Sobre heróis (por Walace Cestari)

fred-fluminense-size-598Grandes histórias promovem grandes heróis. Feitos, conquistas e glórias. Escrever o nome na memória de uma instituição que atravessa os séculos de maneira pujante é, sem dúvida, algo para poucos. E estes semideuses, ao melhor estilo clássico, tornam-se paradigmas de comportamento, modelos que funcionam didaticamente para representar o que significam as cores envergadas e o escudo defendido.

Este tipo literário, chamado de herói clássico ou épico, servia como inspiração e pouco importava que seus atos e pensamentos afastassem-se de qualquer realidade identificável ou cotidiana de seus leitores e fãs. Era o símbolo da idealização social do comportamento humano e de sua forma. Corajoso, destemido, forte, belo e adorado. Alguém sem defeitos, poço de virtudes e de ascendência positiva em seus comandados, de forma a unir todo e qualquer grupo em prol da verdade, do bem e das conquistas gloriosas.

Entretanto, a literatura apresentou, após o desgaste deste arquétipo de protagonista, uma versão mais humanizada, verossímil e próxima à humanidade comum e mortal. Surgia o herói moderno ou contemporâneo. Alguém cuja identificação com o leitor se fizesse não mais pela admiração sobre-humana e inatingível da figura do herói, mas de suas incertezas, dúvidas e tormentos, fazendo-o tão humano quanto quem o admira. É o herói forjado na superação de seus sofrimentos, detentor de angústias internas que precisam de redenção.

Em ambos os casos, tais figuras conheciam perfeitamente seu destino. Era a luta pela glória, pelas conquistas, pelo respeito, pela verdade que os impelia. Ainda que houvesse problemas, argúrias ou dores a superarem-se, haveria sempre o norte: a conquista.

E assim, salvaram-se amores, cidades, nações. Pela idolatria dos grandes clássicos até os super-heróis da atualidade. Não pensem que as figuras de quadrinhos fogem desta estereotipação: o Super-homem comporta-se de forma tão épica quanto Batman apresenta seus problemas de herói moderno. Em comum, o senso do bem. Do caminho da justiça. Do respeito à coletividade. Do servir à sociedade e não colocá-la a seu serviço.

Os séculos da contemporaneidade viraram de ponta-cabeça os paradigmas de protagonistas. Surgia o anti-herói, figura que não se confunde com o vilão, pois este último atua exclusivamente no plano de vingar-se de toda a sociedade, construindo sua grandeza a partir de atos vis, ilegais e sem respeito às leis ou à vida alheia.

O anti-herói não é mau. Sua natureza não é da sordidez. Mas o anti-herói recusa seu destino de herói. Se o cumpre não o faz por vocação, mas por interesse pessoal, egoísta, pela promessa dos ganhos individuais. Desprovido das qualidades dos grandes heróis, não se pauta pelo respeito à coletividade, é a desmistificação de qualquer figura idealizada. É o herói preguiçoso e entediado como Macunaíma de Mario de Andrade, ou aquele que embarca em uma aventura pela promessa de riquezas, como o Jack Sparrow de Hollywood.

Temos em nossa casa um desses protagonistas. Bem pago. Comandante. Líder. Referência para os jovens. Alguém que deixará inúmeras viúvas em sua partida. Dono de carpideiras que choram por qualquer suspeita de seu abandono. Sem dúvidas, um protagonista da história recente do Fluminense.

Diga-me você, leitor, se o lugar guardado no panteão a este ator será o herói do épico, do moderno ou de um anti-herói. Quiçá não seja o de vilão. A escolha é sua. E o choro, livre.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri @wcestari

Foto: Rods (edição)

O ENGENHEIRO E A ESFINGE 19 11 2014

2 Comments

  1. Anti-herói, sem nenhuma dúvida. A viagem do céu ao inferno em cinco anos ou capítulos, como preferirem os editores que se interessarem por escrevê-la.

    ST

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