I
Feriado no Rio, metade das lojas abertas e a outra em portas cerradas. Sol e calor. Todos na expectativa dos jogos França x Alemanha (no Maracanã) e, claro, Brasil x Colômbia (no Castelão).
Por aqui, ruas de festa: franceses a plenos pulmões nas estações do metrô, os alemães sorridentes porém mais contidos.
Gatas de todos os países, jeitos, tamanhos, cores e qualidades que você possa imaginar, capazes de fazer os gays virarem o pescoço, muitas de amarelo em apoio à Nacional. Ruas e bairros tomados do Centro à Ipanema, praticamente uma legião de yellow blocks.
Ipanema, claro, muitos gays, gringos, camelotagem de verde e amarelo na Visconde de Pirajá, bares lotados e mar da tranquilidade no solar dos Sussekind. Pasteizinhos de carne na lanchonete da esquina de Teixeira de Melo.
Musicale, um dos endereços musicais da cidade, muitos discos de hoje e antigamente. A loja vazia, a galeria também. Numa pequena garimpagem, você pode dar de cara com Patti Smith, Yo La Yengo, Os Cariocas, Diane Schuur, Primal Scream e comprar tudo alucinadamente. Natural.
II
A divisa de Ipanema com Copacabana em silêncio. Feriado ensolarado, alguns restaurantes abertos, boas comidas, mais gatas e duas velhinhas animadas com seus cachorros de camisa padrão FIFA.
Júlio de Castilhos com Avenida Copacabana, toda a calma do mundo e lá vem Nelson Sargento, general do samba, carregando algumas compras. A simpatia de sempre. Alguém o fotografou, abraçou e ficou de enviar a imagem para o sítio do artista na internet.
Excelente a comida do restaurante Temperarte, na avenida mãe. Alguns clientes impacientes para torcer pelos azuis. Seria melhor se a panqueca de carne não fosse de bacalhau.
O motorista do táxi sempre fazendo as mesmas perguntas extraterrestres: de Copacabana à Cruz Vermelha via Barra? Ou pelo Jockey? Haja paciência. E subir até o oitavo andar com a luz do elevador apagada. Mergulhar na surpresa.
III
No primeiro tempo do Maracanã, a Alemanha dominou a pragmática e previsível França. Fez 1 x 0, podia ter conseguido mais, suportou bem o calor. Depois a coisa mudou: os franceses tentaram a sorte, o jogo ficou mais dinâmico, franco, o cenário podia ter sido mudado, os alemães podiam também ter acertado o wazari. Mesmo debaixo de colossal cansaço, os azuis quase empataram no fim, mas Neuer fez um defesaço de mão só, das melhores da Copa. A velha Alemanha mais uma vez na briga, com todo o merecimento.
IV
Aos vinte minutos do primeiro tempo, Thiago Silva protegeu calmamente uma bola que ia à linha de fundo. Ali, ele já era o melhor em campo, tinha marcado o primeiro gol do Brasil – com grande participação de Fred, puxando três marcadores no escanteio – numa joelhada cheia de garra – logo no começo -, era o senhor supremo da defesa – muito bem acompanhado por David Luiz – e estava acompanhado de vários outros leões: Maicon (substituindo Daniel Alves), Fernandinho – colado no cangote de James Rodríguez -, Paulinho – feito um decatleta. Oscar reapareceu, embora menos do que o esperado. Fred recebeu um passe: a bolada de Hulk na cabeça. Brigou, lutou, passou, buscou fora da área, só não recebeu. E Neymar deu dois passes para os companheiros. Uau!
A garra da Seleção na primeira etapa foi tamanha que a marcação por pressão na intermediária colombiana foi uma constante. E até fez esquecer temporariamente a falta de ligação do meio para o ataque, desta vez atenuada pela movimentação do time.
A Colômbia teve uma outra bola. Uma falta. E só. Pouco para quem buscava referendar o status de sensação da Copa. Pareciam nervosos demais. E James não teve sossego. Os dois times desceram encharcados de suor.
V
Se Thiago Silva fez jus ao apelido de Monstro, David Luiz o copiou com maestria. Em grande fase, o zagueiro acertou um chutaço, em cobrança de falta, no ângulo esquerdo e fez o 2 x 0 que poderia ser tranquilizador. Um chute daqueles que marca para sempre. Poderia.
Aos poucos, a Colômbia adiantou suas linhas, cruzou bolas, o Brasil cedeu espaço e cometeu pênalti a dez minutos do fim, by Júlio César sobre Bacca. Aí o (nervoso) craque James bateu o penal, confirmou a artilharia da Copa, descontou e ameaçou até empatar, ainda que a defesa tenha se safado firme, até mesmo com ajuda fundamental do voluntarioso Fred. Bola pro mato, luta, cera, o modelo Felipão como nunca. No fim, sufoco e drama, mas nenhuma conclusão grave.
De terrível, a contusão de Neymar, fora da Copa por causa da joelhada desse maldito Zuniga. E Thiago, o Monstro, fora da semifinal contra a grande Alemanha por conta do cartão amarelo. O time terá que superar a ausência do 10 com muita coletividade e vibração.
Paulinho, Thiago Silva e David Luiz foram monstros demais. Em casa, o Brasil assegurou vaga entre os quatro do mundo. Na próxima terça, sete oito Copas do Mundo em campo. Luta de doze rounds, acho que dá. Confronto inédito.
Espero de Zico uma retratação sobre as besteiras ditas. Pensando bem, não espero. Humildade é para os grandes.
Panorama Tricolor
@PanoramaTri @pauloandel
Imagem: pra/ nelson sargento