Deco, sempre Deco (da Redação)

deco agora

Nos últimos dias, foi divulgado que o laboratório brasileiro Ladetec errou no exame antidoping que flagou o ex-jogador Deco, craque bicampeão brasileiro pelo Fluminense, abreviando-lhe a carreira conjuntamente com os problemas físicos enfrentados por ele há tempos.

Geralmente o que acontece no Brasil é simples: lincha-se a pessoa e, se ficar provada a inocência dela… ah, fazer o quê? Se for ligado ao Fluminense, melhor ainda para os nefastos: destroi-se e pronto.

Deco pode ter sido mais um dos elementos atingidos pelas incríveis coincidências contra o Fluminense desde a conquista do tetracampeonato brasileiro em 2012.

Por coincidência, um torcedor do Flamengo era o procurador da PGFN na ocasião da asfixia financeira do clube, que dura até hoje e trouxe sérios prejuízos ao cotidiano financeiro tricolor.

Depois, Deco é envolvido num escândalo de forma irresponsável que contribui negativamente para o fim de sua carreira.

No campeonato brasileiro de 2013, outra coincidência enorme foi o pênalti mal-marcado a favor do Criciúma contra o São Paulo na penúltima rodada. Não precisamos falar de André Santos e Heverton.

Em homenagem a Deco, seus brilhantes serviços prestados ao Fluminense e seu ano brilhante de 2012, o PANORAMA reproduz uma coluna de nosso cronista Paulo-Roberto Andel publicada ano passado.

Deco é dez. Deco é 20!

“Um dos jogadores mais talentosos que já vestiram – e vestem! – a camisa do nosso Fluminense desde 1978, ano que cito por ser a minha “estreia” nas arquibancadas.

Gênio da bola, príncipe do passe, dos lances de efeito, matadas e dribles desconcertantes.

Deco faz jus a outros craques que nos defenderam perto do encerramento da carreira, caso do monumental Gerson. Quem vê seus lançamentos de quarenta metros pensa em Delei. Ao mesmo tempo, ele é uma síntese de nossos tempos modernos em conjunção com o passado admirável.

E todos sabemos que são os momentos derradeiros – mas não os últimos, numa saudável contradição – de uma carreira enorme, espetacular e que deu muito brilho ao Fluminense. A espetacular partida contra o São Paulo em Barueri, nos 4 x 1 que nos encaminharam para o título monumental em 2010. O golaço contra o América do México na virada por 3 x 2, Libertadores 2011. Aquele gol contra o Vasco na final da Taça Guanabara de 2012, que abriu caminho para o nosso ano de glórias. E quanto Deco não teve de importante na campanha do tetracampeão em 2012 também? Tudo.

Agora surgiu o problema da furosemida, talaminodricafeína, qualquer dessas coisas e porcarias que são tão proibidas pelo “bem do esporte”, enquanto hipocritamente sabe-se que outras substâncias não “aparecem” regularmente em exames – alguém tem dúvidas de que, até pela mazela social que é em todos os setores, o consumo de cocaína aparece muito pouco em casos relacionados ao futebol? Pois bem. Mas não é o caso de justificar um problema com outro. É outra coisa.

Deco fez e faz muito pelo Fluminense, mesmo que hoje não esteja no melhor de sua forma e, infelizmente, perto do fim da carreira – e não NO fim, ressalte-se. Ainda não teve um 2013 à altura de 2012, mesmo com alguns momentos geniais. Eu queria falar aqui apenas de justiça ao craque. De gratidão. Sim, a ele sou muito grato por tudo o que já realizou pelas nossas cores. E como teria sido bom se tivesse vindo dois ou três anos antes. Cracaço.

Amanhã teremos uma ideia mais clara do que vai acontecer.

No entanto, uma coisa é certa: se os caminhos da lei obrigarem Deco a encerrar a carreira, quem perde muito é o talento do futebol.

Entendo perfeitamente meus companheiros torcedores que, por mais de uma razão, andam amuados e até dizendo que Deco já deveria ter se aposentado. Outros falam de Felipe. Tempos atrás, alguém queria até a aposentadoria de Fred. A passionalidade é uma característica presente em muitos torcedores e isso é compreensível.

Apenas discordo.

Miles Davis foi um dos maiores gênios da música. Quando diziam que poderia entrar em decadência no fim dos anos 60, criou o jazz-rock, estabeleceu conceitos de vanguarda que duram até hoje, abriu caminhos para o hip-hop e faleceu saudado como um verdadeiro superstar do rock. No entanto, em tudo o que fez, Miles jamais abdicou do jazz.

E o que Deco fez e faz nos gramados é jazz. Às vezes difícil de explicar, mas fácil de sentir: uma jogada inesperada, surpreendente, desafiadora de conceitos e exigente de toda perícia. Aos que tiverem dúvidas, o YouTube é franca testemunha. Jazz é para sentir, é o pulsar nas veias.

Tomara que ainda não seja o fim.

A estrada ainda não acabou.

É claro que tenho minhas esperanças: diziam que em 2011 Deco estava acabado e ele fez um 2012 espetacular de cabo a rabo. Por que não um raio cair duas vezes no mesmo lugar? Afinal, isso tem a ver com a eterna sina do Fluminense. Do perna-de-pau, nunca se pode esperar muito; do craque, sim.

Um jogador do quilate de Deco não merece ter sua carreira ceifada dessa maneira, é o que penso. Mesmo que ela ainda dure pouco, talvez até o fim deste ano. Mesmo que tenha acontecido um erro. Seria injusto demais. É melhor que ainda tenha seis meses a mil por hora, o que não é impossível.

Para alguns, a águia do Atlântico Sul parece destinada ao pouso final.

Eu sou do contra: ela ainda está em pleno voo e o horizonte há de trazer bons presságios.

E se a estrada ainda não acabou, o que dizer dos ares?”

http://www.panoramatricolor.com/deco-por-paulo-roberto-andel/

Redação

Panorama Tricolor

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