Na última quinta-feira, dia 03 de março, a grande atleta tricolor dos saltos ornamentais, Juliana Veloso, concedeu uma entrevista durante a qual expressou em palavras seu sentimento pelo clube carioca das três cores. Disse ela:
– “Eu nasci no Fluminense, pode ter tudo envolvido, inclusive política, mas eu não vou deixar de ser Fluminense. O Fluminense é o quintal da minha casa, o clube é minha vida e sou tricolor de coração.”
Ao final da entrevista, Juliana mandou um beijo para o auxiliar técnico Marcão, a quem disse considerar “a cara do Flu”. Concordo com Juliana e falo de Marcão daqui a pouco. Mas antes gostaria de falar sobre a própria Juliana.
Sei muito pouco da vida particular de Juliana Veloso. Sei que é um pouco mais nova que eu, sete anos, para ser exato, que tem dois filhos ainda pequenos, Pedro e Tiago. Constato, ademais, que se trata de uma mulher lindíssima, muito educada, de conduta esportiva impecável. Pelo tipo de esporte que pratica, os saltos ornamentais, suponho que seja filha de família de classe média alta para cima e, pela presença constante no clube, imagino que more relativamente perto das Laranjeiras.
Com tão poucas informações, poderiam dizer que me faltam elementos para julgar Juliana Veloso. Neste caso, discordo. Juliana é a maior atleta de sua modalidade no Brasil em todos os tempos. Vai disputar a quinta – QUINTA – Olimpíada, e tem uma lista de conquistas que não caberia nessa coluna, dentre elas diversas participações com medalhas em Jogos Pan-americanos. Trata-se, de fato, de um triunfo do esporte brasileiro que, em sua longa carreira, jamais abandonou o Fluminense.
Lembro que Juliana se queixou publicamente, por diversas vezes, de falta de apoio do clube, inclusive recentemente, no final de 2014. Todas as vezes que isso aconteceu, fiquei envergonhado (como fiquei envergonhado quando Luís Lima deixou o clube). O Fluminense paga salários pomposos a jogadores de futebol medíocres, apoiados por empresários oportunistas – 100 mil para um, 250 para outro, e por aí vai –, mas parece não ter dinheiro para apoiar aquela que talvez seja atualmente a maior desportista do clube e uma das maiores de sua gloriosa história.
A queixa de Juliana sempre foi justificada, mas sempre foi também complementada por empenho esportivo, por medalhas e por descompromissadas declarações de amor ao Fluminense. Marcão pode ser a cara do Flu, mas Juliana Veloso também é. Por isso, sugiro que pensem em colocar na frente do clube, ou no parque aquático, um busto em sua homenagem. As homenagens do clube são todas para figuras masculinas. Temos agora uma oportunidade para mudar essa história.
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Ao longo de nossa história, fizeram de tudo para imputar-nos a pecha de racistas. Em geral, para fazê-lo, remetem às origens aristocráticas, que já deixamos para trás há muito tempo, e reproduzem uma série de histórias mal contadas, omitindo outras. A história do pó de arroz é insuperável: além de omitirem o fato de o atleta ter já esse hábito pessoal quando jogava no América, ainda sequer se aponta o absurdo da situação. Imaginem: que negro conseguiria esconder a cor de sua pele numa atividade esportiva passando pó de arroz no corpo? O sujeito não suava durante a partida?
Agora, ainda que tivéssemos partido de uma condição racista, creio que, como instituição, há muito nos livramos dela. O Fluminense é o clube que, em 1969, no auge de uma ditadura nojenta, convidou Cartola para um jantar em sua homenagem. O convite partiu do presidente Francisco Laport e Cartola foi ciceroneado por toda a diretoria do clube. Durante o comes e bebes, Cartola foi comunicado por Laport que não precisava de convite ou título de sócio para voltar às Laranjeiras; poderia retornar quando bem entendesse.
O Fluminense é o clube que se orgulha de seus ídolos, no plural, independentemente da cor de sua pele. A torcida acabou de cravar nas Laranjeiras os bustos dos grandes Assis e Washington, que representam ali outros tantos negros que fizeram nossa história, dentre eles Didi, Denílson e o próprio Marcão, de quem quero falar. Também poderiam representar o doutor Arnaldo Santiago, uma sumidade da medicina esportiva, que teve a coragem de dirigir o clube quando ninguém mais queria fazê-lo, no começo da década perdida dos 1990. Algum outro clube grande do Rio de Janeiro teve um presidente negro?
Pois bem, chegamos a Marcão. Sei pouco de sua vida particular. Sei que se chama Marco Aurélio de Oliveira, que nasceu em Petrópolis, que é um ano mais velho que eu, que sempre morou em Santíssimo, no subúrbio do Rio. Não sei se é casado, se tem filhos. Pelo início da carreira, imagino ser filho de uma família pobre, um daqueles meninos que venceu na vida por conta do futebol.
Marcão não nasceu tricolor. Veio do Bangu, já com 25 anos, e aprendeu como poucos a amar o Fluminense. Confesso: nunca fui fã do seu futebol, mas sempre o tive como ídolo. De longe, é fácil perceber a dedicação profissional, a cordialidade, a simpatia pessoal. O sorriso de Marcão diz tudo dele, é ele, faz dele um ser humano exemplar.
Pois acho, honestamente, que Marcão foi objeto de um julgamento racista recentemente. Tratou-se de um julgamento velado, não pronunciado, que partiu em parte de dentro do ambiente do clube, em parte de fora. O fato é que duvidaram por antecipação da capacidade de Marcão de desempenhar o papel de auxiliar técnico permanente, conduzindo o time de futebol numa transição entre técnicos. Duvido que um rapaz branquinho, de classe média, com diploma debaixo do braço, tivesse sido questionado.
Fico feliz, entretanto, com o que aconteceu. Primeiro: o clube não deu brecha para o racismo. Sustentou Marcão, o apoiou. Segundo: Marcão foi muito bem. O time vinha em frangalhos e demonstrou já alguma arrumação no segundo jogo sob seu comando. Os jogadores tinham outra atitude, o que demonstra, como se diz, que ele tinha o elenco na mão. Suas mexidas, nos dois jogos, revelaram boa leitura do que acontecia em campo e nos levaram às vitórias.
Não sei se Marcão um dia será técnico de futebol, uma das profissões mais difíceis da atualidade. Mas não vejo razão para suspeitar disso por antecipação.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Imagem: JLM / PRA
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José Francisco, também conhecido por Chiquinho da Sauna, é conhecido carregador de bandeja nas peladas de sábado da turminha da moleza e que gosta de sair na foto. Seu único histórico dentro do clube é um segredo guardado a sete chaves dentro do armário.
Pobre rapaz que se esconde detrás das barbas do Capitão Calabar
Juliana é filha de Julio veloso, o qual foi meu professor de natação quando eu era menor nos anos 60,Se não me engano,Julio, foi ou é dono de uma academia de ginástica na rua das Larnjeiras.