Manifesto contra as drogas (por João Leonardo Medeiros)

Não financie a imprensa marrom.

Antes de ler, observe com atenção as fotos que ilustram as colunas. Como pode ver, são as capas de O Globo dos dias 06/05/2013 e 14/04/2014.

Globo06_05_13 Globo14_14_14Não gosto do Botafogo. Na verdade, tenho certo nojo do Botafogo, principalmente da permanente presunção de sua torcida de ser o clube mais limpo que os outros, mais perseguido que os outros, mais sofrido que os outros. Quando alguém lembra de Emil Pinheiro, de Montenegro e suas pesquisas mágicas do tamanho da torcida, da garfada clássica no Atlético Mineiro, entre outras façanhas, ainda assim os autodeclarados coitadinhos respondem com raiva, em geral, sendo um tricolor, atacando com as bazófias da Fla-press, a quem eles sempre recorrem contra nós.

Mas, certamente, há inúmeras coisas que gosto muito menos do que o Botafogo, dentre elas, em primeiríssimo lugar, injustiças e cinismo. Chegamos, finalmente, às capas de O Globo. Atenção para a manchete da parte esportiva da capa que noticia, nos anos de 2013 e 2014, os campeões estaduais dos respectivos certames: “Botafogo levanta um estadual esvaziado” em 2013 e “Fla é campeão do Rio” em 2014.

Fiquei com vergonha e ódio da manchete de 2013. Os dois sentimentos têm a mesma base. Guardo capas de jornal das grandes vitórias e títulos do Fluminense desde 1980. É um hobby que cultivo e que me enche de orgulho. Jamais guardaria aquela capa de 2013 se o Flu tivesse abocanhado o título, principalmente da forma como o Botafogo o venceu.

O Botafogo venceu os dois turnos de forma inapelável, jogando um belo jogo, exibindo, para nós, o ainda vistoso de Clarence Seedorf. Foi muito injusto que Seedorf tenha, no Brasil, conquistado apenas este campeonato tão mal organizado. Muito mais injusto foi depreciar a conquista no dia em que as crianças e adolescentes de todas as idades queriam celebrá-la.

Demorou um ano e veio o cinismo. O campeonato de 2014 foi bem mais esvaziado que o de 2013. Não deu para esconder. O nível técnico foi terrível. As semifinais foram de dar pena. As finais foram as piores que eu me lembro de ter assistido. Atenção: o Fluminense jogou as semifinais e foi bisonho.

Não é questão de clube. É questão de reconhecimento. O campeonato foi tão ruim que, durante o torneio, três dos quatro times que passaram às semifinais fizeram uma campanha contra a federação. Mas… venceu o queridinho, venceu o Flamengo.

Venceu como? Bom, é verdade, fez uma grande Taça Guanabara (considerando o “nível” do campeonato), embora tivesse tomado de 3×0 do Fluminense e garfado o Vasco num jogo em que sua trajetória ascendente poderia ter se invertido. Mas o Flamengo foi realmente melhor que os outros no turno e massacrou a coitadinha da Cabofriense na semifinal.

Veio, contudo, as duas partidas finais. O Vasco foi melhor nas duas. Na primeira, teve um jogador expulso, o único de um jogo violentíssimo. Antes da segunda, o árbitro do queridinho da imprensa – portanto, o árbitro da imprensa – foi denunciado por sua própria esposa. Na Fla-press saiu que ela era vascaína, mas já foi flagrada em meio à torcida do Flamengo, certamente passeando. Vejam aqui a interessante matéria e a foto ao final: http://aqipossa.blogspot.com.br/2014/04/flapress-tenta-manipular-declaracoes-da.html. Adivinha o que aconteceu? O Flamengo ganhou com um gol bastante irregular.

Voltemos ao jornal. Seguindo a linha editorial, a matéria da parte esportiva da capa deveria, por coerência, ser: “Flamengo ganha roubado o campeonato estadual mais esvaziado de todos os tempos”. Isso em letras garrafais, como estavam as que humilhavam publicamente o Botafogo e impediam suas crianças de guardar a recordação com carinho, inclusive beneficiando o próprio jornal.

A necessidade de defender o Flamengo é, entretanto, imperiosa e cala mais alto. Que se danem os outros. Tascaram: “Fla é campeão do Rio” em 2014 e colocaram uma sentença-ressalva, em letras menores, com o seguinte texto: “Gol no último minuto e em impedimento”. Não se enganem: essa sentença não tem a força de uma manchete, nem está lá para confessar que a conquista foi uma vergonha. A ressalva está lá como antídoto contra aqueles que poderiam acusar, como estou fazendo aqui, o jornal O Globo de ser Flamengo até morrer, para seu melhor prazer.

Pois bem: ação e reação. Assino O Globo porque, sendo de esquerda, julgo importante compreender o raciocínio conservador, ainda que isso seja cada vez mais autoflagelante, numa época de Constantinos, com seu raciocínio tortuoso e sua falta de elegância. Deveria ter cancelado O Globo quando ele se posicionou contra a greve dos professores do Estado, do Município e depois das Universidades, de que eu mesmo participei. Deveria ter cancelado quando Constantino celebrou publicamente a morte de Niemeyer. Deveria ter cancelado a cada coluna do senhor Renato Maurício Prado.

Aturei estoicamente, pacientemente, lendo aquela merda toda, engolindo sapo atrás de sapo. Agora chega, não? Não cancelei ainda minha assinatura porque estava esperando escrever esta coluna. Gostaria de propor um cancelamento coletivo, a partir de segunda-feira.

Para aproveitar a campanha, sugiro que todos justifiquem o cancelamento da mesma forma: não financio o tráfico de drogas tão pesadas como as colunas que o senhor Renato Maurício Prado tem escrito em favor do Flamengo e, principalmente, contra o Fluminense.

Quem vem comigo?

Panorama Tricolor

@PanoramaTri

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