Hoje quero falar de sonhos. Penso naqueles que vivemos de olhos abertos e por vezes precisamos que alguém nos belisque para que acreditemos. Alguns tornam-se pesadelo em questão de segundos, outros duram um tempo indeterminado dentro de nós e há também os que não precisam mais do que um minuto para serem eternos.
Foram necessários seis meses de planejamento e economia para que eu pudesse viver um sonho: ir à Europa. Este foi o tempo prático, porém o tempo filosófico dessa viagem já vem da infância, quando por três meses minha mãe se mudou para Norwich, no sul da Inglaterra, para estudar. Ficamos eu, minha irmã e papai no Brasil. O sonho iniciava ali. Queria ir até onde eu só estive através dos cartões postais e da linha de telefone, que precariamente funcionava de madrugada para que ouvíssemos sua voz. Do outro lado da linha ela segurava o choro para nos dar força. Daqui eu pensava em como seria se todos estivéssemos juntos. Mais de vinte anos depois eu atravessarei o Atlântico no mesmo sentido, mas apenas a passeio, por prazer, por sonhar.
Quando, em 5 de dezembro de 2010, eu subi as rampas do Estádio Olímpico João Havelange, o sonho era de um vida inteira. Nasci em agosto de 1984. O Fluminense foi campeão brasileiro em maio daquele ano. Não vi. Não participei. Eu era apenas um projeto sendo desenvolvido naquela barriga materna que, 8 anos depois, atravessaria o oceano. Mesmo assim sonhei. Acreditei piamente que algum dia estaria presente em algo tão grandioso. O primeiro e maior pesadelo veio em 2008. O sonho existiu…em partes. Só não teve um final feliz.
Quartas de final: gol de Washington ao 47 do segundo tempo contra o São Paulo. Estouro de êxtase em choros convulsivos na arquibancada.
Semifinal: a queda do gigante argentino diante do novo conquistador das Américas. Em pensamento eu dizia “acabou a agonia. Agora é nossa vez e nada irá nos tirar essa vitória”.
A altitude de Quito tirou. O sonho virou pesadelo em segundos. Como aquilo escapara? Já não era nosso? Com que força eu me ergueria? Com novos sonhos… E eles existem, se renovam, reinventam-se.
Ele renasceu sob o comando de Conca em 2010, de Fred em 2012 e não sei de quem mais em algum tempo diante de nós.
O motivo que nos leva a comprar camisa, ingresso ou pay-per-view são os sonhos. Ele não vem a toda hora. Ele é sofrido. É assim que ele se faz valer. Mas ele vem.
Amanhã ao entrar no avião, mais um ciclo estará se fechando. Um sonho será vivido de olhos abertos. Realidade e imaginação perderão a linha tênue que as separam.
Até a volta!
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @nestoxavier
Imagem: www.criativodegalochas.com