Mas por que diabos ele não fugiu de nossos tiros, se ele havia passado a perna na turma e ficado com toda a grana? Isso não seria atitude de um crápula, covarde, daqueles que não se confia uma palavra do que é dito – tamanho o número de versões de suas histórias. Dois assassinos profissionais, numa cabine de trem, perguntavam-se isso. Havia poucas horas que chegaram numa escola para cegos, agrediram a secretária, também cega, em busca das informações sobre a futura vítima, a encontraram, diante de seus alunos, e dispararam sem dó. Pura competência no ofício. Mas deveria de ter mais grana envolvida para que o mandante tivesse ficado com tamanha raiva daquele homem. Resolveram que, diante de tamanha dúvida moral, e de uma oportunidade de ouro para apanhar boa grana, correriam atrás da história toda.
Sou Fluminense. Não torcedor. Mas coisa do ser, ontológica, que envolve percepções gerais, experiências amplas, da minha existência. Cansa e alivia, dá trabalho, aporrinha, dá muitas alegrias, construo memórias, perspectivas, piadas. Coisa séria, que me sustenta e me faz ser o que sou como ser humano. Se isso é afetado por situações obscuras, mal explicadas, ou se alguém me tira por ignorante, sou tomado por fortes emoções e indago o que de errado está havendo no ambiente que não tenho acesso, direto, ao menos, no qual fisicamente o Fluminense é regido, administrado. Desde os tempos do patrocinador master, convivo com sentimentos paradoxais de amor e ódio – conquistas e jogos memoráveis, mas negociações prá lá de mal explicadas pra minha mente tão alheia aos meandros do mundo da bola. Afinal, tenho meu emprego e não escolhi, e nem quis, viver na boquinha da garrafa desse universo cheio de buracos negros e estrelas mortas que ainda acham que brilham para os olhares incautos. Paradoxo, digo mais, alimentado por contratações estranhas, que nesse ano de 2015 me deram nojo pelos argumentos hipócritas fornecidos por representantes do Fluminense, mostrando clara desavença entre números de supostos bons desempenhos, o tal scout, e quem de fato veio vestir nossa camisa.
Os homens foram parar numa oficina mecânica, escutando a história de um corredor que teria fisgado uma pequena, suposta Maria Gasolina, quando, na verdade, ele era a presa da loira da velocidade. Ela representava uma quadrilha, que desejava roubar um carregamento de muito dinheiro. Precisava de um bom piloto para guiar o carro na perseguição à grana e, depois, para fugir. Sedução e envolvimento puro até um acidente nas pistas adiar os planos. Coitado, o pobre mecânico que havia se tornado piloto continuava a acreditar que havia algo forte entre ele e a moça. Seu verdadeiro marido supostamente a maltratara na sua frente. Por isso, combinaram de fugir com a bolada depois de ludibriarem o cabrão e seus comparsas. Era o golpe do golpe, quando o casal chegou a um hotel de beira de estrada e, no quarto reservado, lá estava o manda chuva de arma em punho, pronto para anunciar toda a trama e eliminar o piloto garanhão. Bang! O tiro o acerta, mas não o mata. Tempos depois, manda a dupla de experts atrás dele, por uma merreca comparado ao seu império econômico.
Muito me estranhou a notícia da venda de Biro Biro. Não por ser um baita jogador, porque isso não existe mais por nossas bandas. Mas porque tratava-se de, finalmente, depois de Wellington Nem no Figueirense, um dos diversos jogadores de Xerém voltar de outro clube melhorado. Essa infinidade de pernas de pau “revelados” pelo clube só de quando em vez tem algo que possa valer a pena aos meus olhos de imbecil do futebol atual. E essa vez seria o caso! Tido como provável titular, inclusive. Mas eis que vem a sua venda para o futebol… chinês. Clube sem caixa, aquela lenga-lenga de sempre, e a venda foi traçada, talvez, quem sabe, em horas, sacramentada e comunicada ao público pelos jornais. Ocorre que há pessoas envolvidas nessa trama, prefiro assim chamar tal sequência de coincidências, que ocupam o mesmo lugar de partes adversárias ou ao menos com interesses distintos ou, no mínimo, conflitantes. Aí é da ética de cada um, não? O pior é que o clube tem que ser sacarrolhado o tempo inteiro para explicar como e porquê tem representantes que usam seu poder administrativo para nos enlouquecer com afirmações que em nada justificam suas atitudes. E essas pessoas estão lá, de modo, avalio, incompetente ocupando cargos à luz dessas estranhezas todas. E violentando meu ser, o Fluminense que tenho comigo!
Ao se deparar com os dois homens de terno escuro, em seu luxuoso escritório, Ronald Reagan, ator do filme Os assassinos, baseado do homônimo conto de Ernst Hemingway, decide não resistir e lhes fornece a possibilidade de um encontro com sua beldade. Seria num quarto de hotel. Foram mais cedo, temendo uma tramóia. De lá, após ameaçarem jogá-la do alto do prédio, seguiram com a informação do paradeiro do dinheiro: a casa do seu parceiro erótico-criminal. Uma emboscada na porta do hotel deixa a dupla desfalcada. Lee Marvin, que encarna o mais velho dos meliantes, dirige desesperadamente até a casa do personagem de Reagan, que é pego sacando o dinheiro do cofre e em quase desesperada fuga com a loira fatal. Trocam-se tiros e ninguém fica com dinheiro algum. A polícia chega.
O filme de Don Siegel nos mostra que há ética até mesmo entre algumas pessoas que fazem carreira criminal, ou seja, não é a profissão mas sim outros tantos fatores que fazem de alguém mentiroso, ardiloso, traidor, pouco confiável em sua conduta moral. Tenho acompanhado qual ética encontra-se, nesse momento, no futebol brasileiro, em suas várias instâncias administrativas. Em vez de ler as páginas esportivas, lá vou eu colar os olhos nas policiais. Mas meu clube continua, e isso ainda é um alívio, nas primeiras. Contudo, sinto-me golpeado com violência na qualidade de ser Fluminense com o obscurantismo com que as negociações vem sendo anunciadas ao público e com as argumentações ilógicas e vazias dos seus executores. Até quando? Qual será o limite? Qual será a metáfora do Fluminense para a cena final do filme de Siegel? Por enquanto, sigo eu aqui apanhando da gang dos scouts…
Panorama Tricolor
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