eu e você, nós e vocês, uns e outros
as horas de uma longa noite e um dia de eterno confronto
o encontro
o jogo que nunca cerra as cortinas
mantendo as pálpebras esticadas, atentas
a rua guanabara ainda é aqui
– que venham as grandes lembranças – as horas das vitórias improváveis – nós contra o mundo de joelhos
hoje, não seremos tantos:
o ceticismo é nossa serenidade
não temos bandeiras favoritas
ou simpatias de ocasião
cada cadeira azul será uma lágrima de assis
– onde mora nosso gigante negão?
vocês tem as cores, o povo, as notícias mais promissoras e certo excesso de confiança que por vezes tropeça
vamos pensar em flávio num filme em preto e branco
ou renato em sua corrida solitária da vitória
todos olharemos para trás em busca das histórias que justificam nossa presença aqui
seremos os mesmos, os de sempre
em busca da camisa que faça a glória sozinha
tantos anos e anos e anos, vocês com a opulência das grandes onomatopéias
e nós com nossos discursos monossilábicos
as cores que se defrontam sem piedade, concedendo um armistício ao respeito e fé:
o capítulo de uma pequena grande história de garotos
e seu jogo de bola numa tarde qualquer da rua guanabara
até os milionários dias do maracanã
onde está nosso gigante negão?
as passadas derradeiras de assis?
os gozadores da lagoa
nossos corações não cessam
o fla-flu é macunaíma, casa grande e senzala, a cidade liberta
o fla-flu de asfalto e favela, litoral e trilhos, camelôs e madames
e cada velha cena dessa história há de voltar – os corações palpitam, os gigantes choram, as belezas exprimem cores, cores
o fla-flu é pátria que ainda precisa se libertar
nós e vocês, a vida em riste, os corações que sangram
e vozes que ecoam para sempre em rádios de mão
vozes que não se calam
porque falam de paixão –
gigante negão, orai por nós: teu elegante irmão de bola e você
nossas bandeiras ao vento celestial
enquanto fazemos da rotina a sina –
calar a outra grande multidão
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
Imagem: pra
em homenagem a Benedito de Assis e Washington César Santos
“gigante negão”, citação de Arrigo Barnabé
Fruto bastardo de nossa Glória
Cantemos outra vez o jogo das multidões
clássico da cidade entranhado no universo
por Deus escrito antes de Suas criações
e agora por nós celebrado em verso
Lembremos então o berço tricolor inegável
ao fruto bastardo na Laranjeira do Paraíso
e sua glória de football club inigualável
estendida às regatas de outro friso
E pensemos quanto grandiosos nós somos
honrados também no de terceiros hino
escrevendo da História os primeiros tomos
desbravando…
(…)
desbravando aos seguidores o destino
E um império que se agiganta no Mal
humilhado pela nossa vocação ao eterno
reduzido ao que é: cópia do original
no passado e no futuro hodierno
06/10/2011