O estrangulamento do torcedor (por Crys Bruno)

Homer Simpson

Estratégia, do grego stratos (Exército) e ago (comando), indica basicamente o que queremos para o momento seguinte com a capacidade de antecipar-se aos fatos, analisando suas variáveis.

Muitos técnicos de futebol ditos estudiosos usam essas teorias (militares) agindo como generais: Luis Felipe Scolari, por exemplo, decantou o clássico chinês de Sun Tzu, “A arte da guerra”, para explicar onde se inspirou ao comandar “os soldados” na conquista do penta, em 2002. O que não funcionou muito em 2014…

Muitos torcedores caíram no mesmo estratagema e, em especial, a geração entre 30 e 50 anos de idade, passou a cobrar, como generais, posturas de soldados aos jogadores de futebol. A cobrança que mais sumiu, quase se extinguiu, foi justamente a principal: sobre a técnica, a qualidade. Àquela ligada a força física (transpiração) se sobrepõe de forma excessiva e jamais vista à inspiração, qualidade, ao saber jogar bola.

A mudança de prioridade e seu exagero criaram um abismo em nosso futebol, no qual o preparo físico escala ou barra o jogador, e não sua qualidade, já que preparo se adquire. Isso aumenta o poder dos “generais” e é mais fácil administrar os comandados.

E quem administra quem comanda? Dirigentes e empresários, em regra, sujeitos em busca do pedaço do bolo da fortuna que gera o futebol.

Resultado disso é que nossa qualidade, maior e melhor característica do futebol e biotipo brasileiros, diminuiu drasticamente. Qualquer um que tenha visto futebol nas décadas 80 e 90 e ainda aguenta assistir nossos últimos 15 anos, não discordará.

Nos dias atuais, a qualidade foi engolida pela panilha do Excel ou melhor dizendo, pelo scout do Football Manager, banco de dados muito usado pelos clubes para justificar as negociatas e troca de vantagens entre os que dirigem nossos clubes e os empresários (investidores) de jogadores.

Corroborados pelas estatísticas, indicativos superficiais para o futebol que, por sua estrutura de jogo, não é somente proativo como o basquete, o futebol americano ou o beisebol, esportes populares nos Estados Unidos e também por causa de uma imprensa que está longe do jornalismo e inteira no marketing, na gestão de imagens tanto para alavancar quanto para derrubar.

Falando em imprensa, vale mencionar que foram as TVs norte-americanas que inseriram a tecnologia dos números em suas transmissões, assim como os avaliadores técnicos porque, nesses esportes, os números conseguem identificar com exatidão o rendimento do cestinha, do defensor, do arremessador.

No futebol, não. Não, por ser um jogo em que você pode não participar da ação, que é o lance onde está a bola, e falhar diretamente ou até participar indiretamente de forma decisiva. Os números não alcançam as ações indiretas ou a falta de ação que determina um lance.

São vários os exemplos e, para elucidar, escolhi alguns deles: o centroavante que puxa o defensor, abrindo espaço para a infiltração do companheiro; o defensor que é driblado e para, abandonando o lance e falhando; o goleiro que não sai na bola aérea e falha porque se omite do seu dever, expondo o zagueiro que perde na cabeça e toma o gol et cetera.

Por tudo isso, tenho a impressão de que perdemos nossa qualidade e estrangulamos uma sabedoria conquistada em décadas, a sabedoria do boleiro que fez do Brasil o país do futebol, para as panilhas de Excel e o banco de dados do Football Manager.

Por quê? Buscam a razão? Para que servem? Após um tempão pensando a respeito, concluí que os números, os bancos de dados, servem única e exclusivamente aos três atores que comandam, mandam e desmandam, estrangulando o futebol: os empresários (investidores), os dirigentes (receptores) e os técnicos (servidores destes).

Estratégia, do grego stratos (Exército) e ago (comando), indica basicamente o que queremos para o momento seguinte com a capacidade de antecipar-se aos fatos, analisando suas variáveis. O que os supracitados três atores querem para o momento seguinte, antecipando os fatos?

O empresário-investidor quer a venda do seu jogador, o retorno do que investiu, que costuma ser altamente lucrativo. Nada contra. O dirigente, receptor do jogador desse e daquele empresário, quer uma fatia do lucro. E o técnico de futebol, o servidor que escala conforme a qualidade, ops, digo, conforme o scout, ops, digo, conforme a relação do investidor com o receptor, quer apenas manter seu emprego.

Apoiados por uma imprensa gestora de imagens e controladora ou formadora de opinião da massa (torcedor), temos os verdadeiros protagonistas do futebol renegados e tratados como ralés: a instiuição, seu torcedor e o jogador de qualidade que são a razão de ser desse esporte que nos arrebata.

Por entender assim, sempre lutarei pela qualidade. Sempre defenderei o jogador que sabe jogar, mesmo jogando mal, porque dali podemos tirar algo, defendendo o mínimo que resta da nossa essência roubada por interesses de meia dúzia.

