50! (por Paulo-Roberto Andel)

Não tenho como não achar graça das entrelinhas nas manchetes de hoje, por ocasião da grande vitória tricolor no Beira-Rio contra o Internacional: “Fluminense luta para manter a liderança”, “O Atlético tem um jogo a menos” e outras. Claro, o time mineiro cumprirá a partida faltante ainda no fim deste mês, justamente contra o tradicional “entregador” de jogos que possam prejudicar o tricolor – a diferença desta vez é que, por conta da tabela de classificação, o “entregador” não poderá fazê-lo, sob risco de ceifar o próprio pescoço. Assim sendo, os três pontos pré-assegurados simplesmente não existem – e o Fluminense é líder sim, por méritos próprios.

Vencer nos domínios de Porto Alegre constitui um dos maiores desafios de qualquer competição de futebol. Ontem não houve fuga à regra, mesmo o Inter sem meio time; o Fluminense também tinha seus desfalques dos últimos jogos, excetuando-se as voltas de Fred e Euzébio. Para variar, perdemos Wagner logo no começo da partida e Abel escolheu Diguinho – felizmente, o volante deixou de lado as recentes atuações infelizes e compôs bem o meio-campo. Na frente, Fred esteve mais paradão e Wellington Nem foi um azougue, deixando de lado certos momentos de falta de objetividade e priorizando o gol, o ataque, tal como fez contra o Santos. Mais uma vez, os dois foram decisivos: Nem arrancou da linha divisória central até a área, passou na medida e Fred mostrou a categoria de sempre, tirando Muriel da jogada e abrindo o marcador aos 28 minutos de jogo. Bem antes disso, o Fluminense já mostrava sua força em jogadas de ataque e era superior em campo: poderia ter marcado antes, como no lindo drible de Fred em Moledo e o próprio Wellington Nem. O Inter também teve suas chances, mais concentradas em Dagoberto (este, violento e irritante em campo), todas devidamente rechaçadas pela zaga campeã de 2010. Depois do gol, o Fluminense exerceu seu tradicional comportamento de oferecer relativo campo ao adversário para explorar contra-ataques, mas o Inter não foi tão incisivo quando se imaginava, exceto na catimba e conturbação. Feita a administração e com um bom resultado nas mãos, o tricolor desceu satisfeito para o vestiário no intervalo – a vitória consolidaria a liderança independentemente de uma eventual vitória do Atlético Mineiro sobre o Palmeiras.

O segundo tempo ofereceu mais uma rodada daquele que é um campeonato disputado à parte dentro do brasileiro; aquele para se saber quem é o pior árbitro do país. Tal disputa hoje é muito mais acirrada do que a dos times em campo. Antes da lambança, Euzébio salvou de cabeça um gol certo de Dagoberto, com a bola indo no ângulo direito. Minutos depois, o lateral Nei foi merecidamente expulso por mais uma falta sobre Nem. Logo em seguida, numa disputa entre Índio e Euzébio, ambos se agrediram, mas a “lei da compensação” prevaleceu e apenas o zagueiro tricolor foi expulso.

Com 10 jogadores em campo, os espaços aumentaram, mas o predomínio coube ao time mandante, mesmo que sem grandes finalizações de perigo: a maior parte delas adveio de “chuveirinhos”. O Flu se defendendo como podia, o Inter atacando como podia. Estávamos recuados demais, erro já cometido noutras oportunidades do passado, mas Abel estava atento e tentou reparar os danos colocando Samuel e Wallace nos lugares respectivos de Nem e Carlinhos. Isso não chegou a melhorar o time técnica e ofensivamente falando, mas ofereceu maior combatividade do tricolor no jogo. Enquanto isso, Dagoberto foi useiro e vezeiro em simular pênaltis, dividir bolas com deslealdade e só não é incrível que não tenha sido expulso porque a arbitragem brasileira, com toda intensidade, luta para se tornar cada vez pior. Contudo, a força do Fluminense tem se revelado a cada provação que passa: os jovens dão conta do recado e, mais uma vez, Edinho superou as expectativas em campo, tanto como volante quanto zagueiro, por ocasião da expulsão de Euzébio. Gum, pura raça. Carlinhos, idas e vindas. Jean, pressão constante. Dos nossos, Nem foi um gigante, o melhor em campo: comandou o ataque, brigou o tempo todo e não deu tréguas à defesa colorada. Fred voltou devagar? Que seja assim: com um gol dele por jogo, chegaremos ao título.

Não foi a partida de nossas vidas, não foi o primor de beleza técnica, mas foi o possível: uma vitória de luta, de coragem e de um time que dá todos os sinais de que quer ser campeão. Uma vitória cerebral, racional, precisa, retrato do equilíbrio do grupo de jogadores hoje nas Laranjeiras.

Mais uma vez, algum boboca há de reclamar do “futebol feio” ou da “burrice” de Abel – e o destino lhe pregará um vistoso chapéu de cone à cabeça por conta do mau uso da tabuada. São trinta e oito jogos, faltam quinze. Quantas vezes no passado não chorávamos pela impossibilidade de chegar aos 50 pontos num campeonato brasileiro? Hoje, estes 50 pontos não são ânsia para se escapar de um rebaixamento, mas sim a pavimentação do caminho rumo ao título. O Fluminense é líder, os bobocas lamentam. É claro que todo tricolor que se preza não comemora nada antes da hora, nada está certo, ainda falta muito na estrada e melhorar é preciso; contudo, como não se sentir feliz com a campanha de agora? Como não imaginar que progrediremos ainda mais com a volta de um jogador como Deco? Se Fred, recém-retornado de problema físico, voltou decisivamente, como não será quando estiver na ponta dos cascos?

Os dois próximos merecem vigilância: Portuguesa fora, Atlético Goianiense em casa. Mais seis pontos de luta, mais dois degraus rumo ao topo definitivo. O fato de não serem “times da moda” não lhes tira o respeito e dignidade. Favoritismo só vale quando confirmado em campo.

Agora, que o Fluminense mostra em campo a pegada dos favoritos ao título, é algo tão evidente quanto o azul do céu ou o negrume da noite. Continuamos caminhado em busca do sonho. Ele é plausível, ele é possível. Real.

Paulo-Roberto Andel

Panorama Tricolor/ FluNews

@PanoramaTri

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Contato: Vitor Franklin

2 Comments

  1. Ainda houve um penalti sobre o Wellington Nem.

    Os próximos 3 jogos serão contra times da parte de baixo da tabela (portuguesa, atlético/GO e náutico), o Flu tem condições de vencer as 3, mas precisa entrar com força total como foi contra o vasco. É bom lembrar que o tetra escapou ano passado justamente contra equipes que estavam na rabeira e recentemente uma vitória certa escapou diante do figueirense.

    Quarta-feira portanto, mais uma final de campeonato.

    Impressionante como se superdimensionam as coisas no menguinho, Ronaldinho que não jogou nada no framengo, chegou a ser convocado para a seleção (incluindo os estrangeiros), jogou de titular e seria o camisa 10 na Copa, agora que foi para o atlético e está comendo a bola, não entra na lista nem para ser reserva da seleção com apenas jogadores que atuam no país.

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