A vida é sobre histórias. Boas ou ruins. Números, estatísticas, gráficos, acabam se perdendo no ar. As histórias que cercam esses números é que ficam marcadas na eternidade. Mil novecentos e noventa e cinco. 1995. Para o Flamengo significava a comemoração do seu centenário. O clube de regatas celebrava 100 anos desde que começou a remar. Para o Fluminense era a lembrança de que não vencíamos um campeonato há 10 anos. O tri em 1985 tinha sido nossa última grande explosão.
Vinte anos depois (25/06) ainda lembramos daquela noite em que 120 mil pessoas estiveram no Maracanã para assistir ao maior Fla-Flu de todos os tempos, o último dos clássicos da era romântica dos estaduais cariocas.
Éramos minoria. Menos pessoas, mais ímpeto, vibração, esperança. Tínhamos menos dinheiro, menos badalação, menos holofotes, menos craques consagrados. Precisávamos de uma vitória e eles jogavam pelo empate. Tivemos dois jogadores expulsos justamente pelo árbitro Léo Feldman e eles apenas um. Quem apostaria em nós?
Imaginem: Messi ou Cristiano Ronaldo anunciados como reforço no Flamengo. Era essa a realidade. Romário, maior atacante que vi jogar, um ano após ganhar a Copa do Mundo e de ser escolhido o melhor jogador do planeta, foi contratado por nosso maior rival. Conseguem vislumbrar isso hoje? Inimaginável, não é mesmo?
Pausa para uma opinião pessoal: prefiro o Romário a esses dois outros…juntos. Retomando…
Eu era um menino de nove anos de idade, que iniciava minha carreira de Maracanã. Estive no Fla-Flu em que vencemos por 4 a 3, depois de viradas espetaculares dentro do mesmo jogo e estava pronto para me arvorar naquele jogo de nuances cinematográficas. Ali eu tive a certeza de que o Fluminense seria a minha paixão eterna. Como não ser depois daquele dia?
Tudo naquele campeonato foi memorável. Tínhamos Túlio no auge da carreira e mais falastrão do que nunca. Romário. Renato Gaúcho saindo do ostracismo e louco para mostrar ao Brasil que ainda era um jogador decisivo. O centenário urubu. O jejum tricolor. A nau vascaína em busca do tetra. O estadual ainda dividia importância com o campeonato brasileiro. Isso é difícil de explicar para a nova geração, que vibra mais com a final da Champions League do que com um clássico nacional.
O resultado todos sabem: 3 a 2 para o Fluminense.
O gol do título todos sabem quem fez: Renato Gaúcho, aos 41 minutos do segundo tempo (na súmula o gol é de Aílton)
Como fez: de barriga.
De Ronald para Aílton. Os dribles desconcertantes que deixaram Charles Guerreiro no chão. O chute que iria para fora, mas que teve a barriga de Renato para, caprichosamente, colocar a bola no gol de Roger.
O que mais me comove é perceber que esse jogo se mantém vivo dentro de cada tricolor há 20 anos. E sempre estará. Ele é o resumo do que o Fluminense representa em seus mais de 100 anos de história. É a vitória do desacreditado. É o grito de guerra de quem esteve acuado. É o sorriso desmedido do brasileiro. É a exaltação ao esforço. É o carnaval. É a luta do bem contra o mal. É o imponderável, o inacreditável, o inesperado, a surpresa.
Dizem que para cada tricolor no estádio haviam dois flamenguistas. Iludidos. Tínhamos Nelson Rodrigues, Cartola, Oscar Cox, Castilho, Calvert e toda a equipe que se manteve firme em Laranjeiras e venceu o primeiro Fla-Flu em 1912. Os mortos levantaram de suas tumbas, os enfermos de seus leitos. Éramos milhões, éramos o verde da esperança unidos em um mesmo propósito.
Para quem ainda não conhece a história tricolor, assista essa partida, ela está disponível na íntegra na internet. Nada poderá explicar melhor o que somos, o que fomos e o que sempre seremos: vencedores.
Panorama Tricolor
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