Por entender assim, sempre irei reconhecer o esforço mas nunca compactuar com essa enxurrada de jogadores que só correm, cheios de pulmão, entretanto, que mal sabem os fundamentos como passar, finalizar, desarmar, se posicionar, correr com a bola sequer!

Por entender assim, não aceito e rechaço mesmo opiniões e teorias baseadas nitidamente na defesa do jogador X por ser de empresário Y, do clube A, cujo o técnico seja B. Opiniões e teorias que variam exatamente para atacar ou defender jogador X ou Y, clube A ou “F”, técnico B ou C. Opiniões e teorias que não surpreendentemente bebem muito nos números das estatísticas e nos bancos de dados.

Por fim, por entender assim, “entendo” porque Biro-Biro foi emprestado e Lucas Gomes contratado; porque Wellington Carvalho (zagueiro) sequer teve chance e foi emprestado, enquanto João Filipe e Antonio Carlos, dois jogadores “mortos” tiveram; e a COVARDIA MÓR: porque o Edson já teve seu contrato renovado mas um dos melhores jogadores do time esse ano, Vinícius, não, e ainda está afastado dos jogos.

Toda essa tentativa de reflexão, de dividir com os leitores do Panorama minhas impressões, surgiu como resposta à pergunta: “- Cadê Vinícius?” Como ver Wellington Paulista e Lucas Gomes regularmente no banco e entrando nas partidas e Vinícius sequer relacionado? O Fluminense precisa do futebol dele, sim! Há risco real de rebaixamento. Estão brincando de poder na hora errada! Cadê o Vinícius? Cadê?

E não abusem da minha estupidez e do meu desconhecimento, vindo com balela de números físicos. Para entrar em forma física e técnica, após a lesão, ele precisa jogar! O “soldado” , por mais rebelde, sendo bom de mira, é indispensável. Mas essa parte de “A Arte da Guerra”, eles pulam. Pulam porque há outras prioridades.

Não abusem da minha estupidez e desconhecimento, senhores, receptores do Fluminense. Não abusem da estupidez e desconhecimento dos senhores. Não estrangulem a razão de ser, “o ser vivo e sentido de tudo”. Não estrangulem a galinha porque perderão os ovos de ouro. Reflitam, se possível, com a cautela indispensável pelos grandes estrategistas e logo perceberão o lógico, o óbvio: o coração da galinha é o torcedor. Não nos estrangulem.

TOQUES RÁPIDOS:

– Como torcedora consumidora e sócia futebol do Fluminense, eu quero o Vinícius de volta. Por isso, vou lançar a hashtag #VoltemComVinícius, convidando a quem concordar, a participação. Muito Obrigada.

– IMPORTANTE: não conheço o Vinícius, nem tenho nenhum tipo de contato de bastidor com quem quer que seja. Sou torcedora comum ou mera consumidora apaixonada pelo Fluminense.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @CrysBruno

Imagem: Os Simpsons

CAPA O FLUMINENSE QUE EU VIVI AUTÓGRAFOS
capa o espírito da copa para livraria

10 Comments

  1. Grande Crys!

    Como diria o velho e sábio filósofo, “matou a pau”.

    Parabéns pela coragem e precisão no texto!

    Savioli

    1. Que responsabilidade e honra ter sua presença aqui, Savioli. Muito obrigada mesmo. Saudações Tricolores!

  2. Oi, Guilherme e Carlos. Obrigada pela leitura e comentários.

    Pois é, a lista é grande…

    ST.

  3. Como sempre muito bom texto…..é realmente triste que o Denilson tenha ido embora antes de jogar no profissional, cito este mas poderia citar outros tantos…..sinceramente, preferia passar sufoco se fosse necessário, mas ter o nosso sub 20 sendo aproveitado no time de cima……nossos laterais poderiam SIM ser Breno e Airton neste momento……não fariam pior que os que estão entrando.

    W P e Osvaldo, em detrimento de Michael e o Robert por exemplo, não há justificativa.

    ST

  4. Vinícius foi a exceção à regra, que prova a baixa qualidade das análises estatísticas. Um acerto em mais de doze tentativas. Sua campanha é portanto mais abrangente do que defender um bom jogador, é pra por fim a esta prática nociva de escalar o time segundo interesses espúrios de empresários e dirigentes. Apostar na base é menos arriscado e mais barato! Mário use a cabeça! Importante: sou sócio patrimonial e torcedor e vou votar no ano que vem!

  5. Crys, estou nessa de coração!!! A leitura de dados do jogo fora de contexto nunca ajuda a formar um bom time. O tal scout precisa estimar o desempenho de um jogador série B em uma partida série A. Senão teremos um time série B jogando a série A, é lógica pura! Temos uma escalação quase completa de jogadores fora de contexto: Vitor Oliveira, Renato, Lucas Gomes, W Paulista, Breno Lopes (só pra ficar nos que são regularmente relacionados independente do técnico de plantão).

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