A parceria pontual (por Rafael Rigaud)

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Amigos(as),

Preferi esperar o desdobramento final da taça GB e os cruzamentos das finais do nosso combalido Estadual para emitir alguma opinião sobre o futebol do Rio de Janeiro, não por dentro (nossa equipe sensacional do PANORAMA já o tem feito de forma magistral), mas do que se passa fora dos gramados.

Sobre tudo que está acontecendo com o futebol do Rio fora das quatro linhas, todo cuidado é pouco.

Todos sabemos que a FERJ há tempos não é isenta e isonômica e faz valer a “lei de Sarney”(“aos amigos tudo, aos inimigos o rigor da lei”) concedendo benesses e ajudinhas aos que a apoiam/obedecem/conduzem e sendo implacável na perseguição dos que a incomodam – e usando a lei, os prejudica de todas as formas possíveis e imagináveis.

Os acontecimentos recentes (imposição de redução pela metade no preço dos ingressos sem preocupar com o custo operacional que continuava o mesmo, retirada do direito de se ter mando de campo em clássicos, imposição de jogos fora do Rio de Janeiro sem a menor necessidade) mostram que somos inimigos do rei (seria mesmo o rei ou só um boneco de ventríloquo dizendo o que o verdadeiro comandante tem a dizer?) e que, por isso, estamos sujeitos a toda sorte de arbitrariedades e absurdos (sobretudo depois do retorno de um personagem do futebol do Rio que aparentemente estava morto e enterrado, mas foi ressuscitado pelos seus).

Porém, para fazer a defesa de nossos interesses, não podemos meter os pés pelas mãos.

A associação com o CRF contra os desmandos da FERJ é importante e faz-se necessária nesse momento, porém não podemos perder de vista o fato de que essa união é uma parceria pontual.

Não seremos sempre aliados ao Flamengo, sobretudo quando nossos interesses baterem de frente com os deles lá na Gávea. É preciso ter noção de que a convergência de interesses entre ambos é o que está fazendo com que a dupla Fla-Flu trabalhe em conjunto contra a Federação e os seus.

Apenas pra exemplificar isso: a discussão das cotas de TV e do modelo de distribuição das mesmas entre os clubes vai gerar polêmica em breve e, naturalmente, não vamos estar de acordo com o que eles querem (Flamengo e Corinthians querem o que está sendo chamado de “espanholização”, onde somente a audiência é levada em consideração e outros critérios são desconsiderados – outras ligas consideram também o rendimento do ano anterior, usando a tabela para tal, além de dividir uma parte da grana em fatias iguais, pois todos jogam a mesma quantidade de jogos dentro e fora de casa -; enquanto eles vão defender o que temos hoje, nós vamos reclamar mudanças e compor o bloco dos descontentes (por incrível que pareça, nesse momento, o pleito que vai coincidir com o nosso vai ser do CRVG que, certamente, vai reclamar do atual modelo de repasse).

A associação entre nós e eles é essencial para bater de frente com os desmandos da Federação e até mesmo romper com ela, mas isso não significa que iremos estar alinhados indefinidamente com eles.

Além disso, não podemos nos esquecer que, em matéria de política, o CRF não é nada confiável e que, apesar do interesse comum dele conosco de fundar uma nova liga, devemos “confiar desconfiando“ do nosso parceiro.

O histórico cheio de desonestidades (de “papeletas amarelas” ao “caso Heverton”, isso resumindo muito) não pode ser desconsiderado. Não estamos lidando com coroinhas que ajudam na missa, nem escoteiros de nove anos de idade. O nosso parceiro é capaz de muita coisa; por isso, nossa associação com ele tem que ser séria, porém bastante cuidadosa.

Jamais poderemos confiar plenamente (muito menos acompanhá-los em todos os seus pleitos), embora tenhamos que, em alguma medida, jogar com eles o mesmo jogo.

Costumo dizer que, em política, há diferenças entre “política de governo” e “política de Estado”(enquanto a primeira tá vinculada a eventuais preferências e/ou percepções de curto prazo e podendo ser influenciada pela ótica de quem ocupa o poder, a segunda decorre de um pensamento de longo prazo e que visa as necessidades fundamentais da instituição – em alguns casos, pode assegurar sua sobrevivência ou determinar sua falência).

Por exemplo, podemos escolher no Brasil assuntos dos mais diversos em que se pode tomar uma ou outra resolução em curto e médio prazo, mas não podemos escolher se vamos ou não investir no aumento da produção de energia elétrica: em 2050 fatalmente precisaremos demais disso, independente de quem esteja no poder.

Vejo nosso Tricolor errando em “políticas de governo” de forma sistemática (quem contratar para qual posição e por qual salário, vender ou não a joia da base, por quanto negociar espaços publicitários na nossa camisa, não fazer nossa defesa institucional quando somos atacados por terceiros etc.), mas também consigo enxergar que está acertando em “políticas de Estado”(recuperando a estrutura das divisões de base, pagando dívidas, melhorando a estrutura da sede e querendo reativar nosso estádio para pequenos jogos etc.).

Para mim, aliar-se ao CRF é um meio para se chegar a um fim (se livrar da FERJ e ter uma liga estadual minimamente profissional) e que, se for para em longo prazo e nos beneficiemos com isso, é algo que deve ser aceito se não com alegria e júbilo, ao menos com um mínimo de paciência e apoio.

É política de Estado para o Tricolor se ver livre desses parasitas da Federação.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: Ziraldo

#SejasóciodoFlu