Informação.
A cada segundo recebemos uma quantidade brutal de novidades. A grande maioria delas indesejada e absorvida sem que conscientemente percebamos que estamos captando aquilo. Simplesmente lemos, vemos, ouvimos. O que seus amigos mais próximos postam no facebook, o que está na capa dos jornais na banca, outdoors, anúncios de tv. Claro que a tv e a internet têm mais alcance do que jornais e revistas.
É fácil perceber isso numa criança. Minha filhinha de quatro anos passa a querer todos os brinquedos que vê nos anúncios dos desenhos que vê nos canais infantis. Mas nós, adultos, esclarecidos, conscientes, críticos com o que vemos, somos superiores a isso. Nós não somos atingidos por essa espécie de propaganda ou sugestão, né?
Errado.
Num final de semana esportivo acontecem milhares de notícias e lances no futebol. Como o tempo de tv, o espaço dos jornais é curto, se não tivermos visto a partida completa, receberemos quase sempre o resumo do resumo. Apenas o “essencial”. E é esse essencial que passa em jornais na tv, que é escrito nas manchetes dos jornais. Que fica na memória das pessoas.
Ou seja, esse resumo é muito importante. Ele vai pautar as conversas de muita gente durante a semana.
Exemplos? Palmeiras levando uma sova histórica de 6 a 0 do Goiás. Pênalti discutível de Antonio Carlos do São Paulo a favor do Corinthians. Eu marcaria o pênalti. Andel não.
E no Fla x Flu? Qual o destaque? A falta de Fred antes do gol. Falta que não ocorreu, pois a bola não estava em jogo. Ainda assim, o destaque da partida foi esse. Assisti uma reportagem global na qual um repórter esmiuçava o lance, mostrando em câmera lenta o lance e concluindo, ao final, que não tinha havido nada de errado na jogada.
TV é mesmo um treco demoníaco. Assisti essa reportagem sentado, almoçando. Vi e ouvi o que era dito. Se estivesse num restaurante, na rua, a léguas de distância da tv, o que teria absorvido? As imagens. E o que elas mostravam? A “falta”. Se tivesse passado na frente da tv e olhado pra ela durante a reportagem, o que teria entendido? Exatamente o contrário do que a reportagem dizia.
Ou seja, ao fazer uma reportagem sobre uma falta que não ocorreu, cria-se um fato novo. Pra muita gente, que viu parte da matéria ou que não ouviu o que era dito pelo repórter, a reportagem criou a falta. Criou um debate em cima de um fato não ocorrido. Um lance desprezível que é alçado a destaque da partida, com um formato que perigosamente leva o espectador – principalmente aqueles com menos visão crítica – a conclusões erradas.
É muito pouco provável que quem assiste tv chegue a perceber que as imagens de uma matéria digam o oposto do que a matéria fala. Mas é muito provável que quem produza a matéria tenha essa consciência. Em assim sendo, este tipo de matéria é a mais pura e simples manipulação da qual somos vítimas. O problema é que nem sempre isso é perceptível. No mais das vezes não o é.
Em não sendo, qual o objetivo de levantar esse questionamento?
Exatamente o de despertar uma visão crítica do que se está vendo ou lendo por ai. Entenda que tudo o que você vê ou lê pode ter o objetivo deliberado de fazê-lo ter uma visão deturpada dos fatos. Isso ocorre todo dia na política. Cada veículo puxa a sardinha pra sua brasa. Da forma mais disfarçada possível, travestido de independência.
No futebol também é assim.
O problema é que a brasa é sempre pras mesmas sardinhas.
Zeh
Panorama Tricolor
@PanoramaTri
Foto: Jorge Rodrigues/Eleven/Agência Estado
ST****
A insídia é ferramenta habitual da Organizações Globo.
Só a Linguística de Noam Chomsky para nos fazer entender.
Parabéns por mais um excelente texto.
Você é mais otimista que eu.
O despertar da consciência crítica é mais complexa.
E, atrevo-me dizer, remoto ao Futebol.