Força Flu? (por João Leonardo Medeiros)

força flu

Peço perdão aos leitores para, em meio à nossa recuperação no campo e fora dele, lançar uma coluna com um tema desagradável. Sinto, contudo, na obrigação de fazê-lo.

Lembro bem, da década de 80, do belo contraste entre a Força Flu, predominantemente verde, da Jovem Flu, predominantemente grená e da Young Flu, predominantemente branca. Achava (e era mesmo) lindíssimo, como eram cativantes sua capacidade de mobilização, encantadores seus cantos, incrível a dedicação de seus abnegados torcedores.

Hoje, como sabemos, duas das históricas agremiações do clube optaram por uma rota de colisão com boa parte da… própria torcida tricolor. Apontar as razões levaria tempo e conhecimento de causa, duas coisas que não tenho. Não poderia deixar, no entanto, de registrar o que vi e ouvi, de meus olhos e ouvidos, primeiro no Bar dos Esportes no dia do jogo contra o Horizonte, depois na rampa de descida do jogo contra o Figueirense.

Em ambos os episódios, o protagonista era a Força Flu, ou um de seus pelotões, batalhões, comandos, sei lá. Vinham pulando na rua lateral do Bar dos Esportes e cantando cerca de 100 meninos, alguns de fraldas, mirrados, nitidamente entre 12 e 14 anos. O que entoava nossa tenra juventude? Vejam a primeira bela canção:

“Segura a carteira/ Relógio e cordão/ Força Flu/ Só tem ladrão”

No outro episódio, na rampa de descida após o jogo contra o Figueirense, além da edificante canção, os jovens urravam, com fisionomia fechada:

“Ei, Legião/ Vai tomar no cu”

Nobres tricolores: ao que saiba, a Legião é uma torcida do Flu (obs: apresenta-se como um “movimento”), como teoricamente ainda o é a própria Força Flu. O dia era de festa, goleada, estavam todos felicíssimos. Mas, ao que parece, o jardim de infância da Força vem sendo ensinado à base do ódio, da violência, do ressentimento. O time que se dane, parece ser a lição, desde que a Força vença. E vença para quê?

Bom, considerando que a “Força Flu só tem ladrão”, depreende-se que vencer significa roubar mais, quem quer que seja, tricolor ou não. Não sou eu quem diz. São os próprios meninos da Força. Só espero que tenha sobrado, na Força, alguém da velha guarda e que ensine aos molecotes que não é bonito gabar-se de ser ladrão, que roubar ou furtar pelo simples prazer de subtrair algo de outro raramente tem a capacidade de provocar uma mudança no estado social de quem rouba ou na desigual sociedade que produz ladrões.

Para um tricolor, para dizê-lo com sinceridade, entoar aquela musiquinha ridícula é completamente inconcebível, inadmissível, incompatível com a tradição de nosso clube. Entoar a outra, contra uma de nossas torcidas, é assumir a posição de inimigo do clube, pois as torcidas são em favor dele (ou deveriam ser). Se não houver mais ninguém capaz de ensinar aos meninos, que me perdoe a histórica torcida (que, no caso, já teria ido para o inferno), mas terei de concordar com Fred e apoiar a política de sufocamento que, certamente, atingirá todas as torcidas organizadas do clube.

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

NOTA: Atendendo os critérios de democracia, liberdade de expressão e pluralidade que sempre pautaram esta casa, bem como o trabalho dos cronistas e colaboradores, o PANORAMA TRICOLOR oferece pleno espaço para o contraditório que se faça justo e necessário publicar em relação aos pontos de vista livre e individualmente expressos por nosso colunista João Leonardo Medeiros, bem como as demais, bastando tão somente o respeito às regras básicas de urbanidade. Esta é uma casa de todos os tricolores, incluindo as centenas e centenas de membros de torcidas organizadas que fazem jus ao respeito como pais, estudantes, profisssionais e pessoas que não estão de forma alguma alinhadas com práticas criminosas.