Teatro dos vampiros (por Paulo-Roberto Andel)

ANDEL RED NEW

Boas notícias de um lado, hipérboles do outro. Aí está o Fluminense a pensar no presente, mas sem poder descuidar do futuro. O CT se avizinha, há quem especule um novo estádio, mas há muitos outros atores envolvidos.

Uma questão me preocupa há tempos, principalmente sobre o meu time mas também a respeito de todo o futebol brasileiro: a formação das novas gerações de torcedores, o oxigênio que garantirá – se existir – a perenidade dos grandes clubes do esporte bretão.

Antigamente tudo era fácil: o pai, todo pimpão, carregava o filhinho para o Maracanã. Inebriado pela magia das bandeiras, do pó de arroz, das cores fantásticas, o menininho ficava subitamente apaixonado e nunca mais deixava de voltar. Virava um marmanjo e, anos mais tarde, ele era um novo pai nas arquibancadas. Agora, não.

O mundo mudou, o futebol também. Jogos por todos os lados, TV farta, nem Maracanã há, fechado em boa parte dos anos 10. Cativar uma criança significa lutar contra a internet, a Champions League, o Barcelona – com Neymar e suas idiotices -, o Real, CR7, Bayern, todo mundo.

Outra breve reflexão: as classes mais populares, devidamente enxotadas das assépticas arenas brasileiras, e fundamentais para qualquer clube que almeje a eternidade e o crescimento esportivo internacional. Torcedores menos abonados, mas apaixonados e, por isso mesmo, habilitados a investimentos, ainda que humildes, a contar no PIB de cada clube. E engajados, participativos, não forjando apenas um mero universo eleitoral, por exemplo. Precisamos deles, e para ontem!

Há tempos, os estádios do Brasil só lotam em efemérides como grandes finais ou jogos decisivos. Em geral, o torcedor vive um romance virtual com seu time de coração. Futebol é também um negócio, mas não pode prescindir do body and soul. Existe sentimento, paixão, drama, fé.

Bandeirante do futebol brasileiro, o Fluminense precisa se aproximar de dezenas de milhares de seus apaixonados, estejam eles nos rincões, nas favelas, nas conjunções urbanas, fidelizando-os muito além das formalidades de um plano de compra de ingressos promocionais. O dinheiro das televisões vai rarear, o tempo dos patrocinadores masters com investimentos multimilionários parece estar em declínio e, sem dúvida, o maior ativo de um clube estará na capacidade de agregação de parte da torcida ainda ausente por ora, o que exigirá cada vez mais democracia na condução dos nossos times.

E nós precisamos fugir dos versos definitivos de Renato Russo em uma de suas canções clássicas, “Teatro dos vampiros”: “Os meus amigos todos estão peocurando emprego/ voltamos a viver como há dez anos atrás/ e a cada hora que passa envelhecemos dez semanas”.

Afinal, a vida é hoje e não se resume àquela velha força da grana que ergue e destrói coisas belas.

SOBRE O JOGO CONTRA O SPORT

O Flu incrivelmente poderia até ter vencido, mas tropeçou no final – o que não atenua a atuação insossa da equipe. Pagou o preço de uma partida desinteressante. É preciso ter mais atitude em campo, vontade, camisas sujas e suadas. Oxalá o bom trabalho de Levir não se resuma a fogo de palha. Para brigar na parte de cima da tabela, contratações são imprescindíveis.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: repi

5 Comments

  1. Outra coisa que preocupa é o fato do clube se “organizar” no inicio da temporada, contrata o jogador e não ter retorno em campo. Já virou rotina essas contratações que não vingam e para piorar tem jogadores que abandonam o barco antes do fim da temporada, deixando o time fragilizado. Recentemente Deco, Ronaldinho, Fred e Diego Souza nos deixaram na mão, pra priorar ainda levamos gol do ultimo… belo “projeto” esse do Fluminense!

    S.T

  2. Belíssima abordagem, meu brother Andel. Há coisas que precisam ser encaradas, mas para as quais quase todos estão cegos. O nosso futebol está sendo assassinado junto com o Brasil e as pessoas só sabem odiar. Não que odiar seja necessariamente ruim, mas como amor e ódio podem andar juntos, as pessoas poderiam amar também um pouquinho.

    Tá feia a coisa. “E a cada hora que passa envelhecemos dez semanas”

  3. Não nos preocupemos, as certidões negativas estarão em campo no próximo jogo e converterão os gols que o time da quase vitória não conseguiu nas últimas partidas.

    ST

  4. Time sem alma e sem qualidade.
    Esse time não me representa.
    Levir falou serio, em sua chegada, para que comprássemos as caixinhas de remédio.
    Assistir jogos desse time, tornou-se um teste de resistência.
    Tá feia a coisa.
    São muitos acéfalos juntos!

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