O problema mora nas quatro linhas (por Walace Cestari)

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Moedas atiradas. Xingamentos. Time sem-vergonha. O caldo entornou, o bolo solou, a cadência desandou. Parece que é oficial: o Flu está em crise. No Campeonato Brasileiro, três tropeços contra equipes da parte de baixo da tabela; mas, a mais sentida, sem dúvida, foi a goleada em casa que nos eliminou da Copa do Brasil. Difícil que cinco gols sofridos frente ao América de Natal não deixasse suas sequelas.

O grande problema de qualquer oscilação em times tradicionais é que, quando o acúmulo de erros é grande, a pressão faz com que surjam inúmeras teorias que “explicam” a má fase. Falta de pagamento de direitos de imagem, mudança na premiação, falta de renovação dos contratos, entre outras razões, são levantadas como causas da falta de empenho da equipe.

Não sei se há exatamente um “descompromisso” por parte do time. Há, de fato, questões táticas que são impositivas à mudança de postura da equipe. O modelo de Cristóvão encantava o mundo do futebol nacional com toques rápidos, velocidade e marcação alta. Sim, fomos bem em vários jogos, mas não em todos. Tropeçamos contra o Criciúma e houve momentos em que, mesmo nas vitórias, não fomos agudos e insinuantes.

A crença em nossas qualidades pode levar a confiança a transformar-se em soberba. Imaginamo-nos bem melhores do que somos, ou do que podemos ser quando há dedicação. O talento solitário, que abre mão do esforço e da compreensão de que precisamos estar 100% no jogo, não funciona no futebol. É uma praga que assola equipes e expõe, da forma mais cruel, nossas próprias deficiências.

Jogamos um primeiro tempo razoável contra o Coritiba, no mesmo nível do final do jogo contra o Goiás, quando não precisamos de mais de vinte minutos de bom futebol para decidir a partida. Estávamos com o placar nas mãos, mas o Coxa buscou a superação e, diante de nossa passividade, empatou. Não assimilamos lição alguma. Culpamos um chute fortuito pelo tropeço em casa.

Sem dar atenção à luz amarela que se acendia, fomos “cumprir tabela” contra o América de Natal. Pagamos o alto preço da falta de respeito ao adversário. O abatimento e a dimensão da derrota levam à equipe à busca por sua própria identidade. Entretanto, isso ocorre de maneira um tanto desesperada, como se o que estava sendo feito fosse obra do acaso e que não há valor no que foi trabalhado.

As mudanças mais radicais que a necessidade impunha não devolveram a velocidade à equipe, não protegeram a zaga, não criaram condições para um domínio territorial e para a imposição de um “tiquetaca” tricolor. Fred voltou com vontade, mas não se pode, de forma alguma, estabelecer que qualquer jogador deva ser titular. Não é questão de culpa, mas a afirmação de um modelo de jogo que deve ser maior que qualquer individualidade.

Contra o Botafogo, o preço da invenção tática foi caro demais. A saída de Cícero desmontou um esquema que, naquela partida, se não funcionava para impor o Flu ao Botafogo, tornava o jogo parelho e não permitia a criação de espaços. Com a alteração, desmontou-se a proteção à zaga e fomos facilmente envolvidos.

No primeiro tempo contra a Chapecoense, voltamos a dominar, mas parece que nos faltou, aí sim, força para conquistar três pontos. O desânimo bate às pernas dos jogadores nos primeiros erros e as cobranças fazem com que tudo que dá errado seja ainda maior. Diante de um adversário que já provou se doar por demais quando joga em casa, isso fez toda a diferença.

Individualmente temos problemas. Fred precisa mostrar que pode ser um jogador com mais mobilidade. Sobis e Conca precisam acertar mais finalizações. Jean não pode ser tão vaga-lume nos jogos e Carlinhos precisa, de fato, estar mais ligado nos jogos.

Cavalieri vem falhando o que não falhou, mas a zaga desandou, deixando o goleiro exposto como não esteve nos últimos tempos. Elivélton sente o momento e não corresponde, desabando sob pressão. De Fabrício nem se fala, pois lhe faltam recursos técnicos para superar sua condição de desconfiança. A zaga ressente-se de Gum e Henrique, mesmo ainda não adaptado, precisa desdobrar-se em mais que zagueiro para o sistema defensivo funcionar.

