Ímpeto. Vontade. Apetite. Tudo o que parecia faltar na seleção nas duas primeiras partidas apareceu contra Camarões logo nos primeiros minutos. Marcação alta, pressionando a saída de bola dos africanos e, com menos de cinco minutos, o Brasil já havia criado uma situação clara de gol. Momentos depois, Neymar abria o placar e havia o prenúncio de que a caminhada seria tranquila.
Mas, com toda a voracidade vieram a ansiedade, a pressa e a afobação. Errando passes, a seleção deu espaço para a pior e mais descompromissada equipe que Camarões já enviou a uma Copa do Mundo, que apenas esboçava uma tentativa de despedida honrosa do Mundial. Foi então que os camaroneses equilibraram o jogo e evidenciarm falhas no sistema defensivo brasileiro que não são costumeiras à dupla de zagueiros. Depois de uma pressão em vários escanteios, o cruzamento rasteiro passa pela defesa canarinho e o placar acusava o empate.
Parecia então que seria drama. Porém o futebol é o esporte que contraria qualquer parecer. E parecendo ser o craque que esperamos que seja, Neymar chamou o jogo para si, driblou, passou, apresentou-se e, por fim, colocou novamente o Brasil à frente do placar, marcando seu quarto gol no mundial. O primeiro tempo fechava suas cortinas prometendo bonança na segunda etapa.
Fernandinho voltou no lugar de Paulinho e pareceu mexer no desejo de todo o time. Elétrico, o Brasil se lançava ao ataque e Fred desencantava na Copa, ampliando para o Brasil. Depois do gol, o que parecia um show voltou à normalidade: a tranquilidade passou a imperar no selecionado brasileiro de tal forma que, em certos momentos, parecia preguiça.
O que parecia, então, encaminhar-se para a administração, mostrou que o que parece não é. Os sucessivos gols do México na partida contra a Croácia assustaram torcida e equipe técnica. Senhor do jogo, o Brasil ampliou como em um prêmio a Fernandinho que entrou para, parece, não sair mais. Parecia que a fatura estava liquidada. E estava mesmo.
A seleção parece ter superado a desconfiança com muita vontade, mas mostrou menos virtudes que as necessárias contra o fraquíssimo adversário africano, que não havia marcado nem um gol sequer na Copa e que não treinava fazia quatro dias – quase turistas no país.
O Brasil carece de um meio campo mais criativo e mais opções de jogo; existe uma dependência excessiva dos pés de Neymar, que, mesmo individualista em demasia, continua desequilibrando. Até quando? A Canarinho deve ser bem mais que Neymar Jr., sob o risco de ser presa fácil para equipes que têm trabalhado bem a marcação e o contra-ataque. Ser é mais que parecer.
Nada disso parece preocupar Felipão, que tem o grupo nas mãos e cria sua nova versão de família, ignorando críticas e fortalecendo o moral de seus jogadores. Deve ser o bastante para vencer o Chile nas oitavas, em que pese nosso próximo adversário estar em plena evolução. Se o futebol dos chilenos parece mais organizado e até vistoso, a camisa do Brasil costuma jogar sozinha contra os andinos e parece que isso se repetirá em solo brasileiro. Mas, por enquanto, só parece.
Panorama Tricolor
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