A Copa é sucesso total, no mínimo, dentro dos campos e nas arquibancadas. No entanto, na discussão especializada ou não – rádio, TV, mídia escrita, redes sociais – nem tanto. Fala-se muita bobagem. E como se fala! Atira-se para todos os lados. Afirmações categóricas e verdades absolutas são ditas. Sobre os mais diversos assuntos. Tirei férias para acompanhar a Copa. Estou exausto. Uma montanha de palavras desabou nesses 20 e poucos dias. De tudo que é tipo. Quase todas mais de uma vez. Algumas, dezenas de vezes, outras, centenas. Até o interessante tornou-se cansativo, batido, gasto excessivamente.
Uma coisa observei: com a necessidade de se preencher os imensos espaços reservados para a Copa, os assuntos esgotam-se e tornam-se recorrentes. Ainda, muitos dos profissionais não se preparam com informações necessárias para enriquecer as discussões, então, repetem, repetem. Inclusive, abobrinhas ouvidas por aí. Transformam deduções em fatos. Pior, criam fatos e os criticam veementemente. Pouco se viu de novidade. Na TV, por exemplo, onde o gasto com os preparativos é imenso, os mesmos programas, o mesmo formato, as mesmas opiniões, as mesmas ideias. Há casos em que é possível deduzir-se o que será dito por cada um dos participantes nas mesas-redondas.
O mundo da informação está um pandemônio, cansativo, desmotivador. O fracasso que seria a Copa, o pênalti dado pelo árbitro japonês, a mordida do Suárez, o choro dos brasileiros, a contusão de Neymar, as opções de Felipão, quem será o capitão. Enfim, além da exaustiva repetição, há a necessidade de se opinar, mesmo sem o necessário conhecimento ou um mínimo de raciocínio.
O engraçado é que passamos o dia inteiro vendo reclamações de que a mídia é manipuladora, que isso, que aquilo, no entanto, não se perde uma oportunidade de proliferar as manipulações plantadas do momento.
Isso não se resume ao mundo das comunicações. Está no nosso dia-a-dia. Por um lado a internet é um universo, no entanto, possibilita a falta de raciocínio, pois a “opinião” está pronta, basta pegar na prateleira cibernética e multiplicá-la. Estamos numa convulsão informacional. O futebol é só mais um dos ramos onde se vomitam notícias, opiniões e palpites sobre tudo, sobre todos. Se um brasileiro diz que está torcendo para a Argentina, chovem ofensas. Se odeia os argentinos, chovem ofensas. Usei a Argentina, mas se trocarmos o nome do país por um time, por um jogador, por uma religião, por um partido, por uma celebridade, é a mesma coisa.
É preciso tratar com mais carinho o leitor, o ouvinte, o telespectador, o seguidor, o amigo. Temos responsabilidades com as gerações futuras. E essas estão entrando nessa Torre de Babel cada dia mais cedo. No andar da carruagem, 1984 de Orwell está se aproximando rapidamente.
Panorama Tricolor
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