Reclamar de Bruno é inútil. Na boa fase ou na má, joga o mesmo. Não há o que se falar sobre entrega e comprometimento. Mas Bruno é ruim tecnicamente. Não é uma fase. É um lateral que serve mais à marcação que ao ataque. E erra, por vezes, nessa marcação. Já Walter, apesar do talento que tem nos pés, não pode entrar em campo para um jogo de profissionais. Ainda mais quando há uma exigência de entrega física pairando no ar.

Independentemente de contratos, salários ou moedas, esse time pode render bem mais. Não são simples mercenários que passeiam ao gosto dos ventos. O esquema perdeu a liga, cabe a Cristóvão impor o ideal coletivo sobre as vontades individuais. Algumas trocas podem fazer muito bem, rotacionar o plantel é dar oportunidade a quem não vem sofrendo as críticas aproveitar a oportunidade. E o único remédio para crise no futebol é a vitória. Esperemos, em primeiro lugar, que alguns três pontos nos devolvam a tranquilidade. Assim, aos poucos poderemos acertar táticas e esquemas para figurar entre os melhores mais uma vez.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

Imagem: lancenet.com.br

SPRIT

7 Comments

  1. Parabéns pelo texto.
    Não sei se o Cristóvão não escala e treina a base porque não quer ou porque é impedido.
    Torço para, qualquer que seja a explicação, que ele pare de insistir com alguns que não vão pegar nem no tranco. Se não mudar, vai acabar sendo frito mesmo. Então, frito por frito, melhor ser frito fazendo o que acha ser certo e não o que recomendariam que fizessem.
    Só tenho uma grande dúvida. Fred. Não o vejo nem um pouco preocupado e empenhado em melhorar a situação.

  2. O que você ,walace,postou,coincide com tudo que penso da situação em que o flu se envolveu e o comentário do Fernando,foi muito pertinente.
    Parabéns aos dois,já que eu estava ficando descrente,que pudesse haver vida inteligente nas redes sociais,quando o assunto é futebol.
    ST

    1. Existe vida inteligente no Panorama Tricolor. Tanto de cronistas quanto de leitores.

      Mas, não sejamos tão descrentes. Há muita gente boa, e boa mesmo, pelas esquinas da internet.

      É que bom senso não é artigo que se acha a granel…

  3. Concordo em muito com vc, mas acho que Cristóvão perdeu a mão! Colocar Fred e Walter juntos foi a maior prova disso! É jogar com dois a menos na marcação e, pior, sem opções de contra-ataque, pois o Conca pega a bola e vai passar pra quem para arrancar! Acho que a solução é mais fácil do que parece, e está dentro do elenco! Cícero tem que ser segundo atacante ao lado do Fred e, no lugar o Walter, ou Sóbis, coloca o Edson pra ajudar a proteger a zaga jundo com o Valência, ou mesmo Diguinho!

    1. Deslocar Cícero para o ataque é uma opção bem ousada. Não sei se dois volantes marcadores é a solução. Contudo, concordo que Cristóvão deve tentar algo diferente…

  4. Bom texto, com a explicação fora da teoria da conspiração. Existe chance de o esquema não funcionar quando se faz dois jogos por semana, em virtude da falta de um preparo físico maior. Também espero que o Cristóvão detecte as deficiências, já que planejamento não é seu forte, pois levar os tiulares e colocá-los nos jogos contra o América, foi a sua grande falha, a qual ocasionou isto tudo que estamos vendo. ST

    1. Verdade, Fernando.

      Talvez o que falte ao Cristóvão seja exatamente esse toque de experiência que faz a diferença no evitar das crises e no lidar com elas. Mas, por outro lado, só se adquire essa experiência quando se enfrenta os problemas.

      Se o que nos mostra a conspiração é verdade e ele está sendo fritado como bode expiatório na briga Peter x Celso, não haverá muito o que fazer, pois não há ânimo para superar o que não mora nas quatro linhas.

      Acompanhemos a evolução do caso…

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