“Se este plenário fosse o Brasileirão, o senhor presidente desta Casa seria o Fluminense: não aceita perder, mas quando perde, quer recorrer ao tapetão para mudar o resultado e subir na Justiça.”
Deputado Paulo Pimenta, PT-RS
Ao Excelentíssimo Senhor Deputado Paulo Pimenta,
As contendas políticas de uma nação costumam acalorar os ânimos e fazer dos homens sábios simples atores das piores farsas encenadas a troco da bela retórica. Infelizmente, Vossa Excelência não fugiu à regra quando, no avançado de uma madrugada, com intuito de defender a posição que julgava correta, resolveu, gratuitamente, atacar uma instituição centenária e seus nove milhões de apoiadores.
O Fluminense não é um clube qualquer, não é um arremedo de organização que possa servir de exemplo ao achincalhe a que o senhor, nobre deputado, covardemente o submeteu. A história do desporto nacional confunde-se com as três cores, assim como o desenvolvimento do futebol, a construção da casa da seleção brasileira, o auxílio às tropas brasileiras na Segunda Grande Guerra, a organização exemplar – reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional com a Taça Olímpica, única a ser oferecida a um clube de futebol em todo o planeta – entre tantos outros serviços prestados ao povo brasileiro.
Essa grandiosidade ensejou desde sempre o ódio dos meios de comunicação – desejosos de que outros clubes, por interesses comerciais, ocupassem as posições de destaque no futebol nacional – e dos adversários. Nunca faltaram versões repetidas à exaustão para vender verdades fabricadas, no intuito de criar, na figura do Fluminense, o necessário vilão a histórias patrocinadas por interesses distantes de qualquer esportividade.
Causa espanto, entretanto, que seja exatamente um representante de um partido que sofre um dos maiores ataques da mídia, alguém que perdeu o cargo em CPI por conta de notícias que sugeriam acordos escusos em caronas de automóvel com corruptos em investigação, alguém que vê suas ações perseguidas de forma brutal em um Congresso hostil à razoabilidade, enfim, como pode esse alguém, que se coloca contra a manipulação da verdade pela mídia, utilizar-se do mesmo expediente contra o Fluminense Football Club?
Ora, Deputado, saiba que é bem mais difícil defender a lisura de seu partido diante de tantas denúncias de corrupção que explicar as mentiras que o senhor ratificou sobre o Fluminense. Em assuntos que tratassem da defesa do cumprimento do regimento, seria o Fluminense o exemplo a ser citado, nunca o inverso. Pois não foram, nem jamais serão as três cores as responsáveis pela alteração da lei em benefício próprio.
Não somos, senhor deputado, como aqueles que se ausentam às finais de campeonato previstas em regulamentos assinados. Não somos, senhor deputado, responsáveis por quaisquer “viradas de mesa”. Mudar regulamentos e rebaixamentos, coisas que ruborizam a face, são fatos na história de outros clubes, não na do Fluminense. Nunca recebemos notificações de Joseph Blatter ou precisamos que Ricardo Teixeira revertesse qualquer situação nossa na Fifa.
Não somos como os políticos deste país, que costumam prometer algo nas eleições e realizar exatamente o oposto. Nunca fomos, senhor deputado, traidores de nossa ideologia ou da classe que dizíamos representar, como tantos exemplos podemos ver em várias cores e estrelas. Temos muito mais honra que supõe a superficialidade de seu discurso.
Talvez o nobre deputado não acompanhe os campeonatos de futebol ou então não esteja interessado em buscar a verdade de todos os fatos. Se algo o surpreende no mundo do futebol, que se mostre a indignação pela “pizza” preparada na Casa do Povo, quando da investigação do esquema de corrupção que envolvia Ivens Mendes, Alberto Dualib e Mario Celso Petraglia. Venda de resultados, armações de arbitragem e financiamento de campanhas políticas, tudo foi posto de lado por conta de interesses que nunca saberemos ao certo quais foram. Eis aí a razão de jamais ter havido rebaixamento em 1996.
Pois é certo que nossa dignidade jamais esteve à prova. Tanto que jogamos a segunda divisão de 1998 e a terceira de 1999, da qual nos sagramos orgulhosamente campeões. Em uma manobra tal qual aquela que Vossa Excelência acusa o presidente da Câmara dos Deputados, mudou-se o regulamento e operaram-se decisões no Superior Tribunal de Justiça Desportiva em benefício de Botafogo e Internacional – provavelmente o senhor se lembra do caso – prejudicando e rebaixando o Gama.
Nesse cenário, o senhor pode perguntar a alguns colegas seus de Plenário, pois eles defenderam o clube o do Distrito Federal, que teve seu direito reconhecido na Justiça, obrigando a CBF a resolver-se com mais um arranjo, o último desses novos tempos do futebol. O Fluminense, senhor deputado, nada teve a ver com manobras ou esquemas. Não patrocinamos mensalões ou desvios de conduta em nossas ações, não nos meça pela régua que outros usam para medir sua agremiação política.
No exercício pleno da defesa da regimentalidade – postura semelhante àquela que Vossa Excelência pretendeu em seu discurso – exigimos em 2013 o cumprimento do regulamento que afirmava que as escalações de jogadores irregulares geravam punição com perda de pontos aos infratores.
Ao contrário do que ocorre no cenário nacional, sempre defendemos que infratores sejam punidos, não coadunamos com irregularidades e não nos submetemos ao julgamento do senso comum. Há muito o que se investigar na política e esperamos que o senhor não coadune com a corrupção que é vendida como imperativa em seu partido e embrenha-se nos diversos alcances do Governo Federal.
Por fim, é triste ver que mesmo na defesa de um ponto em que muitos tricolores convergem – a redução da maioridade penal não é solução para a criminalidade – Vossa Excelência fez questão de realizar o discurso do ódio, da divisão e da diminuição daqueles têm uma história bem mais limpa que a quase totalidade das siglas presentes no Congresso.
Vossa Excelência passará, Eduardo Cunha passará e a Constituição será alterada outro sem-número de vezes. O Fluminense, ao contrário de todos nós, tem a vocação da eternidade. E sua grandeza não se mede em votos ou em discursos. Mede-se por sua gente, milhões de trabalhadores, homens, mulheres e crianças, gente simples ou gênios como Santos Dumont, Nelson Rodrigues, Mario Lago, Chico Buarque, Arthur Moreira Lima, entre tantos outros que tornariam a lista bem mais extensa que os pouco mais de 140 mil eleitores que lhe concederam o cargo.
Senhor deputado, diante da inconveniência de seu discurso, os nove milhões de tricolores espalhados por este país esperam de Vossa Excelência um ato de honradez, presumível apenas aos grandes homens: uma sincera retratação e o reconhecimento da inadequação das intempestivas palavras que atingiram a imagem do eterno Fluminense Football Club.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Imagem: globo.com
Com sua permissão Wallace, subscrevo a presente coluna.
ST
De acordo com a coluna do Ilmar Franco – O Globo, o “nobre” deputado arregou.
Bola fora
Ao criticar a segunda votação da maioridade penal, o deputado Paulo Pimenta (PT) chutou: “Se fosse o Brasileirão, o presidente Eduardo Cunha seria o Fluminense: não aceita perder e, quando perde, vai ao tapetão, muda a regra para subir”. Feito o gol contra, ele recuou. Em vídeo nas redes sociais, com dois personagens fardados com a camiseta do Flu, amarelou: “Fiz uma analogia injusta”.