O ponto de partida da reformulação de nosso departamento de futebol este ano foi, sem dúvidas, o passo mais corajoso da segunda gestão de Siemsen. O presidente sacou do cargo de vice-presidente de futebol ninguém menos do que o candidato preparado pela situação para sucedê-lo no pleito do fim do ano, junto com seu braço direito e, também, a comissão técnica liderada pelo insustentável treinador Eduardo Baptista. Isso mudou por completo o cenário eleitoral do clube, deixando-o bem indefinido. Por outro lado, o mesmo ato trouxe um alento àqueles que, sem qualquer compromisso eleitoral, percebiam e acusavam o descaminho da gestão da atividade-fim do clube.
A transição com Marcão e Levir Culpi, junto com o novo nome da vice-presidência de futebol, já trouxe alguns pequenos, mas importantes resultados. Primeiro, estancou-se a sangria de derrotas, garantindo nossa sobrevivência nas duas competições que disputamos. Segundo, e muito mais importante, remexeu o elenco, trazendo de novo para campo (ou para o banco) jogadores que padeciam num limbo injustificável, como Gum, Eduardo, Bryan Oliveira, Edson e Higor Leite, entre outros. A impressão que temos de fora é que todos têm direito a sonhar com a vaga de titular e isso certamente motivará muitos jogadores antes tidos como cartas fora do baralho. Por fim, há um visível zelo com a parte física, que ainda não demonstrou melhora expressiva, mas certamente demonstrará em breve.
Só tem um problema – no caso, imenso. O legado da administração que acabou de sair é pesadíssimo. São três anos sem títulos, uma torcida desgostosa, triste, resignada, um elenco mal formado, perdido, envelhecido. Pensemos bem, se todos os jogadores de maior renome e/ou salário do time fossem a campo ao mesmo tempo, teríamos Cavalieri, Gum, Jonathan, Henrique, Pierre, Cícero, Diego e Fred, oito trintões, vários deles fora de forma ou incapazes de recuperá-la em curto prazo. Que time seria competitivo hoje com oito trintões?
O pior é que os salários, pelo que se cogita aqui e ali, são altíssimos. Tirando três dos trintões, poderíamos contratar uns quatro mais novos, de bom nível, alguns da América Latina, algumas revelações, alguns jogadores daqueles que ficam esquecidos no exterior. Agora, que fique claro: individualmente, gosto muito de vários jogadores da lista (e tenho particular respeito por Gum), mas, se seus salários são altos e não dá para escalar todos de uma vez sem acabar com o time, tê-los no mesmo elenco é um erro crasso.
Caso somemos à lista de trintões o Osvaldo, o Giovanni e o Wellington Silva, para ficar apenas em três nomes, temos um time inteiro de problemas. Esses três jogadores simplesmente não podem estar no elenco do Fluminense, por pura e simples deficiência técnica. Talvez Wellington Silva fosse um bom reserva, mas nada além disso. O problema se torna agudo nas laterais, porque os dois da direita não podem ser titulares (um por carência física, outro técnica) e o que sobra à esquerda, Leo, ainda tem de provar que realmente pode assumir um dia (não hoje) a posição. Temos ainda o problema do tal atacante de velocidade, que certamente não é Marcos Junior, nem Gerson ou Scarpa.
O que quero dizer, eu creio que já está claro: agora é a hora de acertar nosso elenco. Já sei o que vão fala: não dá, é impossível, blá, blá, blá. Também não dava para contratar jogadores com alto salário. Contratou-se, e mal. Também não dava para contratar técnico experiente. Contratou-se, e bem. Também não dava para demitir da vice-presidência de futebol o candidato da situação. Demitiu-se, ainda bem. Se deu para fazer o mais difícil, agora dá para ajustar no lado mais fácil.
Parece-me que temos três diretrizes de ação. A primeira já vem sendo tomada por Culpi: estudar o elenco e a base para achar algumas soluções caseiras. Se ele achar uma ou duas, já terá sido um ganho tremendo. Sugiro, neste particular, que o treinador leia nossa panorâmica Crys Bruno. Em minha opinião, o melhor comentário a respeito do que se passa nas quatro linhas em toda a crônica relacionada ao Fluminense. Por exemplo, recentemente, ela sugeriu que se testasse o ótimo Douglas na lateral esquerda, considerando que ele é canhoto, tem ótimo passe, bom chute e pulmões novinhos em folha. Passou despercebido da maioria, mas eu achei uma sacada muito bem dada que não custava ser posta à prova.
Em segundo lugar, é preciso partir para as trocas. Alguns de nossos jogadores, inclusive os trintões, são bem valorizados, cobiçados. Quem sabe não poderíamos estudar uma boa composição com outro time grande com sobras em posições que nós somos carentes? Cruzeiro e Corinthians já demonstraram interesse em alguns de nossos jogadores. Eu trocaria fácil Edson, que está falando mais do que jogando há séculos, por um bom lateral. Trocaria fácil o Cícero por um atacante de velocidade. E trocaria o Henrique por um jogador de qualquer posição. Acabou de chegar, é verdade. Mas, pelo que demonstrou, também já poderia sair, porque precisamos de soluções imediatas, considerando o passado recente.
Por fim, há contratos a serem simplesmente reincididos. Como disse, há jogadores no elenco do Fluminense (em particular, Osvaldo e Giovanni) que não têm qualidade técnica para vestir nossa camisa gloriosa. Não é questão de idade, preparo físico, mas de falta de futebol mesmo. Há certamente um custo nas rescisões, mas creio que eles teriam interesse em fechar um acordo razoável se fossem informados que seriam afastados do treinamento com o grupo. Vi muitos clubes fazerem isso com sucesso, inclusive a gente agora mesmo (com Antônio Carlos e Henrique “francês”).
A torcida, nossa soberana, está ansiosa por boas notícias e vê de modo mais otimista o cenário atual. Tenho fé de que um ajuste competente no elenco o colocaria em condições bastante competitivas e reataria de vez o amor com a soberana. É preciso fazê-lo agora porque haveria tempo suficiente para treinar o time para o Brasileiro. Com o que temos nas mãos, podemos evitar uma tragédia, mas só por um milagre poderíamos sonhar. E já está na hora de voltarmos a sonhar com alguma coisa de fato. Mãos à obra Peter, Macedo e Culpi. Que tenham coragem e sabedoria.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Imagem: JLM / PRA
Não sabia que o Douglas já jogou de LE, td bem que na base é diferente, mas valeria um teste, melhor que colocar o Scarpa.
ST
João,
acrescentando, Douglas já jogou d LE por Xerém, + não excluo opção de adiantá-lo e ganhar força/intensidade sem perder qualidade de passe e finalização, e da volância ficar na dupla de Marlons, já jogaram juntos assim e ganharam o Mundial Sub-17 na AlKass 2013. Marlon S. qualifica d+ o passe e abre espaço para melhorar bola aérea da zaga. Alguns medalhas troca/empréstimo, kd 1 paga o seu, com clubes de elenco inchado é opção + conservativa para ajustar as peças. Ainda tem jogo.
ST