!!