Nós os perdoamos, por nos traírem (por João Leonardo Medeiros)

perdoa

O que é mais importante: apoiar incondicionalmente até o retorno das vitórias ou criticar até que haja mudanças profundas? Inequivocamente, a única resposta correta é: depende do momento. No Fluminense, as duas alternativas estão sempre postas e nem sempre é claro o que fazer. Creio que o momento atual seja um destes nos quais nenhuma posição pode ser definitivamente afastada como sem sentido.

Por um lado, é correto contestar. E digo mais, contestar é um ato de bravura, considerando que todos aqueles que reclamam da direção do futebol do clube hoje em dia são logo taxados como massa de manobra de uma oposição que não consegue articular a si mesma (quanto mais formar massa de manobra). O mais incrível é a posição cínica – com o perdão da palavra – diante do afastamento da torcida. Quanto a isso, voltemos um pouco no tempo.

A torcida do Flu, que havia deslumbrado o Brasil em 2008, mobilizou-se muito em 2009, para impedir o pior. Conseguiu. A torcida do Flu impediu o rebaixamento. Entre 2010 e 2012, não vi ninguém reclamar da torcida, mesmo quando o time entregou a rapadura em casa na Libertadores, no último minuto de um jogo ganho contra o Boca Juniors. Tivemos títulos, uma beleza completa.

Quem já esqueceu 2013? Quem já esqueceu o jogo com o Vitória ou contra o Santos daquele ano? Quem já esqueceu o América de Natal, a Chapecoense? Quem já esqueceu as humilhações no carioca? Meus queridos, o Maracanã é um passeio de índio (com todo respeito aos nativos, mas a expressão é consagrada), caríssimo e com péssimo retorno. Quem vai lá, vai por paixão, ou desavisado. Quem volta ao Maracanã, depois de penar no estádio e ver seu time ser massacrado em casa pela potência de Chapecó? A gente não pode cobrar que as pessoas tenham o comportamento irracional que nós mesmos temos. Certos estão eles que não vão por muito tempo depois de tamanha decepção, e não a gente que volta jogo seguinte, às vezes para ver outra surra. Vejam lá o público do Vasco e do Botafogo e encontrarão o mesmo fenômeno, explicado pela mesma razão: acúmulo de decepções.

Querem o time de volta? Ganhem o Grêmio e mais sete seguidas, pelo menos. Duvido que a torcida não lote o Maracanã. Duvido que não esqueça as recentes humilhações. Duvido que não compre a briga.

Chegamos ao outro polo da escolha: apoiar incondicionalmente. Talvez seja o momento disso mesmo. Porque não importa mais os tais problemas internos, as rusgas, as suspeitas de subordinação a empresários, as hipocrisias, a politicagem, a péssima campanha no segundo turno. Não importa nada disso. Quem está em jogo, mais uma vez, é a instituição. Como sempre, nestes momentos, os dirigentes lembram da gente, nos fazem juras de amor. É incrível, queridos, mas proponho que correspondamos. E cantemos: o nosso amor é tão bonito, você finge que me ama e eu finjo que acredito.

Eu, você, todo mundo que lê isso aqui, essa coluna, esse blog, é apaixonado pelo Flu. Nós somos o Flu. Nós fazemos o clube para além do time, dos treinadores, dos dirigentes, até dos craques. Fred, Gum e Cavalieri vão se aposentar em breve; Scarpa, Leo, Marcos Junior logo serão vendidos. Eu, você, todos nós estaremos discutindo as mesmas coisas, nos esfalfando do mesmo jeito muito depois de sua passagem pelo clube, como tivemos muito antes deles vestirem a camisa do Flu. Nos momentos em que a instituição está em risco, somos nós que a seguramos. E não se iludam: a instituição está em risco de novo.

O que fazer? Vista sua camisa do Flu e enlouqueça. Vá ao estádio, tendo ou não grana. Vá ao aeroporto. Escreva para um blog. Faça mandinga, ore com fé. Jogue na loteria pensando em contratar um jogador para o elenco. O momento exige sacrifício, como outros tantos exigiram. Nós vimos o Flu na pior e vimos ele renascer por um milagre que nós operamos.

Ganhar a Copa do Brasil e mais umas oito no brasileiro seria um milagre? Claro que sim. Que tal a gente fazer ele acontecer? Se a gente encarnar o Careca, o Fred pode encarnar o Waldo. Se a gente encarnar o seu Armando, o Scarpa pode encarnar transmutar-se em Romerito, sugando seu talento e sua alma. Se a gente encarnar o Soró, Cavalieiri certamente será Castilho. Não vai partir deles, meus queridos, nunca partiu. Mas pode partir da gente.

Essa não é uma coluna-cobrança. É uma coluna-exortação. Isso porque, para ser repetitivo, depois do que fizeram com ela (conosco) nos últimos anos, ninguém pode cobrar a torcida do Fluminense sem ser cínico. Por isso, faço daqui meu pedido aos tricolores: saiam da tumba e ativem a fênix. Ao time e seus dirigentes, podemos dizer: nós os perdoamos por nos traírem, pelo menos por enquanto.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: b.chediak

CAPA O FLUMINENSE QUE EU VIVI AUTÓGRAFOS

 

3 Comments

  1. Caro João, a torcida sempre quer, eles é que não querem! Não só os dirigentes, mas os jogadores. Quantas festas e no final, vem a decepção. Salvo as finais de 2008 e 2009, as festas têm sido agraciadas com derrotas humilhantes. Lembra Flu X Vasco com a apresentação dele, que já não é mais do Flu? Tem um outro Flu X Vasco, onde o mosaico dizia “é o destino”, o que vimos? A torcida do Vasco humilhou e ofendeu a do Flu. Também acho que o apoio tem que ser grande, mas cadê a coragem? ST

    1. Querida Cecília,

      No final de 2013, sugeri que mandasse o elenco todo embora. Fiz o mesmo em 2014. Motivo: humilhações como as que você mencionou. O problema é que agora, no fim da temporada, nós temos de salvar o clube da situação provocada pelo time. No fim do ano, retomamos a pegada crítica.

      ST,
      João

  2. Prezado
    Faltou dizer que se comparecermos e apoiarmos, o Peter se tornará o Manoel Schuatz
    Abs
    ST

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