A vida deveria ser justa para com aquelas pessoas que levaram alegria a milhares e milhares de outras pessoas. Mas não é.
Caso de Washington, o inesquecível artilheiro do grande time tricolor dos anos 80, falecido hoje depois de longa agonia por conta de uma doença degenerativa.
Ainda lembro dele quando era destaque na Revista Placar, jogando pelo time do Galícia. Depois atuou pelo Corinthians e no Inter, onde encontrou um sujeito que marcaria sua vida para sempre: Assis. Juntos também no Atlético-PR e, finalmente no Fluminense para toda a eternidade do futebol – o Casal 20 de tantos e tantos gols.
A Assis cabia marcar os gols das grandes decisões, assim cono Romerito; já Washington se encarregava dos gols de placa, casos contra o Vasco em mil dribles em 1987 e por cobertura na Copa União de 1988. E aquele golaço de voleio contra o Flamengo? Tudo isso é pouco para falar de um dos maiores artilheiros da história do Fluminense, tendo jogado num dos times mais vitoriosos da história do clube.
Apesar de ser alto e, consequentemente, muito explorado no jogo aéreo, Washington era um jogador clássico, elegante. Não era de muitos dribles, mas quando os utilizava, sai de baixo! Uma de suas jogadas prediletas era o corta-luz, geralmente numa das laterais do campo: abria as longas pernas, a bola passava, o marcador ficava atônito e lá ia o atacante com sua corrida elegante rumo ao gol adversário. E, mesmo sendo o artilheiro, era um jogador de grupo, de equipe: basta dizer de sua consagração ao lado do herói Assis. Eram uma dupla, vistos como o símbolo de um coletivo, sinais de outros tempos.
Fundamental também ressaltar a humildade e o respeito que Washington sempre teve com os torcedores do Fluminense, mesmo quando as coisas não iam bem. Afável, educado, nunca abriu mão do estilo de bom baiano: sempre tratou a todos com fidalguia, até mesmo quando foi indevidamente negociado. Ganhou o coração da torcida tricolor para sempre.
Diante da dor inevitável da morte, fica o consolo de que os ídolos são imortais. Washington é do tempo em que, mesmo num Brasil de ditadura, cantar “ão, ão, ão, na cabeça do negão!” nada tinha de racismo, mas de idolatria e amor.
Ah, aqueles eternos segundos driblando para um lado e para outro até aquele golaço contra o Vasco. Aquele toque lento por cobertura, a bola morrendo mansamente na rede, o Fluminense derrotando um dos maiores times vascaínos da história. E quem estava de fiel escudeiro do Carrasco Assis nos maiores momentos de glória tricolor? Washington, sempre ele.
Perdemos a primeira peça de uma grande máquina. Ganha o ataque dos céus: com Ézio e Washington no ataque – coincidentemente, um sendo o sucessor do outro -, qualquer jogo é um Ai-Jesus.
Panorama Tricolor
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