Memórias seletivas (por Paulo-Roberto Andel)

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Diante do completo desastre anunciado previamente na ocasião da contratação do sr. Ricardo Drubscky em 24/03/2015 – leia aqui – contra quem nada tenho pessoalmente, importante frisar – saudado como um profundo estudioso capaz de revolucionar o padrão de jogo das Laranjeiras – aclamado por próceres do clube e do gramado, mais scouts -, tão logo o Fluminense foi trucidado no primeiro turno do Brasileirão 2015 pelo Atlético, os dirigentes demitiram-no em 20/05/2015 e trouxeram Enderson Moreira no dia seguinte.

Justificativas: poucos nomes disponíveis no mercado, salário compatível, currículo… Currículo?

O feito mais conhecido de Enderson até hoje tinha sido o de classificar o Fluminense na primeira fase da Libertadores de 2011, no início de sua carreira como treinador, depois da tempestade mal explicada que culminou na saída de Muricy Ramalho. Não creio que alguém possa refutar meu argumento com a declaração de que o treinador tenha sido campeão brasileiro da série B com o Goiás, por motivos óbvios.

Em suma: sem desrespeitar Enderson, até o grande e glorioso pombo Doodle, aquele do desenho do Dick Vigarista, teria conseguido desempenho menos pior do que Drubscky à beira do gramado.

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Atendendo ao modelo de “campanha digna” outrora declarado pelo presidente do clube, Enderson priorizou a questão defensiva e o Fluminense surpreendeu: conseguiu se manter em boa parte do primeiro turno no G4, chegando até a empolgar (exageradamente) os mais afoitos. Deu até pinta de Libertadores, mas era cedo demais. A coisa desandou depois de oito derrotas em nove rodadas. Em seus últimos trabalhos, Enderson tinha ficado pouco mais de um mês no Atlético Paranaense, seis meses no Santos e sete meses no Grêmio – em todos, saiu sem ser abraçado por todo mundo. Definitivamente, não foi contratado por causa do scout.

Em tempos nem tão distantes, mais precisamente no período compreendido entre 2001 e 2014, ser treinador do Fluminense era estar no meio de uma faixa de Gaza entre a diretoria e o principal investidor econômico, num duelo de vaidades que transcendia a lógica. O resultado? Uma equipe que alternava campeonatos brasileiros, ora com grandes campanhas, ora com ameaças de rebaixamento – uma delas consolidada em 2013, mas sustada devido à incrível coincidência André Santos-Heverton.

Não tem mais investidor impondo nome de treinador há quase um ano. De lá para cá, já foram três: Enderson, Drubscky e Cristóvão. Com este último, o Fluminense conseguiu em três ou quatro jogos as suas melhores exibições desde 2012, a ponto de ser aplaudido pela nossa torcida, depois de uma derrota para o Vitória com 50 mil pessoas no Maracanã num sábado à noite. Depois, o caos que todos conhecemos, com a torcida querendo (justamente) seu fígado. A sucessão, no entanto, foi ainda mais desastrosa.

Não conheço Enderson, não tenho procuração para defendê-lo, não defendi sua contratação e sequer concordo com suas recentes escalações extraterrestres que levaram a este furacão de derrotas. O que pretendo questionar é se tais atos foram cometidos por suposto despreparo do treinador ou em resposta aos eternos “problemas internos”, que remetem a partidas como Santos (2013) e Horizonte + América-RN + Chapecoense (2014), todas deixadas de lado pelas infalíveis memórias seletivas.

Na primeira hipótese (de baixíssima probabilidade), chega a ser surreal que o vice-presidente do clube confirme o nome do treinador até o fim da temporada. Uma vez rejeitada a mesma e se o problema foi outro, qual foi afinal? Nenhum? Ninguém é trouxa de imaginar que aquele delírio psicodélico na escalação de domingo passado foi obra e graça de um candidato a Brian Wilson da tática. Aos dirigentes, seria desejável que não tratassem o principal ativo do clube – a torcida – como um coletivo de idiotas.

Noves fora, hora de menos peito de pombo, menos deslumbramento e mais espírito de grupo. Hora de ouvir todas as frentes e fazer o melhor para o CLUBE, não para o culto à personalidade.

Logo mais tem mais na provável complicação no Couto Pereira, contra um adversário que busca recuperação. Tomara que o Flu faça valer sua tradição de se superar nos momentos mais improváveis. Se cabe um consolo, pelo menos não estamos enfrentando o Coxa na rodada 38 em 2009. A situação pontual era muito pior, por incrível que pareça. O que está longe de significar que os momentos atual e logo adiante estejam sob controle.

“Enquanto os homens exercem seus podres poderes/ Motos e fuscas avançam
os sinais vermelhos/ E perdem os verdes/ Somos uns boçais” (Caetano Veloso)

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: exulla

o fluminense que eu vivi tour outubro 2015

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