Até quando? (por Paulo-Roberto Andel)

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Na folga de sexta-feira passada, hora do almoço, entre uma e outra página do meu novo livro, paro para espiar o programa esportivo. Na televisão, surge a Fernanda Maia, tão bonita que parece uma estátua de carne com as cores do Fluminense, apesar de sua notória e respeitável condição alvinegra.

A beleza passa num segundo. Que pena, Fernanda. A seguir, uma comovente entrevista feira por Nivaldo de Cilo com Macedo, ex-jogador de São Paulo, Santos, Vasco, Grêmio, futebol no exterior, diversos times grandes. O foco da matéria infelizmente é padrão: aos 45 anos de idade, jovem para a vida mas esgotado para o futebol, Macedo está falido. Gastou o equivalente a 13 milhões de reais. Tudo em vão. Triste, choroso, cai em si e percebe que a vida de jogador passou rápido.

No Fluminense, até os próximos dias, talvez, um caso evidente de problema futuro: Walter. O mesmo acontece em todos os clubes brasileiros: jovens, recém-saídos de comunidades carentes, sem qualquer amparo intelectual e psicológico, antes dos 20 anos de idade tornam-se superstars, com salários milionários, donos da verdade, incapazes de interpretar até mesmo os contratos que mal sabem assinar.

Em alguns poucos casos, dá certo. Alguém ajuda, alguém sagaz ao lado e o jogador sobrevive bem depois dos gramados. Mas aqui é a exceção: a regra é a tragédia.

Exemplos de craques do passado, como o imortal Garrincha, os goleiros Veludo e Pompeia, o zagueiro Juvenal não incomodam ninguém. No Fluminense mesmo, pensamos num craque como Valber. Marinho, fera do Bangu que hoje mora nas arquibancadas de Moça Bonita. Recentemente, a morte de Marinho Chagas. Mazolinha, herói alvinegro de 1989, hoje pedreiro. Caberiam centenas de nomes.

E o que dizer de casos como o do ex-goleiro Bruno? Ou Adriano, que a cada dia dá mais sinais de que um futuro infernal será uma realidade?

Até quando os clubes serão tão alheios, indiferentes e despreocupados, utilizando aqueles que escrevem suas histórias como mão de obra descartável e desprezível, sem oferecer qualquer apoio que não seja a opulência efêmera do dinheiro?

O futebol ainda deve aos seus empregados as condições mínimas de respeitabilidade.

No mínimo, um compromisso social, dado que muitas vezes são favorecidos com acordos e anistias fiscais justamente os que deveriam sedimentar a trilha dos jogadores. Ser herói de um time não é um trabalho comum. Mas a cada dia que passa, garotos, garotos e mais garotos são despejados nos times de futebol, todos em busca de um sonho, muitos a se perder pelo caminho da futilidade, poucos preparados para ter uma vida digna depois que os holofotes se apagam.

Garrincha chegou ao auge em 1962. Pompeia é da mesma época. Mais de meio século depois, o descaso do futebol para com seus cidadãos é retumbante. E descansa em berço esplêndido da indiferença. Infelizmente, mais Casa Grande & Senzala do que nunca.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @pauloandel

Imagem: google

1 Comments

  1. São histórias tristes, principalmente a do Pompeia, um ex artista circense, q vi jogar em minha infancia e foi um dos meus primeiros idolos, pois eu apesar de tricolor, tinha um pai americano e q aos domingos me levava para ver o América, não o mequinha, mas o América do incrivel Pompéia jogar e levar muita gente ao Maraca, triste

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